Jornalista de A Gazeta há 10 anos, está à frente da editoria de Esportes desde 2016. Como colunista, traz os bastidores e as análises dos principais acontecimentos esportivos no Espírito Santo e no Brasil

Flamengo é o ator principal em um futebol onde reina a insensatez

Incoerente, diretoria rubro-negra acumula posturas condenáveis, mas CBF e maioria dos clubes são coniventes

Publicado em 26/09/2020 às 06h00
Atualizado em 26/09/2020 às 06h02
Flamengo vai enfrentar o Barcelona de Guayaquil
Flamengo vai enfrentar o Barcelona de Guayaquil. Crédito: Alexandre Vidal/Flamengo

“Se a minha atividade é segura e está sendo feita seguindo protocolos, a minha pergunta é: por que não? O que estaria de errado na volta do futebol? Simplesmente por que você está tendo uma curva ascendente? A curva é ascendente numa pandemia porque ela está ocorrendo em outras atividades que não estão seguindo esse protocolo que a gente está seguindo. Não vejo isso como um problema”. Esse foi o posicionamento de Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, em entrevista à Fox Sports, no dia 25 de maio, quando defendia o retorno das competições esportivas ainda em meio ao pico da pandemia de Covid-19. Emblemático, não?

Se passaram quatro meses desde a declaração do dirigente rubro-negro. De lá pra cá tivemos a reta final de boa parte dos campeonatos estaduais do país, o início do Brasileirão e a retomada da Copa do Brasil e da Libertadores, competição esta que o Flamengo quase ficou sem jogar na última terça-feira (22) por contar com sete atletas contaminados pelo novo coronavírus.

Este mesmo Flamengo, neste sábado (26), tem 41 membros de sua delegação de futebol infectados pelo vírus, sendo 19 jogadores, o técnico Domènec Torrent, e entre os outros contaminados, o próprio Landim. O surto de Covid-19 fez o clube rubro-negro solicitar o adiamento de sua partida contra o Palmeiras. Pedido este que foi negado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e também indeferido pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Ou seja, a partida está mantida para acontecer no Allianz Parque, em São Paulo, neste domingo (27), às 16h. O Rubro-Negro ainda tenta recorrer da decisão do STJD.

A partida deveria acontecer? É claro que não. Ela é um risco para todos os envolvidos: jogadores do Palmeiras, árbitros, gandulas, demais trabalhadores e claro para os próprios atletas do Flamengo que restaram para entrar em campo. Mas essa opção não foi oferecida a outros times que já estiveram no lugar onde o Fla se encontra hoje, o que faz a CBF ser incapaz de dar o braço a torcer, mesmo que seja para um de seus maiores aliados na retomada deste circo que o futebol brasileiro se tornou em meio à pandemia.

No mundo ideal, que se preocupa com vidas, esse jogo não aconteceria. Mas aqui no nosso mundo ele vai acabar sendo realizado. Porque soa até desonesto das partes falar que saúde é a prioridade agora. Não é, nunca foi. Desde o início se tratou de tentar recuperar a saúde financeira a qualquer custo.

Presidente do Flamengo, Rodolfo Landim comanda negociações com as famílias
Presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, defendeu precocemente o retorno das competições de futebol no país. Crédito: Tomaz Silva/Agência Brasil

PRESENÇA DE TORCIDA?

E ainda em meio ao alto número de jogadores infectados está muito viva a discussão da liberação de público nas praças esportivas. Nos últimos dias, o Ministério da Saúde aprovou estudo da CBF que propõe a presença de 30% de público nos estádios. Adivinhem qual time puxa a fila dos defensores desta proposta? Sim, o Flamengo. Beira o inacreditável, reina a incoerência, mas esse é o posicionamento do clube que foi até externado pelo vice de futebol Marcos Braz.

“A mágica do futebol, de todos os esportes, é o público. Desde que tenha segurança, tem que ter público”. A afirmação foi dada em entrevista coletiva no sábado (19). Depois disso, o clube sofreu o surto de Covid-19, mas ainda assim ninguém da diretoria indicou a mudança de pensamento.

FLAMENGO NÃO É O ÚNICO CULPADO

Flávio Bolsonaro, Alexandre Campello (presidente do Vasco), Jair Bolsonaro, Rodolfo Landim (presidente do Flamengo) e o diretor de marketing rubro-negro, Alexsander Santos
Flávio Bolsonaro, Alexandre Campello (presidente do Vasco), Jair Bolsonaro, Rodolfo Landim (presidente do Flamengo) e o diretor de marketing rubro-negro, Alexsander Santos. Crédito: Divulgação

Enxergar no Flamengo a raiz de todos os males, porém, é injusto. Não há dúvidas que o clube assumiu o papel de protagonista nessa triste cruzada do futebol brasileiro. Mas CBF e todos os outros times são coniventes com isso. Uns mais, outros menos, mas todos. Não há um presidente de clube no Brasil que não tenha noção da realidade em que vivemos, das dificuldades e riscos impostos de uma pandemia que ainda não acabou. Não há centenas de testagens ou protocolos que determinem imunidade total ao vírus. Minimiza-se o risco, mas não impossibilita o contágio.

Enquanto isso seguiremos fingindo que estamos habituados ao novo normal. Vendo times desfalcados por conta de jogadores infectados. Delegações transitando de um aeroporto para o outro, de hotel em hotel, e com a dificuldade de fazer os jogadores cumprirem protocolos longe do clube, esse sim fator determinante. Os exemplos de sucesso, Liga dos Campeões e NBA apostaram no confinamento total. Mas aqui no Brasil é torcer para não acontecer o pior.

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