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Paralisia de processos no TJES: relatório do CNJ expõe falhas críticas

Documento produzido após inspeção realizada em setembro aponta desafios para Janete Vargas Simões, que assume Tribunal nesta quinta (11)

Vitória
Publicado em 10/12/2025 às 03h30
TJES Tribunal de Justiça
Crédito: Arte - Camilly Napoleão com Adobe Firefly

Relatório de inspeção do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), realizado na primeira quinzena de setembro nas unidades da Justiça do Espírito Santo, aponta falhas críticas que afetam a celeridade e a segurança dos processos judiciais, com impacto sobre a população, especialmente a mais vulnerável.

Foi identificado desde a paralisia de processos que tratam de violência sexual contra crianças até a demora em dar andamento a sentenças finais, o que pode levar à anulação de punições.

Situações que estão no rol dos desafios a serem enfrentados pela nova presidente do Tribunal de Justiça, Janete Vargas Simões, que toma posse nesta quinta-feira (11). Em entrevista, ela avaliou que o relatório aponta um “cenário complicado”.

“Em algumas comarcas será necessário uma intervenção. Alguns municípios também vão demandar um olhar diferente para algumas áreas, como a Vara do Júri e a de Violência Doméstica, até pela população local”, disse, citando como exemplo a Serra.

Um dos pontos do relatório aborda a abrangência territorial ampla de algumas unidades que atendem a Grande Vitória, onde vive a metade da população estadual, o que ocasiona um grande número de processos.

A desembargadora já sinalizou que pretende melhorar a produtividade da Corte estadual. "Eu prometo que, no final do próximo ano, teremos índices melhores — muito melhores —, tanto no primeiro quanto no segundo grau. Pode anotar", disse a nova presidente do TJES.

Os pontos mais críticos

Seis pontos do relatório estão entre as situações mais críticas, afetando diretamente a população, e que foi recomendado uma ação mais efetiva do TJ. São eles:

  • Paralisia de processos da Veca - A inércia atinge  casos  da unidade especializada em crimes contra a criança e o adolescente. Foram encontrados processos paralisados por períodos que chegam a 576 dias. “Essa demora compromete a integridade da prova e favorece a impunidade”, destaca o documento
  • Morosidade em perícias de casos de pessoas de baixa renda - São processos que envolvem a Fazenda Pública e a necessidade de prova técnica, as perícias, que  enfrentam atrasos ou se arrastam por mais de uma década. Há ações de 1997 e 2003 que permanecem sem sentença devido à recorrente recusa de peritos em aceitar os casos por ser assistência judiciária gratuita (AJG). Em um dos casos analisados foram nomeados 10 peritos que declinaram da função
  • Risco de prescrição de punições - Foram identificados diversos processos criminais com condenações já transitadas em julgado (decisão final), mas que permaneciam paralisados por meses sem as providências necessárias, como a expedição de guias ou mandados de prisão. Demora que pode resultar na prescrição da punição
  • Irregularidades em cartórios de imóveis - foram encontrados problemas em cartórios de registro de imóveis de algumas cidades. Em uma delas foram identificadas irregularidades na gestão. Há casos de pessoas que pagaram pelos registros, mas a unidade não possuía verba separada para custear os atos, penalizando o consumidor. Outra foi abandonada pelo titular
  • Apagão de dados - Foram encontradas deficiências consideradas graves em tecnologia da informação e em gestão de dados e que impossibilitaram a aferição da produtividade dos magistrados e o cumprimento das Metas do CNJ, como julgar processos mais antigos
  • Precatórios - Foi apontado erro no sistema de cálculo utilizado pelo TJES para precatórios, que aplica a capitalização   da taxa Selic, considerada indevida, contrariando a resolução do CNJ. Foi pontuado que a unidade carece de servidores especializados em contabilidade e possui um atraso crônico na implantação de sistemas eletrônicos e de gestão de precatórios, levando a rotinas manuais e maior demanda de atendimento presencial.

Também foram apontados problemas com pessoal e estrutura institucional. Entre eles:

  • Remuneração desigual - Foi constatada disparidade salarial entre assessores de 1º e 2º graus de jurisdição, sendo que os assessores de 1º grau possuem uma carga de trabalho significativamente maior, por vezes quase o dobro, o que contraria  resolução do CNJ
  • Acúmulo Crônico de Férias - saldo elevado de férias acumuladas tanto por servidores (1.570 com saldo superior a 60 dias) quanto por magistrados (41 membros com mais de dois períodos, sendo 10 com saldo superior a 200 dias)
  • Desproporcionalidade na distribuição da força de trabalho - há setores cruciais que operam com poucos servidores e outros setores que vão ser ainda afetados pelas aposentadorias
  • Desequilíbrio de Carga Processual (Varas) - unidades que  receberam um volume de processos desproporcional após a reestruturação judicial, sem a estrutura de pessoal correspondente para absorver essa carga

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) emitiu uma série de determinações e recomendações para que o TJES corrija as falhas encontradas.

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