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Redução de benefícios de Cid seria o fim da delação premiada, diz advogado

Redução de benefícios de Cid seria o fim da delação premiada, diz advogado

Segundo Jair Alves Pereira, a descoberta de temas relevantes só foi possível graças à delação de Mauro Cid. Ele citou a reunião do ex-presidente Jair Bolsonaro com os chefes das Forças Armadas, no início de dezembro de 2022

Publicado em 2 de setembro de 2025 às 16:35

BRASÍLIA - A defesa do tenente-coronel Mauro Cid afirmou nesta terça-feira (2) que a redução dos benefícios da delação do militar representaria na prática o fim do instituto da colaboração premiada.

A declaração foi feita pelo advogado Jair Alves Pereira durante a sustentação oral da defesa do tenente-coronel no primeiro dia de julgamento na Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a trama golpista.

Ele criticou a sugestão da PGR (Procuradoria-Geral da República) de reduzir os benefícios de Mauro Cid de um possível perdão judicial para a redução de somente um terço da pena final estipulada pelo Supremo.

"Se a colaboração premiada dele é sólida, por que ele não teria os benefícios que ele ajustou? Não seria justo que o Estado, agora, depois de fazer tudo isso, com cautelares diversas da prisão há mais de dois anos, afastado de suas funções [...], que agora chega no final e o Estado diz 'você me ajudou, tudo certo, mas agora vou te condenar'. Se fizermos isso, acabou o instituto da colaboração premiada", disse o advogado Jair Pereira.

Advogado de Mauro Cid pede pela manutenção da delação premiada no primeiro dia de julgamento do núcleo principal da suposta trama golpista
Advogado de Mauro Cid Jair Alves Pereira pede pela manutenção da delação premiada no primeiro dia de julgamento do núcleo principal da suposta trama golpista Crédito: Luiz Silveira/STF

Segundo Pereira, a descoberta de temas relevantes para a investigação só foi possível graças à delação de Mauro Cid. Ele citou especificamente a reunião do ex-presidente Jair Bolsonaro com os chefes das Forças Armadas, no início de dezembro de 2022.

"Não há como dizer que ela [delação] não tem sustentação. Isso é impossível. Se nós dissermos que ela não tem sustentação, a ação penal também não tem, porque ela instrui e ajuda", disse o advogado.

Ele destacou ainda que a colaboração é um meio de obtenção de prova — se determinadas declarações não foram confirmadas por provas, seria um problema da autoridade responsável pela investigação, defendeu o advogado.

Pereira disse ainda que o militar discordou dos caminhos da investigação da Polícia Federal sobre a trama golpista, mas negou que ele tenha sido coagido durante o processo.

Pereira iniciou sua fala argumentando que a delação premiada do tenente-coronel deve ser considerada válida, apesar dos pedidos das defesas dos demais réus pela anulação da colaboração por omissões e contradições de Cid em seus depoimentos.

O advogado leu mensagens vazadas de Mauro Cid, reveladas pela revista Veja, em que ele questiona o caminho da investigação da Polícia Federal.

"Isso aqui não é coação. O Mauro Cid está reclamando da posição do delegado, isso é direito. E cumpre fazermos uma pergunta aqui: qual é a versão que constou nos autos? A versão do Mauro Cid ou do delegado? Qual versão prevaleceu? Dizer que isso é ser coagido, com todas as vênias, seria acadêmico", disse.

Pereira ainda elogiou os investigadores da Polícia Federal pela atuação "extremamente ética e profissional". "Nunca tentaram falar com Mauro Cid sem antes acessar a defesa", completou.

O tenente-coronel Mauro Cid é acusado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) de ter cometido cinco crimes: golpe de Estado, abolição do Estado democrático de Direito, associação criminosa, dano qualificado do patrimônio público e deterioração do patrimônio tombado.

Ele fechou um acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal em agosto de 2023 e prestou uma dezena de depoimentos à corporação e ao Supremo em pouco mais de um ano de investigação.

Segundo o acordo, em troca de falar tudo que testemunhou na reta final do governo, Cid seria condenado a uma pena curta e evitaria impactos judiciais para seus familiares.

O militar pedia para ele e sua família terem perdão judicial ou pena privativa de liberdade inferior a dois anos de prisão. Com a estratégia, Cid tentava manter sua carreira no Exército e evitar impactos jurídicos para seus familiares.

Esquema de segurança no STF para o início do julgamento de Bolsonaro e de mais sete réus da trama golpista por Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

A delação, porém, foi marcada pelo vaivém do militar. Ele não compartilhou informações importantes para a investigação nos primeiros depoimentos e mudou de versão sobre figuras-chave no processo, como o ex-ministro Walter Braga Netto.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, sugere que os benefícios sejam mantidos, mas em grau menor. Cid queria no máximo dois anos de reclusão, e a PGR pede a redução de somente um terço da pena.

Em alegações finais, a defesa de Cid disse que as revelações do militar sobre a trama golpista foram fundamentais para o avanço das investigações da Polícia Federal. Ela negou também que tenha havido omissão em sua colaboração premiada.

Os advogados dizem ter se sentido traídos pela Procuradoria, que acusou o militar por supostos vínculos com os ataques de 8 de Janeiro mesmo após meses de colaboração de Cid com a Polícia Federal.

"O que se viu foi uma deturpação das informações fornecidas, em ilações convertidas em insumo para atribuir-lhe crimes que jamais cometeu ou poderia cometer. Sente-se, sim, traído pelo órgão acusador que se valeu da sua boa-fé para construir uma acusação desconectada da realidade fática, da materialidade típica e do seu próprio relato para, ao final, mandá-lo para o fuzilamento", disse a defesa.

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