Publicado em 11 de dezembro de 2019 às 10:07
Entre as tradições de fim de ano, ao lado do show do Roberto Carlos e daquela música da Simone, uma tem ganhado força: a ira de grupos religiosos, sobretudo evangélicos, com o Porta dos Fundos.>
Os protestos de 2019 têm como mote o especial de Natal que o grupo colocou no ar na semana passada na plataforma Netflix, chamado A Primeira Tentação de Cristo.>
É um programa de 46 minutos, em vez dos esquetes curtos pelos quais o Porta é mais conhecido.>
Resumindo para quem não viu (e sem dar spoiler), o enredo satiriza uma das passagens mais importantes da vida de Jesus, quando ele, já perto dos 30 anos, jejua por 40 dias no deserto, após ser batizado.>
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Nesse período, é tentado pelo Diabo, mas resiste às investidas. De volta do retiro, dá início às suas pregações e milagres, até ser crucificado, três anos depois.>
Na versão do Porta, Jesus (Gregório Duvivier) traz um amigo meio esquisitão (Fábio Porchat) para casa, ao retornar do deserto, bem na noite de Natal.>
O filho de Deus vive um romance gay, em outras palavras, para espanto de José, Maria, reis magos e até de Deus.>
A saraivada contra a sátira começou quase que imediatamente.>
A Coalizão pelo Evangelho, grupo que reúne representantes de dezenas de igrejas pelo Brasil, iniciou uma campanha pelo cancelamento da assinatura da Netflix.>
"Manter-me na qualidade de um patrocinador de produções cinematográficas que zombam e vilipendiam o Senhor é o mesmo que esbofeteá-lo, cuspir nele, bater em sua cabeça para lhe enterrar os espinhos da coroa", escreveu o pastor Joel Theodoro, da Igreja Presbiteriana do Bairro Imperial, no Rio de Janeiro.>
Pastor da Igreja Trindade, em São José dos Campos (SP), Thiago Guerra formulou um decálogo sobre qual deveria ser a relação de cristãos com o episódio do Porta veiculado pela Netflix.>
"Todo cristão tem a responsabilidade de ser "sal" nesse mundo, ou seja, evitar a putrefação constante de nossa sociedade. Portanto o engajamento cultural do cristão é uma obrigação", afirma ele, ao explicar por que defende o boicote à plataforma de vídeos como resposta.>
Outro a protestar contra a produção foi o deputado federal Marco Feliciano (Podemos-SP), um dos expoentes da bancada evangélica, que escreveu, numa rede social: "Está na hora de uma ação conjunta das igrejas e pessoas de bem para dar um basta nisso. Unidos somos fortes!".>
Já o ator Carlos Vereza, conhecido por suas posições de direita, chamou os integrantes do Porta dos Fundos de "lamentáveis?, "idiotas pretensiosos" e daí pra baixo.>
No passado, já houve críticas de conservadores ao Porta dos Fundos, em ocasiões em que satirizaram a religião. Eles estão acostumados, portanto.>
O especial de Natal de 2018, por exemplo, ironizava a Santa Ceia, e acabou de ser agraciado com o prêmio Emmy Internacional.>
O grupo também já sofreu críticas de outras formas. Foram processados pelo Botafogo (sim, o time) por um esquete, mas ganharam a ação judicial.>
A assessoria de imprensa do Netflix foi procurada para comentar a campanha de cancelamento de assinaturas, mas não foi encontrada.>
Os integrantes do Porta dos Fundos não responderam aos pedidos de comentário até a conclusão deste texto.>
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