Publicado em 9 de abril de 2020 às 15:40
Em um estudo brasileiro, numa colaboração entre o Hospital Israelita Albert Einstein e o Labdaps (Laboratório de Big Data e Análise Preditiva em Saúde) da USP, a inteligência artificial conseguiu acertar o diagnóstico de Covid-19 em 78% das vezes. >
Os cientistas agora esperam ampliar a pesquisa para direcionar os escassos testes do novo coronavírus para alvos mais certeiros, ou seja, pacientes que tenham maior chance de estarem infectados.>
Os pesquisadores da parceria, que teve início pelo Proadi-SUS, alimentaram algoritmos de inteligência artificial com dados de cerca de 164 pacientes com suspeita de Covid-19 e que já tinham realizado exames RT-PCR para detectar o vírus.>
As informações dos pacientes, como exames de sangue, foram usadas para treinar o algoritmo a identificar padrões que pudessem apontar a infecção pelo Sars-CoV-2.>
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Após o treino, o algoritmo foi testado com outros 235 pacientes do Einstein. Em 78% das vezes, o algoritmo teve sucesso em apontar o diagnóstico, positivo ou negativo.>
O resultado é melhor do que os dos testes rápidos que o governo brasileiro recebeu em forma de doação, destinados para médicos, e que têm limitações. O exame tem uma chance de errar em 75% das vezes quando aponta que uma pessoa não está infectada. Para resultado positivo para contaminação, a taxa de acerto do teste rápido sobe para 86%. Os exames RT-PCR são mais precisos, mas por outro lado seu resultado demora mais.>
Mas, segundo os pesquisadores envolvidos na pesquisa, a ideia não é substituir os testes pelo algorítimo, mas oferecer uma ferramenta aliada para a tomada de decisão no dia a dia da pandemia, principalmente enquanto os resultados dos testes não ficarem prontos.>
No dia 30 de março, o estado de São Paulo tinha uma fila de 12 mil exames de coronavírus. Na época, o governo disse que sua capacidade era de realizar mil testes por dia. A partir do dia 2, subiria para 3.000 e, a partir do dia 10 de abril, seria de 8.000.>
O modelo desenvolvido pode ser importante, por exemplo, para ajudar a equipe a diferenciar a Covid-19 da gripe, que começa a aparecer com mais força nos próximos meses.>
Um dos pontos positivos do modelo desenvolvido é que a predição do diagnóstico foi possível com dados simples e baratos, obtidos através de exames de sangue comuns. As variáveis mais importantes são os dados sobre linfócitos, leucócitos, granulócitos eosinófilos, granulócitos basófilos e hemoglobinas.>
O esperado é que a taxa de acerto aumente conforme o algoritmo receba mais dados.>
"A tendência é que vá aprendendo cada vez mais e já estamos alimentando com mais dados", diz André Filipe de Moraes Batista, pesquisador do Einstein e do departamento de epidemiologia da Escola de Saúde Pública da USP que está envolvido no projeto. "Estamos diante de um fenômeno que não conhecemos ainda. Com novos dados e mais treinamento, pode ser que descubramos novos padrões.">
A ideia agora é que outros hospitais abram e enviem seus dados para que o algoritmo possa continuar a ser treinado e validado para um possível uso cotidiano.>
"Quando você desenvolve algoritmos, é importante que os coloque na mão de quem vai usá-lo", diz Édson Amaro, médico e superintendente de ciência de dados e analytics do Einstein.>
Segundo ele, é necessário achar o ponto ideal na linha de atendimento no qual a tecnologia faça sentido e entender se ela realmente consegue mudar o fluxo de trabalho dos profissionais de saúde.>
Os pesquisadores afirmam que o "machine learning" pode ainda contribuir em outras áreas do combate à pandemia e que já há estudos nesse sentido sendo publicados. Os algoritmos podem ajudar, por exemplo, a indicar o prognóstico dos casos de Covid-19, uma possível necessidade futura de respirador e a chance de mortalidade.>
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