Publicado em 25 de março de 2021 às 19:17
- Atualizado há 5 anos
A cúpula do Senado fez chegar ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) o recado de que considerou inaceitáveis os gestos feitos na quarta-feira (24) pelo assessor internacional da Presidência, Filipe Martins, e que espera sua demissão do posto.>
A mensagem foi transmitida pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e por outros senadores a ministros próximos a Bolsonaro.>
De acordo com interlocutores, Bolsonaro se convenceu de que dificilmente conseguirá manter seu aliado no posto e, no momento, procura um cargo de assessoria na Esplanada para acomodá-lo.>
Na quarta, durante uma tensa sessão em que senadores cobravam a saída do ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) do cargo, Martins foi flagrado pelas câmeras do Senado gesticulando às costas de Pacheco.>
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Juntando o polegar ao indicador, ele manteve os demais dedos esticados e fez movimentos repetitivos com a mão ao lado do paletó.>
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) chamou a atenção dos presentes para a cena e disse que as gesticulações eram obscenas.>
Martins foi criticado porque o gesto é associado a movimentos supremacistas brancos --e ele tem um histórico de uso de símbolos ligados a grupos de extrema direita.>
O assessor rechaça qualquer conotação racista no gesto e afirma que estava arrumando a lapela do terno.>
Pacheco determinou que o ato seja investigado pela polícia do Senado. Embora tenha destacado que caberá à apuração tipificar a conduta de Martins, ele disparou contra o assessor palaciano nesta quinta-feira (25).>
"Não podemos ter pré-julgamentos em relação ao fato, mas verdadeiramente, vendo as imagens, nós identificamos um gesto completamente inapropriado para o ambiente do Senado", disse Pacheco.>
"Queremos aqui, uma vez mais, repudiar todo e qualquer ato que envolva racismo ou discriminação de qualquer natureza, repudiar qualquer tipo de ato obsceno também, caso tenha sido essa a conotação, no Senado ou fora dele. E Senado não é lugar de brincadeira. Senado é lugar de trabalho.">
A avaliação de conselheiros de Bolsonaro é que a situação de Martins --que já é alvo da ala militar do governo e de parlamentares ligados ao agronegócio-- ficou inviável após o episódio.>
Segundo relatos, a cena de Martins gesticulando irritou particularmente Flávio Rocha, que acumula as chefias da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) e da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos). Pela estrutura do Planalto, o posto ocupado atualmente por Martins responde a Rocha.>
Aliados de Martins tentaram justificar que ele teria reagido às fortes críticas direcionadas a Ernesto na audiência, mas a explicação foi considerada insuficiente por conselheiros palacianos e por parlamentares.>
A busca por um cargo de compensação para indicá-lo tem sido comparada no governo ao episódio envolvendo o atual número dois da Secretaria-Geral da Presidência, Vicente Santini.>
Demitido da Casa Civil por Bolsonaro, em janeiro do ano passado, após usar um jato da FAB para uma viagem à Índia, Santini foi realocado meses depois numa assessoria do ministério do Meio Ambiente. Recentemente, foi reconvocado ao Planalto para fazer parte da equipe do ministro Onyx Lorenzoni.>
Discípulo de Olavo de Carvalho, Filipe Martins é um expoente da ala ideológica do governo e considerado um dos arquitetos da política externa conduzida pelo chanceler Ernesto Araújo.>
Ele acompanha Bolsonaro em praticamente todas as agendas envolvendo autoridades estrangeiras e defendeu a nova orientação dada por Ernesto no Itamaraty: antagonismo com a China e alinhamento automático aos Estados Unidos do ex-presidente Donald Trump; adoção de uma pauta ultraconservadora em fóruns internacionais e apoio a Israel em temas relacionados ao conflito com os palestinos.>
Entre assessores de Bolsonaro, a situação em que se encontra Filipe Martins é vista como um passo anterior à saída de Ernesto do governo.>
O chanceler enfrenta um processo de fritura, e sua permanência na Esplanada hoje é contestada por Pacheco, pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e por um grupo de senadores, lideranças do agronegócio e empresários.>
A âncora de Ernesto no governo continua sendo o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República com forte influência no Itamaraty.>
Mas a avaliação é que a coalizão que se formou contra Ernesto é tão ampla que Bolsonaro não terá saída a não ser demiti-lo.>
De acordo com interlocutores, no entanto, o processo de substituição de Ernesto deve ser mais demorado, uma vez que ele ocupa um cargo da mais alta relevância na estrutura de governo.>
A tendência, dizem, é que Bolsonaro conduza um processo de escolha do novo chanceler antes de rifar Ernesto do Itamaraty.>
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