Publicado em 23 de março de 2020 às 09:50
Com os trabalhos da equipe econômica voltados ao enfrentamento da crise do coronavírus e o cancelamento de várias reuniões presenciais no Congresso, parlamentares já falam em um ano perdido para as reformas tributária e administrativa.>
Se 2020 já teria um calendário apertado por causa das eleições municipais que monopolizam congressistas no segundo semestre, a disseminação da Covid-19 pelo mundo e seus efeitos na economia paralisaram muitos dos que tentavam fazer andar as duas reformas na primeira metade do ano.>
Apesar de o governo nunca ter enviado ao Congresso suas propostas para as reformas tributária e administrativa (que muda regras para futuros servidores federais), elas eram tidas como prioridade na agenda do ministro Paulo Guedes (Economia).>
Após ele ter enviado uma lista de 48 medidas para serem tocadas pelo Congresso como resposta à pandemia, a lista foi encolhida.>
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Hoje, trata como prioridade três medidas, que enfrentam algum grau de resistência no Legislativo -a PEC (proposta de emenda à Constituição) do Pacto Federativo, a privatização da Eletrobras e o Plano Mansueto, de socorro aos estados.>
Uma das três propostas, a da privatização da Eletrobras, foi até retirada do Orçamento por causa das dificuldades para ser aprovada.>
Enquanto isso, os outros temas têm ficado em segundo plano.>
"Não creio que, neste ano, teremos condições de oferecer a reforma tributária. Vamos perder mais um ano. A reforma administrativa não é conhecida, mas já é rejeitada", diz Alvaro Dias (PR), líder do Podemos no Senado, a terceira maior bancada da Casa.>
Embora sem a proposta do governo, a comissão de reforma tributária começou a trabalhar e, se não tivesse sido cancelada por causa da pandemia, receberia Guedes.>
Os congressistas tinham a esperança de que ele apareceria com as diretrizes do governo para o texto em discussão.>
"Se não dá para fazer reunião, nada impede que ele [Guedes] mande a proposta. Estou aguardando. Estamos trabalhando a quatro mãos. Mas estão faltando duas", disse o senador Roberto Rocha (PSDB-MA), que preside o colegiado e insiste em que, apesar da desaceleração no ritmo dos trabalhos, ainda tem esperança no cumprimento do calendário da reforma.>
O secretário especial da Receita Federal, José Barroso Tostes Neto, disse que iria mandar a proposta do Executivo sobre o tema na terça (17), mas postergou por causa da paralisação dos trabalhos.>
Agora, a equipe econômica está em regime de força-tarefa para analisar os estragos do coronavírus e medidas para amenizar o problema.>
Na equipe econômica, a visão é que o ano não chega a estar perdido, e a chance de tramitação das matérias pode voltar a subir em algum momento. Mas é reconhecido que o cenário neste momento está "bem mais complicado".>
A Bolsa brasileira terminou a semana com queda acumulada de 18,9%, o pior desempenho para o período desde a segunda semana de outubro de 2008, ano da última crise financeira, quando o índice caiu 20%.>
A crise levou o governo a cortar a projeção oficial para o crescimento do PIB em 2020 de 2,10% para 0,02%.>
Até quem tenta nutrir alguma esperança no andamento ao menos da reforma tributária reconhece que ela só poderá ser retomada após a superação da crise.>
Na sexta-feira (20), o ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) afirmou que a curva de transmissão do novo coronavírus no Brasil só deve apresentar "queda profunda" em setembro.>
"Podemos retomar a discussão ainda no primeiro semestre, mesmo que remotamente. Se não der para votar, ao menos cumprir os prazos. Reduz o ritmo? Lógico. Mas não dá para descartar", afirma o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), para quem a outra reforma, a administrativa, "vai ficando cada vez mais para um segundo momento".>
O líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), lembra que medidas estão sendo tomadas para que o Congresso não pare de funcionar por causa do coronavírus.>
Na sexta, foi realizada a primeira votação a distância da história do Legislativo.>
A partir desta semana, Câmara e Senado começam a usar sistemas de deliberação remota. Isso permite que deputados e senadores votem de suas casas, sem necessidade de viajar a Brasília.>
"Estamos fazendo um esforço absoluto sobre o tema [reformas], inclusive implementando um sistema de votação a distância. Mas, sem dúvida, as coisas estão mais complicadas. Acredito que tudo é sempre viável, mas não sabemos como vai ser nem sequer o dia de amanhã", diz Braga.>
Antigo aliado do governo e agora independente, o líder do PSL, senador Major Olímpio (SP), diz já não acreditar que uma reforma administrativa chegue ao Congresso neste ano.>
"Desde novembro que ouço [o governo dizer] 'eu encaminho'. Se tivesse amarrado a reforma no casco de uma tartaruga manca vinda do [Palácio do] Planalto até o Congresso, já teria chegado", afirma Olímpio.>
O pessimismo é semelhante em relação à reforma tributária.>
Ele diz não ver mais possibilidade de que ela avance neste ano. "Lamentavelmente, vai ser um ano perdido em relação a isso.">
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