Publicado em 13 de julho de 2025 às 12:28
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), avisou Jair Bolsonaro (PL) que adotaria o discurso de defesa da economia de seu Estado — e não a anistia aos bolsonaristas — diante da imposição da sobretaxa de 50% aos produtos brasileiros por Donald Trump. O aviso foi dado na tarde de quinta-feira (10), em uma reunião fechada na sede da representação do governo paulista em Brasília.>
Tarcísio é cotado para disputar a Presidência no ano que vem, embora diga que tentará a reeleição em São Paulo. Trump associou a medida a críticas ao tratamento dado a Bolsonaro pelo Brasil, em especial sobre o julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal (STF) em torno da trama golpista de 2022.>
Na conversa, segundo relatos colhidos pelo jornal Folha de S. Paulo, Bolsonaro ficou calado diante do aviso de Tarcísio e não fez manifestações contrárias. Uma pessoa próxima ao ex-presidente, contudo, disse que ele saiu contrariado da reunião. No mesmo dia, em nota nas redes sociais, Bolsonaro nem entrou no mérito do tarifaço e pediu urgência aos Poderes para que atendessem exigências de Trump que o beneficiariam no julgamento.>
Trump é aliado de Bolsonaro, padrinho político de Tarcísio, que por sua vez é fã do presidente dos EUA, tendo até posado com um boné do republicano após as eleições americanas, algo que tem sido explorado por aliados do Palácio do Planalto diante da atual crise. O prejuízo econômico das medidas adotadas por Trump, estimado em bilhões de reais, escancarou o racha no bolsonarismo e colocou Tarcísio em embate direto com o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).>
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O filho do ex-presidente celebra o tarifaço e espera que ele seja usado como arma para pressionar o Congresso a aprovar a anistia às pessoas ligadas à tentativa de golpe, incluindo o próprio Bolsonaro. O senador Flávio Bolsonaro adotou linha semelhante ao cobrar anistia para solucionar o tarifaço.>
Eduardo se auto-exilou nos Estados Unidos com a promessa de articular sanções ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, e agora tem enaltecido o tarifaço de Trump. Já Tarcísio afirma, como fez em entrevista neste sábado (12), que as tarifas são ruins para a economia paulista e que é preciso "deixar a questão política de lado e tentar resolver essa questão".>
Ambos são cotados para receber a indicação de Bolsonaro para concorrer à Presidência no ano que vem, já que Bolsonaro está inelegível ao menos até 2030. Tarcísio tem apoio dos principais dirigentes partidários da centro-direita, enquanto Eduardo é o preferido dos bolsonaristas radicais. A conversa entre Tarcísio e Bolsonaro ocorreu menos de 24 horas após o anúncio das sanções do presidente norte-americano.>
Naquela tarde, ambos postaram o mesmo vídeo, cada um em suas redes sociais, pouco antes de a reunião começar. As imagens mostravam os dois chegando juntos a um restaurante em Brasília, abraçando apoiadores e sorrindo. No encontro, Bolsonaro demonstrou estar contente com o gesto do presidente norte-americano em sua defesa. Mas reconheceu que a sobretaxa atinge empresários que lhe dão apoio, especialmente no setor agropecuário, o que poderia comprometer sua popularidade.>
Tarcísio decidiu comunicar Bolsonaro pessoalmente de sua decisão após sentir pressões de empresários, do setor agrícola e de aliados — que avaliaram como nulas as chances de um projeto de anistia prosperar com base em ameaças à soberania nacional feitas por Trump.>
Após a conversa, o governador iniciou uma série de movimentações para enfrentar as medidas norte-americanas, conforme a Folha mostrou.>
Além de procurar a representação diplomática dos EUA em Brasília para apresentar dados sobre as transações comerciais entre São Paulo e o país, ele telefonou para ministros do STF para tentar reaver o passaporte de Bolsonaro — o que, segundo revelou a coluna Mônica Bergamo, da Folha, foi considerado esdrúxulo por membros da corte.>
Os dois voltaram a conversar após essas ações, o que foi interpretado por integrantes do Palácio dos Bandeirantes como sinal de que Bolsonaro não desautorizou a movimentação do aliado. Este não é o primeiro episódio em que padrinho e afilhado discordam em questões políticas. Um exemplo anterior foi o apoio à reeleição do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), no ano passado.>
Bolsonaro chegou a dizer a Tarcísio que era um erro apoiar Nunes, que ele considerava fraco, mas o governador insistiu e se mostrou certo, uma vez que o prefeito foi reeleito. O vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL), outro filho do ex-presidente e encarregado de suas redes sociais, publicou um texto parabenizando o governador pela articulação direta com os Estados Unidos, em contraponto ao irmão mais novo. As ações de Tarcísio representam uma rápida correção de rota diante da crise.>
Quando Trump publicou um texto pedindo para "deixarem em paz" Bolsonaro, na última segunda-feira (7), Tarcísio exaltou o gesto e ainda provocou a Justiça brasileira, dizendo que o ex-presidente "só deve ser julgado pelo povo brasileiro, durante as eleições". Na ocasião, a expectativa era que as eventuais sanções articuladas por Eduardo atingissem apenas o ministro Alexandre de Moraes.>
Quando a sobretaxa de 50% foi anunciada para todos os produtos brasileiros, Tarcísio inicialmente manteve a temperatura política alta, culpando Lula pela medida. Contudo aliados do governador avaliaram que até setores tradicionalmente ligados ao bolsonarismo, como a agropecuária, poderiam se aproximar de Lula por questões de sobrevivência, para fortalecer o presidente e o Brasil em uma eventual mesa de negociação com os Estados Unidos.>
Neste sábado, Tarcísio despolitizou totalmente o assunto. Em entrevista em Cerquilho, no interior paulista, disse que "a gente precisa estar de mãos dadas agora, deixar a questão política de lado e tentar resolver essa questão" e que falar em anistia, neste momento, era uma "questão de opinião".>
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