É doutor em Letras, professor e escritor. Seus textos tratam de literatura, grandes nomes do Espírito Santo e atualidades. Escreve quinzenalmente às segundas

Do Ziraldo ouvimos uma das frases mais bonitas sobre o Espírito Santo

Ziraldo vinha, constantemente, ao Estado, para participar de feiras literárias, salões e bienais do livro, ou sempre solícito, a convite de escolas que trabalhavam seus livros

Publicado em 10/04/2024 às 13h20
Ziraldo
Sessão de autógrafos do livro “Menina das Estrelas”, do escritor e cartunista Ziraldo, em 2007, em Vitória. Cerca de 500 crianças passaram na antiga livraria Logos do Shopping Norte Sul, onde aconteceu o encontro com o autor . Crédito: Arquivo/AG

Ziraldo Alves Pinto nasceu em Caratinga (MG) em 1932 e faleceu no Rio de Janeiro, em 2024. Foi cartunista, chargista, pintor, dramaturgo, caricaturista, jornalista e o mais completo escritor de livros para crianças de sua geração. Sua importância, na segunda metade do século XX, equivale à de Monteiro Lobato, na primeira metade.

Se Lobato imortalizou Emília, a boneca irreverente, Ziraldo fez o mesmo com o Menino Maluquinho, o personagem mais conhecido da literatura infantil brasileira contemporânea.

Ziraldo passou a infância em Caratinga, às margens do rio de mesmo nome, na Bacia do Rio Doce, cenário que imortalizou em sua obra premiada “O Menino do Rio Doce”, publicada em 1996. Embora formado em Direito pela UFMG, em 1957, foi no desenho que se encontrou e a todos nós encantou.

Começou a desenhar aos seis anos e a trabalhar em jornais com colunas dedicadas ao humor, na década de 1950. Ganhou fama nacional com os seus personagens Jeremias, o Bom e a Supermãe, publicados na Revista O Cruzeiro. Em 1960, lançou a primeira revista em quadrinhos brasileira feita por um só autor, a Turma do Pererê, que também foi a primeira história em quadrinhos em cores totalmente produzida no Brasil. Embora tenha alcançado uma das maiores tiragens da época, a revista deixou de ser publicada em 1964, após o golpe militar.

Crítico ferrenho da ditadura militar, foi um dos fundadores e diretor do periódico O Pasquim, jornal de oposição ao regime militar, uma das razões de sua prisão, ocorrida um dia após a promulgação do AI-5. Em junho de 1968, esteve na Passeata dos Cem Mil, em protesto contra a censura, ao lado de artistas como Chico Buarque, Clarice Lispector, Milton Nascimento, Millôr Fernandes e tantos outros, pois nunca fez concessão à ditadura e à falta de liberdade.

Iniciou-se na Literatura Infantil com "Flicts", em 1969, a história de uma cor que não tem lugar na Terra, mas encontra a sua identidade na Lua, onde tudo é Flicts. Em 1980, lançou "O Menino Maluquinho", seu maior sucesso editorial, que foi adaptado para a televisão e o cinema.

Dotado de energia inesgotável, Ziraldo teve longa colaboração em diversas publicações e em novas iniciativas. Uma delas foi a Revista Bundas, uma publicação de humor sobre o cotidiano, uma ironia à revista Caras, voltada para o dia a dia de festas e ostentação da elite brasileira. Ziraldo foi também o fundador da revista A Palavra, em 1999.

Ziraldo vinha, constantemente, ao Espírito Santo, para participar de feiras literárias, salões e bienais do livro, ou sempre solícito, a convite de escolas que trabalhavam seus livros. Era, sempre, a estrela onde chegava. Humilde e alegre, enfrentava filas imensas de leitores com seus livros na mão, para um autógrafo ou dedicatória, a todos atendendo com humor e simpatia.

Não se incomodava em sair, de carro, para o interior, em encontros que realizávamos, no tempo do Programa Nacional de Leitura – o Proler, de 1992 a 2012. Dele, ouvimos uma das frases mais bonitas sobre o Espírito Santo, que o Cacau Monjardim, o mais capixaba de todos nós, divulgava em folders de propaganda do nosso Estado. “O Espírito Santo é o ateliê de Deus. Aqui, Ele brincava de ser artista”.

Ziraldo nunca se cansou de admirar as nossas belezas naturais e, diferentemente da maioria dos mineiros, o que o atraía eram as nossas rochas com formatos inusitados como O Frade e a Freira, o Itabira, a Pedra Azul, e tantas outras. Ziraldo se eternizou por sua obra e jamais será esquecido por todos os que, um dia, se identificaram com o Menino Maluquinho, o Pererê, a Supermãe e tantos mais. Vá em paz, Ziraldo. Missão cumprida!

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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