Publicado em 4 de fevereiro de 2022 às 09:29
Uma nota técnica do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) aponta a explosão do desmatamento em terras públicas federais na Amazônia desde o início do governo Jair Bolsonaro (PL), destruição que atingiu um alarmante patamar, dizem os pesquisadores.>
Os cientistas do instituto, uma organização não governamental, mostraram que a média anual de perda de floresta amazônica foi 56,6% maior, de 2019 a 2021, em relação ao período anterior ao governo Bolsonaro, de 2016 a 2018 --já era observada uma tendência de crescimento do desmate, e períodos eleitorais, como 2018, tendem a registrar maiores taxas de destruição.>
De 2019 até 2021, mais de 32 mil km² de floresta foram ao chão, o equivalente a cerca de 21 vezes o tamanho da cidade de São Paulo.>
Os dados utilizados pelos cientistas são provenientes do Prodes, programa do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que aponta anualmente o desmate de biomas nacionais.>
>
"A desestruturação do aparato de governança ambiental, ocorrido a partir de 2019, tem influenciado no aumento do desmatamento como um todo, tanto em terras de uso privado (imóveis rurais e lotes em assentamentos rurais), como em terras públicas, especialmente em categorias fundiárias de proteção menos restritiva (APAs) e naquelas sem qualquer destinação.">
Pouco mais da metade (51%) do desmatamento desde 2019 ocorreu em terras públicas, a maior parte delas (83%) federais.>
A nota técnica cita, como fatores que favorecem o crescimento do desmate, os cortes orçamentários nas entidades que fazem fiscalização.>
Um documento do Observatório do Clima, divulgado no início desta semana, mostrou que, em meio ao aumento do desmate em 2021, houve o menor número de multas em décadas e uso de somente 41% do orçamento disponível para fiscalização.>
Segundo a nota do Ipam, também contribuem para o aumento do desmatamento a substituição de diretores e chefes de operação do Ibama, mudanças no processo de autuação, flexibilização de penalidades e a desarticulação institucional nas operações, "decorrentes do empoderamento do Exército Brasileiro para realizar a fiscalização".>
Desde o primeiro ano sob Bolsonaro, em que houve uma explosão de queimadas na Amazônia e uma grande atenção internacional mirada no assunto, o governo tem se apoiado no Exército para combater crimes ambientais na floresta. A atuação militar, porém, não tem apresentado resultados sólidos, com aumentos anuais e históricos na destruição do bioma.>
A atuação do Exército também tem sido criticada por especialistas, que afirmam, como aponta a nota do Ipam, que há ineficiência militar nas ações. Segundo ambientalistas e pesquisadores da área, o mais lógico seria que as Forças Armadas apenas dessem auxílio aos agentes ambientais de Ibama e ICMBio, que são especializados no combate a ilícitos ambientais.>
De acordo com os pesquisadores do Ipam, o desmatamento na Amazônia é, em geral, especulativo e mira a apropriação de ilegal de terras, em especial, de áreas em florestas públicas não destinadas, que concentram cerca de um terço do que foi desmatado de 2019 a 2021.>
Também é possível observar um aumento de desmatamento, sempre em relação ao triênio anterior ao governo Bolsonaro, nas unidades de conservação. Segundo a nota técnica, apesar de os dados de desmate em terras indígenas estar em um patamar também mais alto em comparação a antes, tem ocorrido uma redução anual desses dados.>
Ainda falando sobre áreas protegidas, o Pará foi o estado que mais contribuiu, de 2020 a 2021, para o desmatamento desse conjunto. O ente concentrou 72% do desmate nessa categoria fundiária. As principais vítimas foram unidades de conservação e terras indígenas na região da Terra do Meio e nos arredores da BR-163.>
O Amazonas vem apresentando aumentos anuais de desmate, o que preocupa pesquisadores, considerando que o estado tem vastas áreas de florestas bem conservadas e fora de áreas protegidas.>
Segundo o estudo do Ipam, o aumento do desmate no Amazonas se concentra principalmente em florestas públicas não destinadas, na divisa Amazonas-Acre-Rondônia, região conhecida como Amacro.>
Os pesquisadores do instituto também apontaram as áreas críticas em cada estado. Além dos locais já citados no Pará, merecem atenção os municípios de Altamira, São Félix do Xingu e Novo Progresso.>
Reportagem recente do jornal Folha de S.Paulo mostrou que, segundo o Greenpeace, o prefeito de São Félix do Xingu ocupa terras públicas com desmatamento ilegal e criação de gado.>
Já no Amazonas, são críticos o entroncamento entre as rodovias BR-319 e a Transamazônica no sul do estado, nas proximidades de Humaitá, além de Apuí, Lábrea e Boca do Acre.>
Em Rondônia, os arredores de Porto Velho chamam a atenção para o desmatamento.>
Em Mato Grosso, há preocupação em relação a Colniza e Aripuanã. No Acre, o quadro se aplica às regiões de Feijó, Tarauacá, Sena Madureira --no entorno da BR-364 nesses três casos-- e Rio Branco.>
Por fim, em Roraima, as zonas críticas estão na região de Alto Alegre, Iracema, Mucajaí e Caroebe, além de ao longo da BR-174.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta