Governo do Estado e empresários do Espírito Santo estão bem preocupados com os movimentos cada vez mais ruidosos do governo federal no sentido de levar importantes investimentos em infraestrutura, destacadamente ferroviária, para lá em detrimento dos interesses capixabas. O entendimento é que a costura pode estar sendo muito mais política do que técnica. O Espírito Santo tem importantes investimentos portuários saindo do papel e carece de estradas de ferro, mas a Bahia, quarto maior eleitorado do Brasil (maior do Nordeste), tem pesos-pesados na Esplanada dos Ministérios, caso do chefe da Casa Civil, Rui Costa.
Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo colocou um pouco mais de preocupação na cabeça dos capixabas. Ela mostra que a pressão feita pelo governo Lula para que a Vale assumisse um pedaço da Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste), estrutura que ligará o interior do Nordeste (importante produtor de grãos) ao porto de Ilhéus, foi o motivo de não ter havido acordo entre a mineradora e o governo federal sobre a renegociação bilionária envolvendo as concessões antecipadas da Estrada de Ferro Vitória-Minas e da Ferrovia Carajás. Isto coloca em risco um projeto estratégico para o Estado: a EF 118, que pretende ligar Vitória ao Rio de Janeiro. O governo federal pretendia colocar algo perto de R$ 2 bi, que viria dessa renegociação, no pontapé inicial da EF 118, que é o trecho entre Santa Leopoldina e Anchieta.
Mas a coisa vai além. Em outra frente, a da negociação da concessão da Ferrovia Centro-Atlântica (que integra regiões produtoras do Brasil Central e conecta com as ferrovias que vão para o litoral) com a VLI Logística, os capixabas, que querem mais cargas de Minas e Centro-Oeste (os trens da FCA chegam aqui pela Vitória-Minas), notam que os interesses do Espírito Santo têm ficado de lado e que há um peso vindo de Brasília para que se inclua na nova concessão investimentos em um trecho considerado pouco viável economicamente: justamente o que liga Minas Gerais à Bahia.
Por fim, mais uma questão: em julho passado, os governos de Brasil e China firmaram um memorando de entendimento para a construção de uma ferrovia que cruzaria o continente americano, entre o Porto de Chancay, no Peru, e o Porto de Ilhéus, na... Bahia. Cabe lembrar que a Transcontinental não é um projeto novo e que, em um passado bastante recente, na parte brasileira, ela ia até o Porto do Açu, no Norte do Rio de Janeiro, a poucos quilômetros do Espírito Santo.
O alerta já está mais do que ligado no Espírito Santo. E é bom mesmo que esteja...
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