Publicado em 30 de outubro de 2019 às 16:11
Agência FolhaPress - O vídeo em tom agressivo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) em reação à citação do nome na investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco foi recebido como ameaça à liberdade de imprensa por entidades do setor.>
"Vocês não têm vergonha na cara. Essa patifaria 24 horas por dia contra minha pessoa. Até a Marielle Franco querem empurrar para cima de mim", disse Bolsonaro no vídeo ao vivo divulgado após a exibição de reportagem da TV Globo que revelou a citação, nesta terça-feira (29).>
O presidente deu a entender que não renovaria a concessão da emissora, intimidação que não se repete contra emissoras cuja cobertura Bolsonaro considera alinhada ao governo.>
O vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Cid Benjamin, afirmou que se trata de mais uma "demonstração de destempero" do presidente.>
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"Estamos diante de mais uma demonstração de destempero do presidente Jair Bolsonaro. Para ele, a única imprensa que serve é a que se alinha incondicionalmente com os absurdos que ele diz ou que esse governo comete".>
"É hora de o presidente acabar com essa postura de raiva e represália, que ameaça envenenar o tecido social brasileiro. A liberdade de imprensa é garantida pela Constituição e a relação de qualquer governante com a imprensa deve ser sempre de garantia dessa liberdade, nunca de represália ou perseguição", disse, em nota, o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz.>
A reação de Bolsonaro à reportagem foi entendida pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) como uma agressão descabida. "Em uma democracia, o que se espera de um governante é que preste contas de seus atos, e não que ataque a imprensa quando esta revela fatos que desagradem a ele", disse Daniel Bramatti, presidente da Abraji, por meio de nota.>
"A mais recente agressão de Jair Bolsonaro a jornalistas e ao jornalismo, reforçada por seus filhos, é descabida. Ao insinuar possível retaliação a um veículo e a jornalistas por contrariedade em relação a uma reportagem, o presidente promove mais um grave ataque à liberdade de imprensa", acrescentou Bramatti.>
Os constantes ataques à imprensa, incluindo ameaças à Folha de S.Paulo, já vinham sendo criticados pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) antes mesmo da posse de Bolsonaro, diz a presidente da entidade, Maria José Braga.>
"Nós estamos tendo um acirramento de uma posição que não é nova. Ele já demonstrou hostilidade com a imprensa e com os jornalistas. Não nos causa espanto, mas nos causa indignação. Mais uma vez Bolsonaro não se comporta como um presidente, não respeita a liturgia do cargo, usa sua posição para desacreditar a imprensa e disseminar hostilidade entre seus seguidores contra os seus jornalistas. É muito grave", afirma Braga. >
"Ele já ameaçou Glenn Greenwald de prisão apenas por realizar seu trabalho, já admitiu que a medida para acabar com publicação de balanços de empresas em jornais era uma retaliação ao jornal Valor e agora ameaça não renovar a concessão da Globo", diz a presidente da Fenaj. >
"As concessões precisam ser avaliadas pelo aspecto técnico, não pode usar a prerrogativa para ameaçar a Globo ou qualquer outro veículo.">
As emissoras de rádio e TV no Brasil são concessões públicas. A da TV Globo vence em 2023. A concessão é renovada ou cancelada pelo presidente, e o Congresso pode referendar ou derrubar na sequência o ato presidencial em votação nominal de 2/5 das Casas (artigo 223 da Constituição).>
A concessão vence em 15 de abril de 2023. Segundo lei aprovada pelo governo Temer, no entanto, o presidente pode decidir sobre a concessão até um ano antes de ela vencer -ou seja, em abril de 2022, no início do último ano do mandato de Bolsonaro.>
Bolsonaro também falou que se a Globo "tivesse o mínimo de decência" não poderia divulgar as informações, já que o processo corre em segredo de Justiça. Porém, o presidente da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), Luiz Adolfo Lino de Souza, explica que não há ilegalidade na reportagem do canal.>
"Não existe nenhuma infração. Os repórteres fizeram o trabalho deles. A empresa agiu como deveria agir com o interesse público. Ele é presidente, foi citado e a emissora está apenas reportando um acontecimento que é muito grave para a vida nacional. É perfeitamente possível que o jornalista tenha acesso a esse tipo de material e mantenha o sigilo de sua fonte", diz Souza.>
Procurada, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) não se manifestou até a publicação deste texto.>
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