Publicado em 13 de maio de 2021 às 18:02
A juíza Denise Aparecida Avelar, da 6ª Vara Cível Federal de São Paulo, condenou o governo Jair Bolsonaro a pagar indenização de R$ 200 mil por danos morais coletivos em razão de declarações do ministro da Educação, Milton Ribeiro, que, em entrevista ao Estadão, atribuiu a homossexualidade de jovens a 'famílias desajustadas'. A magistrada entendeu que as falas de Ribeiro têm 'contornos de discriminação e preconceito, visando a marginalização de parcela da população em prol de supostos "princípios e valores" assumidos'.>
"Posturas dessa natureza tendem a desestabilizar a paz social e correm à contramão da evolução política e jurídica referente às conquistas sociais dos últimos anos, implicando em violação direta às garantias constitucionais da igualdade e da dignidade da pessoa humana", escreveu a juíza em despacho dado nesta quarta, 12.>
A decisão acolheu parcialmente um pedido feito por nove coletivos e associações voltadas para defesa dos direitos da população LGBTI+, que classificaram as declarações de Ribeiro como discursos de ódio, destacando que o ministro utilizou do cargo para 'destilar vis palavras que reforçam preconceito'. O petição inicial requeria R$ 5 milhões por danos morais. Patrícia Mannaro, uma das advogadas que assina a ação, informou que vai recorrer da decisão proferida nesta quarta, pedindo a majoração do valor da indenização.>
A entrevista em que atribuiu a homossexualidade a 'famílias desajustadas' foi concedida por Milton Ribeiro ao Estadão dois meses após o pastor presbiteriano assumir o MEC. Na ocasião, afirmou: "Falta atenção do pai, falta atenção da mãe. Vejo menino de 12, 13 anos optando por ser gay, nunca esteve com uma mulher de fato, com um homem de fato e caminhar por aí. São questões de valores e princípios", declarou.>
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A PGR chegou a pedir ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito para apurar suposto crime de homofobia cometido pelo ministro. O vice-procurador-geral, Humberto Jacques de Medeiros apontou que as declarações de Ribeiro se trataram de 'manifestações depreciativas a pessoas com orientação sexual homoafetiva'.>
Em nota, Ribeiro disse que sua declaração foi 'interpretada e modo descontextualizado' e que 'jamais' pretendeu 'discriminar ou incentivar qualquer forma de discriminação em razão de orientação sexual'. Em depoimento prestado à Polícia Federal em fevereiro, o ministro pediu desculpas sobre as declarações e disse que não quis 'desrespeitar ninguém' com a fala e afirmou que, na sua visão, 'a família dos gays são famílias como a sua'.>
À Justiça Federal em São Paulo, o ministro alegou 'respeito aos cidadãos de orientação homossexual, contrapondo, todavia, que discordava da discussão do tema se dar em sala de aula, por entender que referido papel incumbe à família'.>
Ao analisar o caso, a juíza Denise Avelar considerou que as falas de Ribeiro 'excedem o limite da opinião pessoal e investem diretamente contra a imagem da população LGBTI+'.>
A magistrada ressaltou que a situação 'se reveste de maior gravidade' por envolver um ministro de Estado, 'a quem compete, institucionalmente, o estabelecimento de políticas públicas para a erradicação das diversas formas de discriminação ainda presentes na sociedade'.>
"Dessa forma, em face da gravidade do conteúdo proferido pelo Ministro da Educação, na entrevista concedida na data de 20.09.2020, resta configurado o dano moral coletivo, como aduzido pelas associações autoras, bem como o dever da União Federal em repará-lo", registrou.>
Com o julgamento da ADO 26, que criminalizou a lgbtifobia como crime de racismo, as condutas discriminatórias por orientação sexual e identidade de gênero ganharam o direito merecido de serem punidas no rigor da lei. Em entrevista para o jornal O Estado de São Paulo em setembro de 2020, o Ministro da Educação, Milton Ribeiro, fez declarações homotransfóbicas severas, utilizando as mídias sociais para disseminar o preconceito valendo-se de seu cargo.>
Diante disso fatos, criamos um grupo de trabalho, eu, Dra. Amanda Souto e Dra. Luanda Pires e distribui a Ação Civil Publica contra a União e o Sr. Ministro da Educação. Conseguimos êxito em demonstrar a lgbtifobia institucional, dado o fato que as declarações não possuíam qualquer fundamento legal ou médico.>
A Justiça entendeu que a discriminação realizada seria de responsabilidade da União tendo em vista que as declarações foram realizadas em função do cargo de Ministro da Educação.>
Considero uma importante vitória e um marco histórico em nosso país, pela primeira condenação nesse sentido atribuía a União.>
Esperamos que essa decisão da justiça iniba outras posturas segregados e discriminatórias por parte do Estado e demais pessoas que utilizam-se da mídia para estimular homotransfobia.>
Agora iremos recorrer da decisão, buscando majoração da indenização. O dano foi Nacional e atingiu a todas as pessoas LGBTI+ e suas famílias.>
Não podemos nos calar, o silêncio fomenta o preconceito.>
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