Publicado em 3 de maio de 2020 às 10:50
Preocupado com a ameaça de genocídio dos povos indígenas diante da Covid-19, o fotógrafo Sebastião Salgado mobilizou dezenas de personalidades mundiais em torno de um manifesto que exorta o Estado brasileiro a proteger essas populações.>
"Diante da urgência e da seriedade dessa crise, como amigos do Brasil e admiradores de seu espírito, cultura, beleza, democracia e biodiversidade, apelamos ao presidente da República, sua excelência senhor Jair Bolsonaro, e aos líderes do Congresso e do Judiciário a adotarem medidas imediatas para proteger as populações indígenas do país contra esse vírus devastador.">
O texto acima foi publicado em forma de anúncio em jornais do Brasil e do exterior, "Esses povos são parte da extraordinária história de nossa espécie. Seu desaparecimento seria uma grande tragédia para o Brasil e uma imensa perda para a humanidade. Não há tempo a perder", afirma o manifesto.>
Subscrevem a iniciativa Madonna, Paul McCartney, Sting, Sylvester Stallone, Pedro Almodóvar, Brad Pitt, Meryl Streep, Ai Weiwei, Tadao Ando, Werner Herzog e o príncipe Albert 2º, de Mônaco, entre outros nomes de renome internacional. (Clique aqui para assinar a petição online)>
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Do Brasil, assinam Gisele Bündchen, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Luciano Huck, Fernando Meirelles, João Carlos Martins, Carlos Nobre e Beatriz Milhazes, além de Salgado e da designer Lélia, sua mulher.>
"Só em Roraima, calculam-se em torno de 20 mil garimpeiros dentro do território ianomâmi. Há madeireiros invadindo para todo lado. O contato hoje com o coronavírus é um perigo total. E, como eles não têm defesa imunológica, há um risco maior de genocídio. A minha preocupação é de defesa desses povos", disse Salgado à Folha, por telefone, de Paris.>
Salgado passou boa parte dos últimos sete anos fotografando povos indígenas da Amazônia. A Folha acompanha as viagens do fotógrafo brasileiro, relatadas nas reportagens da série "Sebastião Salgado na Amazônia".>
"Estamos solicitando uma intervenção, uma força-tarefa que entre nesses territórios e proteja essa população, como aconteceu nos meses de julho e agosto, nos incêndios florestais, quando houve uma enorme pressão internacional", afirmou o fotógrafo.>
"Tenho esperança de que tenha repercussão principalmente do Legislativo e do Judiciário, pessoas com uma preocupação intelectual maior do que a Presidência da República.">
Nos últimos dias, o governo Bolsonaro afastou chefes de fiscalização do Ibama favoráveis ao combate ao garimpo ilegal em terras indígenas e emitiu uma portaria, via Funai, que abre caminho para a grilagem de terras indígenas. Ambas decisões são criticadas por líderes indígenas e ambientalistas.>
Covid na Amazônia Com o epicentro em Manaus, o novo coronavírus já se espalhou pelos nove países com território na região Amazônica. Monitoramento da Repam (Rede Eclesial Panamazônica), ligada à Igreja Católica, contabiliza 20.471 casos confirmados da Covid-19, com 1.257 mortos, até o dia 30 de abril.>
O levantamento da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, aponta 105 casos confirmados entre os índios. Houve seis óbitos, todos registrados na Amazônia.>
A Sesai não contabiliza nem atende indígenas morando nas cidades. Assim, casos como o do agente epidemiológico Aldevan Baniwa, 46, morto por coronavírus em Manaus, onde moram cerca de 30 mil indígenas, ficam de fora da estatística oficial.>
"Temos de criar um movimento planetário de proteção às comunidades indígenas. A pré-história da humanidade está dentro da floresta amazônica, nesses grupos isolados, que somos nós há 10 mil, 20 mil anos. A humanidade não pode perder, é a origem de todos nós, sem exceção", diz Salgado.>
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