Publicado em 25 de março de 2021 às 11:06
- Atualizado há 5 anos
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, enfrentou um ambiente hostil durante sua participação em sessão do Senado nesta quarta-feira (24), com muitos senadores questionando a sua capacidade e pedindo a sua demissão para "salvar vidas". >
Ernesto havia sido convidado para participar de sessão temática do Senado para explicar os esforços da pasta que comanda para obter vacinas contra o novo coronavírus.>
O chanceler já havia sido alvo de duras cobranças do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), durante reunião no Palácio do Alvorada. Lira deixou claro que seria preciso melhorar a relação com países produtores de vacinas e de insumos.>
A reunião da manhã, chamada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), contou com a participação de ministros, dos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o presidente do STF, Luiz Fux, governadores e chefes de outras instituições.>
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Lira e Pacheco já vinham manifestando descontentamento com o chanceler brasileiro, aumentando a pressão pela sua demissão. Mais tarde, em sessão na Câmara, Lira voltou a criticar publicamente e abertamente o chanceler.>
Nesta tarde, no Senado, a cobrança partiu inicialmente do próprio Pacheco, que afirmou que o fornecimento de vacinas está "aquém do esperado".>
Depois houve uma sequência de falas de diversos senadores, questionando a capacidade de Ernesto Araújo e pedindo a sua demissão.>
"Pede para sair e durma com a consciência tranquila que o senhor vai ajudar a salvar vidas", afirmou a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP).>
Companheiro de bancada da senadora, o tucano Tasso Jereissati (PSDB-CE) afirmou que o Brasil se tornou um pária internacional e que a má gestão no Ministério das Relações Exteriores está provocando resultados fatais para o Brasil.>
"O senhor não tem mais condições de ficar no Ministério das Relações Exteriores. E não é para criar uma crise [a sua saída], é para solucionar", afirmou o tucano. O senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) também afirmou que pediria demissão se estivesse no lugar do ministro. Também pediram a saída do ministro a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e parlamentares da oposição.>
A presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu (PP-TO), questionou a capacidade de fazer interlocuções do ministro, após diversos ataques aos chineses. Lembrou, por exemplo, as manifestações contrárias à participação chinesa na tecnologia 5G.>
"Eu não estou contando novidade, não estou aqui para ofendê-lo. Isto foi público e notório: o seu preconceito com relação ao 5G, o preconceito da família com relação ao vírus. Qual é o país do mundo que quer passar vírus para alguém? Isso não existe. Quer dizer, uma coisa tão aberta. O presidente dizer que vende para a China, mas não vai vender o Brasil para a China? Palavras desnecessárias", afirmou a senadora.>
Kátia Abreu (PP-TO)
Presidente da Comissão de Relações Exteriores do SenadoO senador Fabiano Contarato (Rede-ES) questionou a formação e a capacidade do ministro.>
"Eu confesso que me senti aqui um tanto quanto desrespeitado no Senado Federal. Eu nunca presenciei uma apresentação tão confusa, não sabendo construir uma frase com sujeito, verbo e objeto. Não respondeu as perguntas. Eu citei aqui vários exemplos de atitudes do senhor contra o Brasil: ofendeu o governo chinês, deixou o governo Trump interferir no processo de aquisição de vacinas junto à Rússia, visitou Israel com gastos exorbitantes aos cofres públicos para tratar de um medicamento sem nenhuma comprovação científica", afirmou o senador.>
"O senhor realmente cursou o Instituto Rio Branco? Sua fala não me parece diplomática, porque, ao invés de o senhor pedir desculpas para o embaixador da China, o senhor defende quem o ofendeu. Não percebe que isso pode dificultar ainda mais a aquisição de vacinas?", completou.>
Ao se defender, o chanceler se emocionou e chegou a ficar com a voz embargada. Ernesto Araújo afirmou que fez de tudo para ajudar o Brasil durante a pandemia, assim como ele alega que o presidente Bolsonaro fez.>
"Tenho feito tudo pelo meu país naquilo em que acredito, um projeto de transformação profunda do Brasil que a maioria dos brasileiros, tenho certeza, deseja. Eu sempre estou disposto, já estou dando toda a minha vida por isso, porque é nisso em que acredito. O senhor pode acreditar ou não, mas essa é a minha convicção", afirmou o chanceler.>
"Contarei aos meus netos que fiz parte de um projeto de transformação do Brasil. Espero poder contar que terá sido um projeto bem-sucedido, um projeto que livrou o Brasil da corrupção, do atraso, da indignidade e da falta de condições para os brasileiros. Tenho um amor profundo pelo povo brasileiro -isso eu garanto para o senhor- e não admito que ninguém o questione, como eu não questiono os seus motivos ou os de ninguém, está bem?", completou.>
Ernesto também negou que tivesse dificuldades de relacionamento com a China. O chanceler afirmou ainda que nunca teve conhecimento da tentativa de interferência dos Estados Unidos para que o Brasil não importasse a vacina russa Sputnik V.>
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