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STF adia julgamento de suspeição do ex-juiz Sergio Moro

STF adia julgamento de suspeição do ex-juiz Sergio Moro

Ministro Kassio Nunes pediu vistas do processo, informando que precisa de mais tempo para análise; votação, por enquanto, está em 2 a 2

Publicado em 9 de março de 2021 às 18:06- Atualizado há 3 anos

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Sergio Moro
O ex-juiz Sergio Moro foi considerado xxx pela Segunda Turma do STF durante sua atuação na Lava Jato em relação ao ex-presidente Lula. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) adiou o julgamento de Sergio Moro, que estava em andamento nesta terça-feira (9), em que está sob análise se o ex-juiz agiu de forma parcial ou imparcial na condução da Lava Jato envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na sessão, os ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski defenderam a suspeição. As condenações do petista já foram anuladas pelo ministro Edson Fachin e o caso passa para a Justiça Federal do Distrito Federal.

O julgamento começou em novembro de 2018. Na ocasião, Edson Fachin e Cármen Lúcia votaram pela rejeição do pedido de suspeição, mas podem mudar seu posicionamento. No momento, o placar está empatado: 2 a 2, e, conforme o andamento, poderá ficar sob a responsabilidade de Kassio Nunes, indicado por Jair Bolsonaro para a Corte, o desempate. 

Se for considerado parcial, todas as provas colhidas nos processos contra Lula que tramitaram na 13ª Vara Federal de Curitiba ficam anuladas. E toda e qualquer investigação contra ele terá que recomeçar do zero.

No primeiro momento, os ministros analisaram se deveriam ou não conduzir o julgamento solicitado pela defesa de Lula nesta terça-feira. Fachin foi voto vencido, porque queria o adiamento, porém Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Kassio Nunes e Ricardo Lewandowski votaram pelo prosseguimento. 

A condenação por suspeição pode ter impacto também sobre todos os processos comandados pelo ex-juiz em Curitiba, levando a uma anulação em massa de processos da Lava Jato no Supremo.

VOTAÇÃO 

O ministro Gilmar Mendes, que colocou o julgamento na pauta desta terça-feira, defendeu a declaração de suspeição do ex-juiz Sergio Moro no processo. "Meu voto não apenas descreve cadeia sucessiva a compromisso da imparcialidade como explicita surgimento e funcionamento do maior escândalo judicial da nossa história", disse Gilmar.

"É cabível este habeas corpus e acolho a tese trazida pelos impetrantes (advogados de Lula)", anunciou o ministro ao iniciar a longa exposição sobre a matéria. O magistrado fez inúmeras críticas à Lava Jato, que foram muito além do caso específico do petista.

"Já elogiei, sim", afirmou o ministro sobre o trabalho realizado pela Lava-Jato. "O combate à corrupção é fundamental. Agora, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. O combate à corrupção tem que ser feito dentro dos moldes legais. Não se combate crime cometendo crime."

Ele pontuou o voto com muitas frases de efeito: "Ninguém pode se achar o ó do borogodó. Cada um vai ter seu tamanho no final da história. Um pouco mais de modéstia. Calcem as sandálias da humildade".

Elogiou a decisão de Lewandowski de autorizar à defesa de Lula acesso integral aos diálogos vazados dos integrantes da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba.

O ministro atacou as prisões preventivas alongadas e afirmou que Moro atuava como integrante do Ministério Público, responsável por fazer as acusações. "Em outras palavras, ele não se conteve em pular o balcão", disse.

Criticou a imprensa e afirmou que se estabeleceu um "conluio vergonhoso entre a mídia e os procuradores e o juiz."

Gilmar também disse que, diferentemente de  Fachin, Cármen Lúcia e Lewandowski, que também compõe a Segunda Turma,  não chegou ao STF pelas mãos do PT.

"Portanto, eu sou insuspeito nessa matéria, agora também como ministro Kassio, que chegou mais recentemente, de ter simpatia, envolvimento com o PT. Não obstante eu sempre soube distinguir o que é ser adversário do que é ser inimigo".

ADIAMENTO

Na sequência, o ministro Kassio Nunes deveria proferir seu voto, mas argumentou que, por estar há pouco tempo na Corte, não teve acesso ao processo anteriormente e pediu vistas para apresentar o seu posicionamento em nova sessão. 

A ministra Cármen Lúcia disse que estava com o seu voto pronto, mas que aguardaria a manifestação de Kassio Nunes. Em 2018, quando o julgamento foi iniciado, ela votou contra a suspeição de Moro, mas  pode mudar seu posicionamento, caso tenha esse entendimento. Edson Fachin havia se manifestado a favor do ex-juiz. 

 Ricardo Lewandowski, no entanto, decidiu apresentar seu voto. Em um dos trechos de sua manifestação, ele disse que “o paciente (Lula) foi submetido não a um julgamento justo, segundo os cânones do direito penal, mas a um verdadeiro simulacro de ação penal, cuja nulidade salta aos olhos.”

Lewandowski concluiu que Sergio Moro abusou de seu poder, e pediu a nulidade de todos os atos, desde o início, relacionados ao ex-presidente Lula. Ressaltou, ainda, que as custas processuais deverão ser de responsabilidade do ex-juiz.

Edson Fachin, por fim, também decidiu apresentar seu voto depois de Kassio Nunes, quando for marcada nova sessão. 

LULA NA LAVA JATO

Lula, 75, tinha sido condenado em duas ações penais, por corrupção e lavagem de dinheiro, nos casos do triplex de Guarujá (SP) e do sítio de Atibaia (SP).

Por causa delas, ele estava enquadrado na Lei da Ficha Limpa e não poderia ser candidato.

A primeira condenação de Moro a Lula, no caso do triplex, foi confirmada pelo TRF 4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) em janeiro de 2018.

O ex-juiz tinha determinado uma pena de 9 anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Os desembargadores elevaram a pena para 12 anos e um mês de prisão.

O STF, pouco depois, votou um habeas corpus de Lula e afirmou que condenados em segunda instância poderiam ir para a prisão, permitindo que Lula fosse encarcerado.

O petista passou 580 dias na prisão. Em novembro de 2019, o STF mudou o entendimento e afirmou que ninguém pode ser preso antes de sentença transitada em julgado, ou seja, apreciada pelas cortes superiores até o último recurso. E Lula foi solto.

Ele passou então a aguardar em liberdade a finalização dos processos a que responde. E sua defesa insistiu no julgamento da suspeição de Moro.

Os advogados Cristiano Zanin e Valeska Martins, que defendem Lula, apontaram sete fatos que comprovariam a suspeição de Moro. Entre eles estão a condução coercitiva de Lula para depor, em 2016, e a divulgação de áudios interceptados ilegalmente, da então presidente Dilma Rousseff e dos próprios defensores.

Com informações da Agência Folhapress

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