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Pessoas negras carregam memória de violência na escola, diz pedagoga

Pessoas negras carregam memória de violência na escola, diz pedagoga

Para Célia Rosa, a questão começa na sala de aula e se desdobra em diversos aspectos do cotidiano, nos espaços ocupados pelos negros na sociedade

Publicado em 9 de julho de 2020 às 08:01

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Manifestante protesta na rua 16 próximo à Casa Branca,  em Washington DC, EUA, onde a placa da via foi renomeada para
Manifestante protesta na rua 16 próximo à Casa Branca, em Washington DC, EUA, onde a placa da via foi renomeada para "Black Lives Matter Plaza" (Praça "Vidas Negras Importam"). (ALEX BRANDON / AP)

A célebre frase de Nelson Mandela de que ninguém nasce racista, mas aprende a odiar outra pessoa é endossada pela pedagoga Célia Rosa.

Mestre em educação pela Unicamp e pequisadora das relações de gênero e raça na educação escolar e familiar, ela defende que não tratar dessas questões dentro da sala de aula contribui para uma educação e uma comunicação mais violenta.

"Nós, pessoas negras, infelizmente temos na nossa bagagem de memória escolar ao longo de nossa trajetória lembrança, sim, de violências, simbólicas e muitas vezes física também", diz.

Rosa participou do Ao Vivo Em Casa da Folha de S.Paulo nesta quarta-feira (8) e explicou a importância de abordar a questão racial dentro de temas populares hoje, como o da comunicação não violenta.

"Infelizmente é recorrente na memória dos negros adultos hoje o professor que fala 'deixa isso [ofensas racistas] para lá, não precisa ligar para isso agora', memória dos apelidos, dos xingamentos, memória das dificuldades de construir vínculo positivo com os professores e o restante da sala, memória de não fazer parte da turma das festinhas ou de ficar sempre estigmatizado como a criança que é problemáticoa, sempre nervosa, agressiva", diz ela.

Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) apontam que, no 5º ano do Ensino Fundamental, enquanto 59,5% dos alunos brancos tinham conhecimento adequado em matemática, os percentuais entre pretos (29,9%) e pardos (49,2%) eram significativamente menores.

Rosa atua na formação de professores para a implementação da lei 10.639, de 2003, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileiros nas escolas do Brasil.

Para ela, a questão começa na sala de aula e se desdobra em diversos aspectos do cotidiano, nos espaços ocupados pelos negros na sociedade.

Diz que é comum quando, desfrutando de um momento de lazer, frequentando um espaço de descanso e consumo, por exemplo, é confundida com um trabalhador. Isso, explica, é consequência de uma educação que constroi uma ideia de o que o negro pode fazer e onde o negro pode estar.

"Se ela não tem outras referências, se ela não tem outra possibilidade de enxergar a pessoa negra, [a criança] vai aprendendo que o lugar da pessoa negra é sempre aquele. É comum as pessoas já entenderem que fica dado que as mulheres negras são trabalhadoras domésticas", exemplifica.

Por isso, Rosa concorda com a ideia de Mandela de que não se nasce racista, mas se aprende a ser racista.

"Dizer para uma crianca que foi xingada e ofendida racialmente que 'olha, não liga para isso, não tem importancia'... você está contribuindo para uma educação violenta, uma comunicação violenta", completa.

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