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Valor articulado pelo Congresso para emendas de relator zeraria fila do Auxílio Brasil

Valor articulado pelo Congresso para emendas de relator zeraria fila do Auxílio Brasil

As estimativas mais atualizadas do governo apontam que, a rigor, 21,6 milhões de famílias teriam direito ao programa social no ano que vem, se as regras aprovadas pela Câmara tivessem sido mantidas

Publicado em 8 de dezembro de 2021 às 09:36

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Dinheiro do auxílio emergencial, benefício concedido pelo Governo Federal durante a pandemia do novo coronavírus.
O governo e o Congresso planejam deixar 3,7 milhões de famílias pobres fora do Auxílio Brasil em 2022. (Siumara Gonçalves)

O governo e o Congresso planejam deixar 3,7 milhões de famílias pobres fora do Auxílio Brasil em 2022 afirmando não haver espaço orçamentário para transferir renda a esse grupo, enquanto parlamentares estudam como direcionar um valor que poderia atender toda essa demanda às chamadas emendas de relator - usadas pela gestão de Jair Bolsonaro para direcionar verbas a interesses da base aliada.

As estimativas mais atualizadas do governo apontam que, a rigor, 21,6 milhões de famílias teriam direito ao programa social no ano que vem, se as regras aprovadas pela Câmara tivessem sido mantidas.

São elas a elevação da linha de pobreza de R$ 200 para R$ 210 (o que amplia o público) e a determinação de que a fila de espera fique permanentemente zerada.

Por articulação do governo no Senado, o projeto voltou a permitir fila de espera. Isso significa que, no próximo ano, devem ser contempladas somente 17,9 milhões - mesma expectativa divulgada há meses pelo Ministério da Cidadania.

Para atender toda a demanda de 21,6 milhões de famílias pagando o mínimo de R$ 400, seriam necessários mais R$ 14,3 bilhões no programa além da verba já planejada. O governo trabalha hoje com R$ 89,3 bilhões para o Auxílio Brasil em 2022, de acordo com as últimas estimativas.

Enquanto isso, o Congresso busca assegurar até R$ 16,2 bilhões em emendas de relator.

Esse foi o valor máximo apresentado pelo relator-geral do Orçamento 2022, deputado Hugo Leal (PSD-RJ), em parecer preliminar da última sexta-feira (3). Os valores vão concorrer com outros gastos.

Leal tem sinalizado a aliados que há pouco espaço no Orçamento para conseguir garantir os R$ 16,2 bilhões para esse tipo de emenda, usada em negociações políticas.

A versão mais recente do projeto de Orçamento ainda não garante o dinheiro para essas emendas.

Para atingir esse patamar, será necessário fazer cortes em outras áreas do Orçamento. Por isso, a equipe que elabora as contas para gastos em 2022 tenta um acordo com líderes para que o montante fique próximo de R$ 7 bilhões.

No governo, no entanto, fala-se na possibilidade de o valor ficar entre R$ 15 bilhões e R$ 16 bilhões. De qualquer forma, será preciso cortar em outras despesas - um ajuste que pode ocorrer também nas obrigatórias, movimento que gera preocupação no Executivo.

Para o ano de 2021, governo e Congresso atrasaram a tramitação do Orçamento justamente por motivos como despesas obrigatórias subestimadas enquanto verbas eram reservadas para emendas de relator.

Após uma longa negociação com aliados, o texto só foi aprovado e sancionado em abril deste ano, demora recorde nos últimos 15 anos.

Em 2022, o cenário é outro. Líderes do Congresso querem dar celeridade ao calendário e aprovar até a próxima semana a autorização de despesas do próximo ano. A motivação é o prazo para liberação de emendas parlamentares, que é mais curto diante do calendário eleitoral.

Os números são discutidos com a premissa de que será aprovada a PEC (proposta de emenda à Constituição) dos Precatórios, que tem como objetivo expandir as despesas federais.

A justificativa para a PEC, vista como um drible no teto, era justamente atender os mais vulneráveis da população.

O Senado autorizou o programa a ter filas caso não haja recursos orçamentários disponíveis em uma mudança articulada pelo líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), e pelo ministro João Roma (Cidadania).

"Ao longo do ano que vem, se forem se formando novos cadastros, vai ser formada uma fila, mas o Orçamento já foi aprovado e nós não temos como fazer essas pessoas serem atendidas dentro do próprio ano. Então, elas serão atendidas no ano subsequente", disse Bezerra, ao defender a mudança no projeto feita no Senado.

Com isso, o governo se livrou da tarefa de encontrar dinheiro no Orçamento de 2022 para atender a todas as famílias que se enquadrem nos critérios do Auxílio Brasil.

Apesar da dificuldade de espaço no teto de gastos, líderes do Congresso insistem em manter o patamar de R$ 16 bilhões para emendas de relator - mesmo nível de 2021.

Emenda parlamentar é a forma com que deputados e senadores conseguem destinar dinheiro do Orçamento federal para obras, projetos e outros interesses em suas bases políticas.

Como 2022 é um ano eleitoral, a liberação de emendas precisa ser suspensa a partir de julho.

O uso desse dinheiro em ações voltadas para bases de deputados e senadores ampliam o capital político dos parlamentares às vésperas do pleito.

Hoje existem quatro tipos de emendas: as individuais (que todo deputado e senador têm direito), as de bancada (parlamentares de cada estado definem prioridades para a região), as de comissão (definida por integrantes dos colegiados do Congresso) e as do relator (criadas por congressistas influentes a partir de 2020 para beneficiar seus redutos eleitorais).

Com pouca transparência, as emendas de relator viraram alvo do STF (Supremo Tribunal Federal) - que exigiu a publicação de informações, como que parlamentares as solicitam e dados da execução dos recursos.

Já a Polícia Federal apura se houve irregularidades no uso de emendas de relator por parte de deputados e senadores.

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