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Cidadão comum puxa aumento de registros de novas armas na PF

Cidadão comum puxa aumento de registros de novas armas na PF

Dados apontam que 170,9 mil armas foram registradas pelo cidadão comum em 2021. Especialista afirma que crescimento também é marcado pela falta de confiança da população nas instituições de segurança pública

Publicado em 2 de agosto de 2022 às 10:13

O aumento nas armas liberadas pela Polícia Federal foi liderado pelo cidadão comum. A categoria respondeu por 84,4% dos registros de novas armas em 2021 contra 72,6% em 2018.

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Cidadão comum foi responsável por aumento de registro de armas na Polícia Federal Crédito: Shutterstock

É pela Polícia Federal que o cidadão comum pode ter a posse de arma para defesa pessoal. Também são liberadas pelo órgão as armas da Polícia Civil, guarda municipal, caçador de subsistência, servidor público, segurança privada e lojas de armas.

Os dados apontam que o cidadão comum foi responsável pelo registro de 170,9 mil armas em 2021. O quantitativo é 361% maior que em 2018, quando chegou a atingir 37 mil novos registros.

Os dados sobre novas armas registradas foram obtidos pela Folha de São Paulo a partir de um pedido de LAI (Lei de Acesso à Informação) enviado à PF.

O crescimento ocorre em paralelo a atos e discursos de Bolsonaro desde a campanha de 2018. O presidente, sua família e vários de seus apoiadores são ferrenhos defensores do armamento da população.

Desde quando foi eleito, o presidente editou 19 decretos, 17 portarias, duas resoluções, três instruções normativas e dois projetos de lei flexibilizando as regras para acesso a armas e munições no Brasil.

As medidas adotadas por seu governo ampliam o acesso da população a armas e munições e, por outro lado, enfraquecem os mecanismos de controle e fiscalização de artigos bélicos.

Na sua gestão, Bolsonaro estimulou o cidadão comum a se armar. Inclusive, deu acesso à população a calibres mais poderosos, como pistolas 9mm e .40, antes restritas às forças policiais.

"O crescimento era esperado tendo em vista as normas editadas no governo Bolsonaro que flexibilizam o acesso a armas e munições e também pelo incentivo público do presidente e de outras figuras públicas à compra de armas", disse Natália Pollachi, gerente de projetos do Instituto Sou da Paz.

Ivan Marques, advogado e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, acrescentou que o crescimento também é marcado pela deterioração da confiança das pessoas nas instituições de segurança pública e a promoção da ideia de que ter armas resolve o problema de segurança.

Para o especialista, mudanças nas regras também facilitaram o acesso da população a armas adquiridas pela Polícia Federal.

A declaração de efetiva necessidade, por exemplo, continua a ser necessária por constar no Estatuto do Desarmamento, mas a veracidade passou a ser presumida. Com isso, o simples documento é suficiente para comprovação.

"Em 2019, o governo Bolsonaro extinguiu a possibilidade do controle de concessão de licenças pela PF ao decretar o fim da avaliação de necessidade de ter uma arma. Esse era o único controle político do processo de obtenção de armas. O processo virou algo meramente burocrático", disse.

Pollachi destaca ainda que o cidadão comum no governo Bolsonaro pode apresentar parte dos documentos online, sem precisar ir à sede da PF, o que pode influenciar na agilidadade da análise do pedido.

Na avaliação da pesquisadora, a flexibilização ocorreu muito mais por parte do Exército e, por conta disso, muitas pessoas têm optado por virar CAC (caçador, atirador e colecionador).

No Brasil, as armas são liberadas pela PF e pelo Exército. Na Força, ficam registradas armas de CACs, das Forças Armadas e o armamento particular de militares (incluindo policiais e bombeiros).

O porte de arma, por sua vez, é concedido pela PF, sendo restrito a determinados grupos, como profissionais de segurança pública, membros das Forças Armadas, policiais e agentes de segurança privada.

Aos CACs foi permitido carregar a arma no trajeto entre sua casa e o local de prática (clube de tiro ou local de caça), sem restrição de rota ou de horário. Segundo especialistas, significa autorização para o porte, dada a subjetividade da regra.

Além disso, tem ocorrido a aprovação de projetos apresentados por parlamentares em assembleias estaduais e até em Câmaras Municipais que tentam garantir ao CAC o direito de andar armado, justificando que essa seria uma atividade de alto risco, embora esse seja assunto de competência exclusivamente federal.

Como a Folha de S.Paulo mostrou, o registro de armas novas pela Polícia Federal cresceu mais nos estados nos quais o presidente Jair Bolsonaro (PL) venceu no segundo turno das eleições de 2018.

Entre 2018 e 2021, o número de novas armas registradas passou de 39 mil para 163,7 mil nas 16 unidades da federação que preferiram Bolsonaro, uma alta de 320%.

Já nos 11 estados nos quais Fernando Haddad (PT) venceu no segundo turno, o aumento foi de 223%, saindo de 12 mil para 38,8 mil.

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