O vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) ganhou um reforço de peso na corrida pelo Palácio Anchieta. A federação UP, formada pelos partidos União Brasil e Progressistas, não endossou diretamente o nome do emedebista como candidato ao comando do Executivo estadual, mas fez um gesto de aproximação relevante.
O presidente estadual da federação, deputado federal Da Vitória, que também preside o PP, e o deputado estadual Marcelo Santos, representante do União, reuniram-se com Ricardo e o governador Renato Casagrande (PSB) na segunda-feira (26).
"Reafirmamos nosso apoio ao projeto de Casagrande, que pode ser Ricardo", afirmou Da Vitória à coluna, nesta terça (27).
Notem que o parlamentar não disse "declaramos apoio a Ricardo", diretamente, embora a coluna o tenha questionado mais de uma vez a esse respeito.
"Temos um cronograma longo até as eleições do ano que vem. O governador tem fortalecido o vice e não há impedimento, podemos estar nesse projeto (da candidatura de Ricardo Ferraço)", reiterou Da Vitória, escolhendo cuidadosamente as palavras.
Ainda assim, a sinalização pró-Ricardo conta bastante a favor do vice, que tenta viabilizar-se na disputa pelo governo estadual. Até agora, o União havia chancelado o nome dele publicamente, mas o PP, que tem mais força na federação, mantinha-se mais distante.
Uma eventual coligação com a UP, que tem a maior bancada da Câmara dos Deputados, turbinaria o tempo de exibição no horário eleitoral e, potencialmente, proporcionaria mais recursos para fazer campanha.
Formalmente, a federação não existe, o trâmite do registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda não foi concluído, mas, na prática, a UP já exala poder.
No início do mês, Da Vitória afirmou à coluna que o comando nacional do grupo poderia, eventualmente, barrar parcerias com o PSB nos estados, já que que os socialistas são aliados do PT e as lideranças da federação estão mandando sinais contrários ao governo Lula (PT).
Nesta segunda, o deputado minimizou o risco: "É uma eventualidade que pode acontecer, mas estamos em proximidade de diálogo. Isso nos dá mais autoridade para tratar esse assunto com a nacional".
O gesto a favor de Casagrande e Ricardo não ocorreu à toa. A dupla de partidos espera contrapartidas.
"Temos dois federais dispostos a disputar majoritária, o que é uma condição sine qua non (indispensável)", destacou Da Vitória.
Os "dois federais" são o próprio presidente estadual do PP e Evair de Melo (PP).
E a "majoritária" são os cargos de governador e senador.
Na prática, se Ricardo não "vingar", a federação quer prioridade para indicar o nome a ser lançado pelos casagrandistas ao Palácio.
O governador já listou, ao todo, seis aliados como possíveis candidatos à sucessão: Ricardo, que é o plano A; os prefeitos de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (sem partido), e de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB); o ex-prefeito da Serra Sérgio Vidigal (PDT) e os deputados federais Gilson Daniel (Podemos) e ... Da Vitória.
O progressista também é um possível nome para o Senado. Evair é outro, mas faz oposição ao governo estadual.
Ou seja, ao acenar para Ricardo, Da Vitória tenta abrir o próprio caminho para disputar o Senado ou quiçá o governo.
"Outra prioridade é que precisamos do apoio do governador para montar a chapa de federal", contou o deputado.
Trata-se da chapa de candidatos a deputado federal. Emplacar nomes na Câmara é essencial para qualquer partido, afinal, é o número de representantes lá que conta na hora da distribuição de recursos dos fundos partidário e eleitoral.
A ideia é que Casagrande ajude a atrair nomes para a federação e a equilibrar as disputas por espaços, de forma a garantir uma chapa competitiva.
A coluna também apurou que, como resultado do gesto pró-Casagrande/Ricardo, a federação, especialmente o PP, quer ter mais influência nas decisões de investimentos da administração estadual. Isso não necessariamente quer dizer chefiar mais pastas.
O partido já comanda a Secretaria de Estado de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano (Sedurb), com Marcos Aurélio Soares da Silva, indicado por Da Vitória.
UÉ! E PAZOLINI?
O PP, porém, tem um pé na Prefeitura de Vitória, de Lorenzo Pazolini (Republicanos). A vice, Cris Samorini, secretária municipal de Desenvolvimento, é filiada ao partido.
Pazolini é adversário do grupo de Casagrande e também tenta se viabilizar como candidato ao governo.
Então Pazolini e Ricardo podem mesmo contar com a fidelidade dos progressistas?
Da Vitória, porém, tirou por menos e voltou a dizer que, no ano que vem, podem estar todos juntos:
"Acredito que estaremos num diálogo com o Republicanos, mais à frente. Temos diálogo com Erick (Musso, presidente estadual do Republicanos) e Pazolini".
ARNALDINHO
O fortalecimento de Ricardo e a oportunidade cavada por Da Vitória surgem ao mesmo tempo em que Arnaldinho se movimenta abertamente de olho em 2026.
O prefeito vilavelhense afirmou, em entrevista exclusiva à coluna há uma semana, que está decidido a disputar o governo.
Sem partido, ele flerta com o PSD, sigla do ex-governador Paulo Hartung, o que causou certo rebuliço, uma vez que Casagrande e Hartung são adversários.
Ricardo, por sua vez, preferiu não polemizar sobre as investidas do prefeito e reafirmou estar pronto para ser candidato ou "apoiar qualquer das lideranças políticas" que fazem parte do movimento do governador.
Na ocasião, na última sexta-feira (23), o emedebista lembrou que Casagrande listou vários nomes como possíveis candidatos. O vice respondeu à coluna, especificamente, sobre Arnaldinho, mas, como se vê agora, as palavras dele podem ser interpretadas mesmo como afago a um camplo mais amplo de aliados, entre eles, Da Vitória.
QUEM ESTÁ COM RICARDO
O vice-governador já tem o apoio declarado do União Brasil, antes da federação, do Podemos, presidido no estado pelo deputado federal Gilson Daniel, e do PSB. O PSDB vai se fundir com o Podemos e pode ser anotado como mais um jogador do time de Ricardo.
Esses partidos, aliás, foram bem mais enfáticos ao endossar os planos eleitorais do emedebista, em comparação com o PP de Da Vitória.
Também conta com o endosso de diversos prefeitos, até de alguns que eram do Republicanos, partido de Pazolini.
Institucionalmente, a força do governador o impulsiona para cima.
A questão é se Ricardo vai conseguir transformar esse palanque em votos.
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