Publicado em 20 de dezembro de 2019 às 15:54
Para resolver impasse com bancos e destravar o novo Minha Casa Minha Vida, o governo propõe que o beneficiário do voucher da construção, o modelo que deve ser voltado às famílias mais pobres, pague pelo custo que as instituições financeiras terão para operacionalizar o formato. As informações foram dadas pelo ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, nesta sexta-feira (20).>
O voucher da construção deve substituir a faixa 1 do atual Minha Casa Minha Vida, segmento marcado por elevada inadimplência dos beneficiários - está em 34,9% - e que teve um ano marcado por atrasos nos repasses a construtoras.>
A ideia é que o voucher, de cerca de R$ 60 mil, seja distribuído a famílias com renda até R$ 1.200 - abaixo da atual faixa 1, que está em R$ 1.800. >
Nesta sexta, Canuto admitiu que o custo para os atores financeiros que poderiam participar da operacionalização do voucher está muito alto para o padrão que o governo gostaria. "Qualquer custo que supere 10% o governo já torce o nariz", afirmou.>
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Pela proposta, o custo será descontado dos R$ 60 mil que a família receberá para comprar, construir ou reformar o imóvel. "O terreno não está nesse valor. Esperamos que exista uma parceria de município, estado e União", disse o ministro. A expectativa é que a doação reduza o custo que a família teria com a obra, por exemplo.>
"Ou a prefeitura complementa com mais R$ 10 mil, ou as famílias se associam para reduzir o custo da construção", sugeriu.>
A proposta deve agradar às instituições financeiras. A Caixa Econômica Federal, que gerencia o programa, administraria também os vouchers, assim como outros bancos. >
A Caixa já sinalizou ao governo que o sistema é inviável porque, da forma como a proposta foi concebida, o banco poderia ser responsabilizado caso houvesse desvios de vouchers. Também existe a preocupação com o surgimento de um mercado paralelo de venda do cupom.>
Mesmo ficando com um pedaço dos recursos de vouchers para remunerar esse serviço, o risco operacional seria alto demais para o banco, mesmo problema identificado por instituições privadas, que não consideram o novo modelo atrativo o suficiente para compensar eventuais riscos.>
Pela proposta em estudo no ministério, o dinheiro do voucher não será entregue para a família diretamente. Um engenheiro será responsável por apresentar um projeto, que deverá ser aprovado pelo governo. A proposta do ministério é que o depósito seja feito diretamente na conta do profissional responsável pelo projeto.>
Para o ministro, o formato resolve um problema identificado: o público-alvo do faixa 1, segundo Canuto, não está acostumado com bancos.>
Canuto descarta fraudes no modelo. "Eu não vou acreditar no engenheiro. Vai ter análise, mesmo que superficial. Vai haver fiscalização por amostragem, no final, para reduzir o custo", afirmou. "Temos uma presunção da boa fé, de que os engenheiros formados tenham condição de fazer o projeto e sejam pessoas honestas".>
Para evitar problemas, uma parte dos recursos será disponibilizada na conta do engenheiro no início do projeto e o restante, no final. O beneficiário que considerar que há algum problema em sua obra poderá reclamar. "Se o beneficiário não concordar com o que está sendo construído, não tem repasse de recursos", disse.>
O novo programa ainda não tem verba no Orçamento de 2020. Para a atual faixa 1 do Minha Casa Minha Vida, foram alocados R$ 2,1 bilhões, que garantem 233 mil obras que estão em construção -ou seja, o valor não prevê novas obras.>
Na faixa 1, 90% do valor do imóvel são subsidiados com recursos do Orçamento. Há estudos para que o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) assuma essa fatia, o que liberaria dinheiro para o novo programa.>
A faixa 1 do Minha Casa Minha Vida tem enfrentado problemas em 2019, com dificuldade nos repasses a construtoras e obras atrasadas ou paralisadas. >
Para manter as obras em execução no ano, Canuto foi ao Congresso pedir a liberação de um crédito de R$ 620 milhões. Depois de adiamentos, o projeto de lei foi aprovado na terça-feira (10).>
A desidratação do Minha Casa marca o fim de uma política do governo dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, que implementaram o primeiro programa para baixa renda com recursos do Tesouro a fundo perdido.>
Até hoje, mais de 4 milhões de moradias foram construídas com desembolsos de R$ 113 bilhões, de 2009 a 2018, pelo Tesouro Nacional.>
Estimativas do governo indicam que cerca de metade do déficit habitacional do país reside nas faixas de renda entre 1 e 3 salários mínimos.>
A projeção é a de que seria preciso erguer mais de 9 milhões de moradias nos próximos dez anos para atendê-las e pelo menos um quarto das unidades teria de ser destinado às famílias com até um salário, alvo da faixa 1.>
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