Publicado em 28 de agosto de 2020 às 14:27
De candidato nanico a 2014 até a prisão pela Polícia Federal na manhã desta sexta-feira (28), o pastor Everaldo Dias Pereira, de 64 anos, ficou marcado por episódios caricatos na política. Entre os momentos públicos de visibilidade, está o batismo do presidente Jair Bolsonaro no Rio Jordão, em Israel, em maio de 2016. Católico, o então deputado federal teve naquele ato um gesto simbólico de aceno aos evangélicos, hoje parte importante do seu eleitorado fortemente conservador. >
Dois anos depois, Pastor Everaldo, como é conhecido, tornou-se um poderoso nos bastidores da política do Rio. Era presidente nacional do PSC, partido do governador afastado Wilson Witzel, e ficou conhecido como o homem que mandava em tudo - ou pelo menos, muito - no Executivo fluminense. >
Conquistou esse posto com gestos de habilidade. Um deles foi inflar as pretensões do governador de concorrer à Presidência da República, logo no início de um governo que se anunciava difícil. Era visto com frequência no Palácio Guanabara, sede do governo fluminense, embora não tivesse cargo público.>
Além da Secretaria de Saúde, foco da investigação sobre desvios durante a pandemia, o pastor da Assembleia de Deus comandava a Cedae, empresa pública de água e esgoto. Nesse campo, protagonizava uma disputa com o então secretário de Desenvolvimento Econômico, Lucas Tristão, um aliado de Mário Peixoto, fornecedor de serviços terceirizados, preso na Operação Favorito, por corrupção. Peixoto nega ter cometido qualquer crime.>
>
Quando concorreu à Presidência - ficou em quinto, com 0,75% dos votos -, Everaldo virou chacota ao atuar, em debates, como uma espécie de linha auxiliar do então candidato tucano, Aécio Neves. Fazia perguntas brandas como "Qual é a sua opinião sobre a Previdência no Brasil?". Isso lhe rendeu a acusação, feita pela esquerda, de ser "boca de aluguel" do tucano. Depois, em 2017, um delator da Odebrecht afirmou que a empresa teria pagado R$ 6 milhões para o pastor ajudar Aécio.>
Nascido dentro de um templo da Assembleia de Deus no Rio, Everaldo foi o primeiro candidato a presidente a usar o nome de "Pastor" na urna. Em 2018, tentou também uma cadeira no Senado. Mas, assim como na disputa de 2014, não teve sucesso.>
No Rio, a influência de Everaldo não vem da eleição de Witzel, no recente ano de 2018. Começou nos fim dos anos 1990, no governo de Anthony Garotinho (1999-2002), eleito pelo PDT. Como subsecretário da Casa Civil, Everaldo coordenou o programa Cheque Cidadão, que distribuía vales-compra a famílias carentes. A distribuição se dava por meio de templos religiosos, o que gerou críticas. O pastor rebatia, dizendo que todas as religiões participavam da distribuição.>
Na época, Everaldo era aliado da esquerda que estava no poder no Rio. Era próximo de Garotinho e da vice-governadora, a petista Benedita da Silva. Conseguiu que seu irmão, Edmilson Dias Pereira, tivesse legenda e fosse eleito vereador pelo PT. Mais recentemente, assumiu um discurso oposto, com apoio a privatizações. Ressurgiu no PSC após alguns anos sem nenhum destaque.>
Recentemente, Everaldo foi acusado de mandar na Secretaria de Saúde. Na delação premiada firmada com a Procuradoria-Geral de Justiça, o ex-secretário Edmar Santos disse que foi ameaçado no período em que esteve preso no Batalhão Especial Prisional de Niterói, antes de acertar o acordo com a PGR e deixar a cadeia. Segundo ele, um homem que se apresentou como "tenente Cabana", que seria ligado ao presidente do PSC, o abordou para recomendar uma troca de advogado, a fim de que ele não fosse abandonado pelo "grupo". Santos interpretou o aviso como ameaça para que ficasse calado.>
Com a prisão do Pastor Everaldo nesta sexta, o PSC informou que o ex-senador e ex-deputado Marcondes Gadelha, vice-presidente nacional da sigla, assume provisoriamente a presidência do partido.>
Em nota, Pastor Everaldo afirmou que "sempre esteve à disposição de todas as autoridades e reitera sua confiança na Justiça".>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta