A Suzano vai mesmo ter de cortar a produção de celulose no complexo industrial de Aracruz, Norte do Espírito Santo, que é um dos maiores parques do mundo. O tamanho do corte ainda está sendo definido, o certo é que ele não será na mesma proporção da quantidade de eucalipto que deixará de vir de Minas Gerais, cerca de 20% da demanda total. É certo que ficará abaixo disso, já que a companhia vai trazer mais madeira da Bahia, de logística mais barata, para atenuar a situação. A previsão inicial é de que a fabricação de celulose fique mais baixa no Estado pelos próximos três anos. Até lá, um dever de casa precisará ser feito por aqui: recuperação da base florestal.
A silvicultura capixaba vem enfrentando algumas dificuldades nos últimos anos, o que acabou prejudicando a produção como um todo. Vamos a algumas delas: a valorização do café fez com que a cultura avançasse sobre as terras mais produtivas, diminuindo o espaço para eucalipto; o clima está mais desafiador; e os incêndios criminosos, que foram um grave problema no início da década, foram controlados, mas ainda têm os seus efeitos sentidos. Diante do cenário, a Suzano vai investir pesado em biotecnologia e na verticalização da produção (mais plantações próprias e próximas das fábricas) para buscar uma ampliação de 10% na produção de eucalipto no Espírito Santo nos próximos anos. Se fosse apenas com plantação de novas áreas, isso levaria entre seis e sete anos, com biotecnologia, pode levar três (justamente o tempo de produção menor nas fábricas).
Beto Abreu, CEO da Suzano, que esteve, nesta terça-feira (18), em Aracruz, para a inauguração da fábrica de papel tissue (para uso na higiene pessoal), chamou a atenção para a questão. "Precisamos crescer a base florestal, é um desafio para a nossa produtividade. Faremos um investimento em biotecnologia e inovação para termos mais variedade e clones mais resistentes e produtivos, e vamos focar na produção própria. Temos desafios climáticos, é uma questão relevante. Olhamos novas oportunidades, mas o que posso afirmar é que a ampliação da base florestal é a chave para qualquer coisa que queiramos fazer", assinalou o executivo.
Há muito que as florestas do Espírito Santo não dão conta de abastecer as usinas de celulose da Suzano em Aracruz, que têm capacidade para 2,3 milhões de toneladas por ano (hoje a produção está em 2 milhões de toneladas). Cerca de 50% da madeira precisa vir de Minas Gerais, que tem um custo que não está parando de pé, e Bahia.
A usina inaugurada nesta terça, um investimento de R$ 650 milhões, não é na ampliação do parque de celulose, mas na agregação de valor (papel tissue). É a primeira vez que o complexo, fundado em 1972, recebe um aporte que não seja focado em celulose. A última fábrica da commodity, em Aracruz, foi inaugurada em 2002.
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