Publicado em 15 de agosto de 2020 às 10:17
Com a saída do MDB do chamado blocão da Câmara dos Deputados, o presidente Jair Bolsonaro deu início a uma estratégia para garantir que o partido se mantenha alinhado nas principais votações de interesse do governo federal.>
Para dissipar o receio de derrotas ou fragilidade na Casa, Bolsonaro tem se esforçado por uma aproximação com o ex-presidente Michel Temer (MDB), um dos caciques da legenda e indicado para chefiar a missão humanitária do Brasil no Líbano.>
Além disso, o Palácio do Planalto mira também a presidência da Câmara. Ao trazer o MDB para perto, Bolsonaro busca aproximação com o deputado Baleia Rossi (SP), líder e presidente do partido, apontado como pré-candidato à eleição que definirá o sucessor de Rodrigo Maia (DEM-RJ).>
A articulação para ter os emedebistas como aliados é vista como estratégica também para garantir a popularidade do presidente.>
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Pesquisa Datafolha publicada nesta quinta-feira (13) mostra que Bolsonaro apresentou a melhor avaliação de governo desde o início do mandato.>
Segundo o levantamento, 37% dos brasileiros consideram seu governo ótimo ou bom, ante 32% da pesquisa anterior, realizada em junho.>
Mais acentuada ainda foi a queda na curva da rejeição. Caíram de 44% para 34% os que o consideravam ruim e péssimo. A avaliação regular passou para 27%, ante 23% em junho.>
O MDB tem a quinta maior bancada da Câmara, com 35 deputados.>
O partido fazia parte do blocão, que tinha 221 congressistas, e foi criado formalmente para garantir ao grupo a maior parte das indicações de membros da CMO (Comissão Mista de Orçamento).>
A legenda, no entanto, buscava se afastar do chamado centrão, que reúne uma série de legendas que hoje atuam como base de Bolsonaro, justamente para se desconectar do governo e reafirmar posição de independência.>
Para isso, o MDB decidiu sair do blocão, já que este grupo além de ser composto por boa parte das siglas do centrão, é também comandado por Arthur Lira (AL), líder do PP e principal representante desse segmenrto de deputados.>
A formalização da saída do MDB ocorreu no dia 27 de julho, em uma decisão tomada com o DEM --ao todo, são 63 deputados. A decisão acendeu o alerta no governo.>
Como gesto ao MDB, Bolsonaro escolheu Temer como chefe da missão que presta ajuda ao Líbano, palco de uma explosão que deixou 220 mortes, além de milhares de feridos.>
Dirigentes do MDB já sinalizaram ao Planalto que a legenda votará sempre a favor de reformas consideradas estruturantes, como a tributária. A previsão é que a matéria seja apreciada neste segundo semestre. Eles não garantem, contudo, a mesma postura sobre as demais pautas.>
A preocupação de Bolsonaro é de que a sigla reforce sua postura de independência em temas considerados estratégicos para a tentativa de reeleição, dificultando, por exemplo, a aprovação de vitrines eleitorais, como o Renda Brasil, uma reformulação do Bolsa Família, e a extensão com outro valor do auxílio emergencial.>
A sucessão do presidente da Câmara é outro pano de fundo. No Planalto, já é dado como certo que o candidato que tiver o apoio de Rodrigo Maia terá votos tanto na esquerda como no centro e deverá polarizar a disputa com um dos nomes do bloco do centrão, atual aliado de Bolsonaro.>
Segundo ministros palacianos, o favorito de Bolsonaro é Lira. Líder formal do blocão, com 156 deputados, ele comanda congressistas de PL, PP, PSD, Solidariedade, Pros, PTB e Avante. Lira, porém, é ainda líder informal do centrão. Entram aí partidos como Republicanos e PSC.>
Com receio de antecipar a participação na disputa e referendar alguém sem vitória certa, Bolsonaro decidiu se afastar e movimentar peças que garantam a ele aproximação com outros pré-candidatos.>
Um deles é justamente Baleia, do MDB, por quem o presidente tem simpatia. É considerado um nome mais palatável aos eleitores bolsonaristas por sua imagem não ser tão associada ao grupo partidário.>
Além disso, ele é menos lembrado por escândalos de corrupção. O PP, legenda de Lira, foi uma das siglas mais atingidas pela Lava Jato.>
Quando o MDB deixou o blocão no fim do mês passado, integrantes do PP defenderam que o Planalto retirasse cargos do partido na máquina pública como uma forma de retaliação caso eles não votassem com o governo.>
Com receio de derrotas legislativas, Bolsonaro adotou postura contrária. O presidente não mexeu em nenhum cargo e ainda acenou com mais espaço para o MDB em postos de vice-liderança no Senado e no Congresso. Ele pretende fazer as mudanças até o fim deste mês.>
A ponte do presidente com o MDB tem como principais interlocutores o deputado federal Fábio Ramalho (MDB-MG) e o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, também filiado ao partido.>
O primeiro já promoveu dois almoços para o presidente no Planalto e levou um grupo de deputados.>
Já Skaf, segundo assessores presidenciais, tem atuado junto à cúpula do partido. Foi ele quem ajudou a viabilizar o convite de Bolsonaro para que Temer liderasse a missão humanitária no Líbano.>
Segundo empresários paulistas, o dirigente da entidade avalia se lançar candidato ao Governo de São Paulo em 2022. O desejo é ter o apoio de Bolsonaro, seja pelo MDB, seja pela Aliança, partido que o presidente tenta criar.>
A aproximação entre Bolsonaro e Temer, que se tornou uma espécie de conselheiro presidencial, se intensificou no início deste mês. Porém, ambos já tinham uma relação de confiança desde a transição de governo.>
De acordo com aliados do ex-presidente, Temer ganhou a confiança de Bolsonaro quando, na transição, determinou que a equipe ministerial abrisse todos os dados do governo para facilitar a entrada do novo presidente.>
No ano passado, ambos chegaram a conversar pelo telefone poucas vezes. Os dois foram contemporâneos na Câmara, mas não eram próximos --Bolsonaro era do baixo clero. Temer presidiu a Casa.>
Neste ano, no entanto, no auge da crise entre o Executivo e o Judiciário, quando foi cogitada a abertura de processo de impeachment contra Bolsonaro, a relação dos dois se estreitou.>
Dias após o episódio em que apoiadores de Bolsonaro atiraram fogos de artifício contra o STF (Supremo Tribunal Federal), Bolsonaro e Temer se falaram ao telefone. O emedebista defendeu ao presidente que ele afastasse o então ministro da Educação, Abraham Weintraub.>
Temer ainda recomendou ao presidente que diminuísse as críticas aos ministros do Supremo, buscasse um canal de diálogo e não desse mais entrevistas à imprensa na portaria do Palácio da Alvorada.>
Os conselhos do emedebista foram seguidos por Bolsonaro, que iniciou uma fase de aproximação ao bloco do centrão e de postura "paz e amor", que se estende há quase dois meses sem ataques diretos ao Supremo e ao Congresso.>
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