Cássia Clésio é advogada especializada em planejamento imobiliário e traz, quinzenalmente, temas ligados ao dia a dia de quem está pensando em comprar, vender, construir, regularizar, investir ou alugar um imóvel.

Atuação conjunta entre profissões e setores fortalecem o Espírito Santo na Agenda Verde

O Espírito Santo tem condições reais de se destacar como referência nacional em construção sustentável e de baixo carbono no cenário pós-COP30

Publicado em 26/11/2025 às 01h58
Atuação conjunta entre profissões e setores fortalecem o Espírito Santo na Agenda Verde
Atuação conjunta entre profissões e setores fortalecem o Espírito Santo na Agenda Verde. Crédito: Shutterstock

A transição para uma construção civil de baixo carbono ganha velocidade no Brasil e o Espírito Santo emerge como um dos Estados mais bem posicionados para aproveitar esse movimento. A combinação entre a agenda de descarbonização, a evolução da Taxonomia Sustentável Brasileira e o protagonismo climático impulsionado pela COP30 cria um ambiente favorável para que o setor imobiliário capixaba adote padrões mais verdes e atraia novos investimentos.

O Estado do Espírito Santo lidera iniciativas concretas alinhadas com a Taxonomia Sustentável. Um dos pilares é o Programa Capixaba de Mudanças Climáticas (PCMC), instituído pela SEAMA, que articula diversas frentes para mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Dentro desse programa, está o Plano Estadual de Descarbonização (“NetZero ES 2050”), aprovado pelo Fórum Capixaba de Mudanças Climáticas, que define metas ambiciosas como a redução de 27% das emissões de gases de efeito estufa até 2030 e neutralidade até 2050.

Neste sentido, o ES lançou o selo Descarboniza-ES, destinado a certificar empresas que tenham inventário de emissões verificado e demonstrem redução ou neutralização de GEE. Há também o programa Gerar Hidrogênio, voltado ao desenvolvimento e uso de hidrogênio sustentável, com potencial para gerar energia limpa para a indústria e para obras de infraestrutura.

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Para dar suporte financeiro a esses esforços, o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) estruturou um fundo de descarbonização com aporte inicial de R$ 500 milhões, visando apoiar projetos sustentáveis de infraestrutura, indústria e construção.

No campo da adaptação climática, o Estado também avança com o Plano Estadual de Adaptação às Mudanças Climáticas (“Adapt-ES”), elaborado em parceria com a UFES, que define ações para lidar com riscos como secas, inundações, calor extremo e alterações no uso do solo.

Como parte desse esforço, funciona o Fundo Cidades – Adaptação às Mudanças Climáticas, que já destina centenas de milhões de reais para obras resilientes em municípios capixabas.

Todas essas iniciativas estão sendo apresentadas e reforçadas na COP30, com o governo estadual lançando uma plataforma digital para transparência das ações do PCMC e abrindo consulta pública para seu plano de adaptação.

Com a COP30 reforçando o foco internacional na Amazônia e ampliando a pressão por investimentos sustentáveis, investidores têm buscado empreendimentos capazes de comprovar métricas ambientais claras.

Nesse cenário, iniciativas capixabas de monitoramento de emissões em tempo real em canteiros, certificações como AQUA-HQE e EDGE, implementação de BIM para redução de resíduos, placas solares em condomínios, sistemas de reaproveitamento de água, redução de desperdícios, uso de madeira engenheirada, concreto de baixo carbono, cobertura vegetal compensatória, melhoria de desempenho energético, processos construtivos industrializados (como obra seca e steel frame e projetos de mobilidade sustentável (como ciclorrotas integradas e urbanismo de baixo carbono) tornam-se diferenciais competitivos.

A taxonomia passa a validar essas práticas como “verdes”, ampliando o acesso a fundos internacionais, green bonds e linhas de crédito de bancos públicos e privados interessados em construção sustentável.

A transição para a construção sustentável exige atuação coordenada entre jurídico, engenharia, arquitetura, corretagem e contabilidade. O jurídico garante conformidade com a Taxonomia Sustentável Brasileira, normas ambientais e programas capixabas, além de estruturar contratos e financiamentos verdes. Engenheiros e arquitetos transformam essas exigências em prática, adotando soluções como obra seca, BIM, energia solar, materiais de baixo carbono, desenho bioclimático, reuso de água e monitoramento de emissões — elementos cada vez mais essenciais para atrair capital, certificações e competitividade.

Já corretores e contadores exercem papéis fundamentais na valorização e viabilidade dos empreendimentos sustentáveis. Corretores traduzem ao mercado o valor econômico, ambiental e de liquidez de imóveis eficientes, enquanto a contabilidade organiza indicadores, inventários de emissões e demonstrações exigidas por fundos, bancos e incentivos. Juntos, esses profissionais sustentam um ecossistema capaz de alinhar o Espírito Santo às demandas aceleradas pela COP30, posicionando o estado como referência em inovação, construção de baixo carbono e atração de investimentos verdes.

Esses movimentos fortalecem o potencial do Espírito Santo para se consolidar como hub nacional de inovação verde. Desafios ainda persistem, como a falta de padronização ambiental entre construtoras e a necessidade de formar mais profissionais especializados, mas as oportunidades são expressivas: com o alinhamento entre setor privado, governo estadual e universidades, o Espírito Santo tem condições reais de se destacar como referência nacional em construção sustentável e de baixo carbono no cenário pós-COP30.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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