Publicado em 1 de fevereiro de 2020 às 13:20
A mais recente crise política com o ministro da Justiça, Sergio Moro, levou Jair Bolsonaro a colocar novamente o ex-juiz da Lava Jato como seu preferido para substituir o ministro Celso de Mello no STF (Supremo Tribunal Federal).>
O decano se aposentará em novembro, abrindo espaço para o presidente emplacar seu primeiro nome na corte.>
Aliados de Bolsonaro veem no gesto de indicar Moro um movimento para blindar um cenário em que ele pode surgir como seu adversário na disputa presidencial de 2022.>
Segundo relatos feitos à reportagem, o ministro tratou da possibilidade de ir para o STF em conversa com o presidente após a polêmica sobre a recriação do Ministério da Segurança Pública, hoje integrado à pasta da Justiça.>
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O diálogo reservado foi apelidado por integrantes da equipe de Moro como uma "DR", uma discussão da relação.>
A indicação para o Supremo também abriria espaço para que o chefe do Executivo tenha mais ingerência no Ministério da Justiça, algo que ele vem buscando desde o começo do governo.>
Um dos pontos sensíveis é a Polícia Federal. A saída de Moro pavimentaria o caminho para Bolsonaro mexer no seu comando, desejo já sinalizado por ele no ano passado.>
Em julho de 2019, em aceno à bancada evangélica, o presidente havia definido que escolheria para o Supremo um jurista com respaldo da comunidade religiosa.>
"Poderei indicar dois ministros para o Supremo Tribunal Federal. Um deles será terrivelmente evangélico", disse.>
O ministro da AGU (Advocacia Geral da União), André Mendonça, surgiu então como primeira opção, tendo sido citado pelo próprio Bolsonaro.>
Nos bastidores, no entanto, o presidente passou agora a cogitá-lo para a segunda cadeira a ficar no vaga no STF, a do ministro Marco Aurélio Mello, que tem aposentadoria prevista para 2021.>
Para essa posição também está na lista de possibilidades o ministro da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, que vem ganhando prestígio junto ao presidente.>
Bolsonaro chegou a dizer que havia reservado uma das vagas a Moro, que deixou a magistratura para se tornar ministro do governo.>
O presidente, porém, depois negou haver qualquer acordo e disse apenas buscar alguém com o perfil do ex-juiz.>
Segundo assessores, a nova mudança de entendimento, a favor de uma indicação já neste ano, se deu após o mal-estar surgido com a intenção do presidente de desmembrar a pasta da Justiça, criando um ministério separado para a Segurança Pública.>
Bolsonaro articulou uma reunião com secretários estaduais de Segurança sem a presença do ministro, que tem usado a segurança como uma das suas bandeiras de gestão.>
Naquele momento, Moro disse a aliados que, se a manobra ocorresse, deixaria o governo. O atrito provocou reação forte de apoiadores do ex-juiz, que passaram a pressionar o presidente nas redes sociais.>
Bolsonaro recuou e disse que, por enquanto, a possibilidade de dividir a pasta está engavetada.>
Se antes pretendia segurar Moro no governo pela hipótese de tê-lo como candidato a vice em 2022, agora o presidente considera que a indicação ao STF é uma maneira de evitar que ele se torne um adversário nas urnas. Ao mesmo tempo, é uma estratégia para ganhar mais autonomia sobre seu próprio governo.>
Com popularidade maior que a de Bolsonaro, como apontou pesquisa Datafolha do fim de 2019, Moro ganhou no Palácio do Planalto o apelido de "ministro indemissível" e se tornou, na avaliação de auxiliares do governo, um contraponto ao presidente na Esplanada.>
Então juiz da 13ª Vara Criminal da Justiça Federal em Curitiba e responsável pela Operação Lava Jato, Moro foi convidado para o cargo por Bolsonaro logo após a vitória na eleição de 2018. Chegou ao governo com a promessa de que assumiria um "superministério" e a missão de reforçar o combate à corrupção e ao crime organizado.>
No início da semana, em entrevista ao programa Pânico, da rádio Jovem Pan, o ministro mandou um sinal ao Planalto ao se referir a uma eventual indicação ao STF como uma "perspectiva interessante".>
"Venho da magistratura, seria algo interessante. Mas a escolha evidentemente cabe ao presidente da República. Ele tem a possibilidade de me indicar, pode indicar outras pessoas", disse Moro na entrevista.>
Além de evitar o risco de Moro se tornar um oponente de Bolsonaro na próxima disputa presidencial, a indicação ao STF evita que o presidente entre novamente em conflito com o ministro, por causa do comando da PF.>
O presidente pretende colocar à frente da força policial o atual diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Alexandre Ramagem. Delegado da PF, ele atuou na segurança de Bolsonaro logo após as eleições de 2018 e se tornou seu amigo.>
O nome preferido de Bolsonaro, no entanto, não tem o apoio de Moro, que defende a permanência de Maurício Valeixo ou a escolha do diretor-geral do Depen (Departamento Penitenciário Nacional), Fabiano Bordignon.>
O presidente, que pretendia fazer a troca já em fevereiro, deve segurá-la para o final do ano, às vésperas da escolha do nome para o STF.>
A possível indicação de Moro ao Supremo tem a simpatia do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e conta com o apoio da ala lavajatista do Senado, onde os indicados para o STF são sabatinados.>
No entanto, enfrenta resistência de um grupo de parlamentares com processos em andamento.>
Para eles, o ingresso de Moro no Supremo pode mudar o equilíbrio de forças na corte, prejudicando-os.>
Também há questionamentos em razão de conversas vazadas entre Moro e o procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol. Os diálogos indicam que Moro, enquanto juiz, orientou o trabalho da Procuradoria, o que é barrado pela lei.>
O receio da articulação política do Planalto é que uma indicação do ministro tenha reação imediata no Legislativo, com ameaça de travamento da pauta do governo.>
Alguns senadores têm propostas para alterar o critério de escolha dos integrantes do STF. Mas a presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Simone Tebet (MDB-MS) já sinalizou que não vai pautar nenhum texto que altere as regras do jogo imediatamente.>
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