Publicado em 23 de setembro de 2020 às 11:10
Focos de incêndio iniciados em nove fazendas do Pantanal destruíram 141.773 hectares de vegetação, uma área pouco menor do que o município de São Paulo. >
Quatro dessas fazendas foram identificadas pela Polícia Federal (PF), na Operação Matáá, que investiga queimadas ilegais no Pantanal de Mato Grosso do Sul. A soma desses focos foi responsável pela destruição de 25 mil hectares.>
As outras cinco propriedades rurais se localizam em Mato Grosso e desataram incêndios que teriam destruído 116.773 hectares.>
O levantamento é da ONG Repórter Brasil após cruzamento de dados do Instituto Centro de Vida (ICV) com os dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR). A reportagem confirmou as informações.>
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Tanto a PF quanto o ICV cruzaram o monitoramento satelital dos focos de calor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais) e da Nasa, a agência espacial norte-americana.>
Desde o início do ano até domingo (20), a área queimada no Pantanal alcançou 3.179.000 hectares, o equivalente a 21,2% do bioma. Apesar de ter a menor parte do Pantanal, Mato Grosso é o estado mais devastado, com 1.941.000 hectares.>
Os números são do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e foram repassados à reportagem pelo Ibama.>
Uma das fazendas identificadas pela Repórter Brasil é fazenda Comitiva, localizada no município de Poconé (MT), a 104 km a sudoeste de Cuiabá. O fogo começou ali no dia 20 de julho e se espalhou pelo entorno, queimando 25.188 hectares.>
Localizado pela ONG, o proprietário, Raimundo Costa, informou que o fogo começou após a explosão de um veículo e destruiu 40% de sua fazenda, de 15 mil hectares.>
Em Mato Grosso do Sul, um dos fazendeiros investigados é Ivanildo Miranda, dono da fazenda Bonsucesso. A informação foi revelada pelo programa Fantástico, da Rede Globo. Via advogado, ele negou ter iniciado as queimadas.>
Miranda frequentou o noticiário nos últimos anos após ter confessado ser operador do ex-governador André Puccinelli (MDB) em esquema de propina da JBS em Mato Grosso do Sul para obter incentivos fiscais.>
Além disso, perícias do Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional (Ciman), do governo de Mato Grosso, indicam que um foco iniciado em fazenda devastou a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), em Poconé.>
O Ciman identificou um acidente automobilístico, o incêndio acidental de uma máquina agrícola, faísca de fiação elétrica e o uso do fogo para retirada de mel como outros focos de queimadas no Pantanal de Mato Grosso.>
Assim como na Amazônia, o fogo é utilizado por fazendeiros e agricultores no Pantanal para limpeza de pasto e para o desmatamento de áreas de mata nativa.>
Em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a proibição do uso de fogo em propriedades rurais começou em 1º de julho e continua em vigor. Além disso, decreto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) proibiu queimadas no país por 120 dias, a partir de 16 de julho.>
As proibições legais não impediram que os focos de incêndio pelo Pantanal, que enfrenta a mais forte seca em décadas.>
Até o último dia 16, o Pantanal já acumulava 5.603 focos de calor, segundo o Inpe. Mesmo na metade de setembro, trata-se do maior número registrado na série histórica para este mês.>
Apesar das diversas provas de ação humana, Bolsonaro disse nesta terça (22), em discurso para a ONU, que o fogo no Pantanal foi provocado pela temperatura alta deste ano e pelo "acúmulo de massa orgânica em decomposição".>
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