Autor(a) Convidado(a)
É músico e jornalista

Todo mundo é mais famoso que eu no Instagram

Faço aqui uma confissão de um náufrago das redes sociais, após lançar uma música na plataforma e não conseguir o sucesso esperado

  • Felipe Izar É músico e jornalista
Publicado em 14/10/2021 às 14h29
Instagram: especialista diz como proteger a rede social de ataques
Instagram ficou fora do ar no último dia 4. Crédito: Divulgação

Foram sete horas sem Instagram, Facebook e WhatsApp no último dia 4. O suficiente para despertar diversas reações e discussões acerca da internet e das redes sociais. Nós nos deparamos com sentimento de desespero, pelo vício de contemplar curtidas e comentários, ou com o pânico da impotência, por um dia perdido para concretizar negócios.  Constatamos também, por outro lado, relatos de paz. Afinal, foram horas sem a necessidade de olhar tantas vezes para a tela do celular.

O que me fez escrever este texto, todavia, foi o depoimento de uma americana no The New York Times – replicado em jornais do país, como O Globo – sobre o seu vício em Instagram, tal como o álcool, outra compulsão superada em 2014 pela mesma americana. Em um momento do texto, espécie de confessionário público, ela atesta:  

“Somos incentivados em uma série de maneiras a representar uma versão falsa de nós nas redes sociais, mas, quando fazemos isso, perdemos algo vital: a habilidade de experienciar a vida no aqui e no agora. E o 'aqui e agora' é onde vivem as verdadeiras versões de nós mesmos.”

A americana me incentivou a confessar. Tenho trabalhado como músico e compositor com o nome artístico Izar e, em 2020, lancei nas plataformas digitais a canção "Todo Mundo É Mais Famoso Que Eu". O tema, que aborda as frustrações de um artista no mundo digital – “um segundo são 10 likes nos seus, e os meu não são virais”, diz a letra –, acabou despertando o interesse das pessoas por conta da verossimilhança, motivo primordial para validar o lançamento.

Mas não foi com tal amplitude que a canção surgiu. E nem tampouco, durante a divulgação da música, houve pleno controle em relação à crítica que eu apresentava e minhas próprias ações.

A composição nasceu quase que de um chilique. Ao me comparar com outros artistas, questionei-me por que eu fazia um (bom) trabalho (musical e de divulgação), mas não conseguia chegar naqueles números. Peguei o violão e, imediatamente, soltei a frase: “Todo mundo é mais famoso que eu”, fato que fez minha esposa sair de seu soninho de sábado para ressaltar minha possível infantilidade.

Bom, a canção avançou, pelo motivo da verossimilhança como já citado aqui, mas todo o processo foi absolutamente conturbado no campo pessoal e psicológico. A música teve um lançamento interessante, com retornos suficientes para o meu momento artístico. Mas eu queria mais. E daí vieram os erros e delírios.

Nos posts do Instagram e nas lives, eu me portava com bom senso. Isto é, ressaltava a importância das redes sociais para o artista, por exemplo, mas cravava a necessidade de debatermos (tal como agora) os efeitos nocivos do ambiente digital. Ao mesmo tempo, acredite, eu cometia um erro imperdoável para um profissional de comunicação, porém compreensível para um compositor desesperado: comprava seguidores no Instagram.

Isso me deu tanta vergonha que, tempos depois, manualmente e com os recursos oferecidos pela própria plataforma, eu retirei todos os seguidores que eu havia comprado. Seguidores que, claro, nunca haviam interagido com o meu perfil. Para se ter ideia, todo esse movimento me incentivou a estudar com mais afinco o funcionamento das plataformas digitais e iniciar uma pós-graduação em marketing digital.

Além disso, destaco dois trechos da letra de “Todo Mundo É Mais Famoso Que Eu” para discutir. O primeiro diz o seguinte: “Todo mundo é mais charmoso que eu nas redes sociais”; e, no refrão: “Aparência, resistência, eu não canso de falar/Esse papo tão exato, eu preciso conversar”.

Ora, ser gordinho (meu caso) neste mundo do Instagram não é fácil kkkkk. E daí veio o chilique do charme. Mas isso passa. Importante mesmo é o fato de as redes sociais serem um ambiente que valoriza o belo padrão. Sim. Toda diversidade - que temos a obrigação de defender como cidadãos - ainda é uma farsa no ambiente digital. Repito, no contexto geral, o padrão é o mais valorizado.

Inclusive, para incitar outro debate, observo que a indústria da música pop usa, por exemplo, o empoderamento feminino de forma perversa para chegar no mesmo resultado do passado: exibir corpos perfeitos. Por favor, não confundam esse trecho com conservadorismo. Muito longe disso. 

Enfim, acredito que já me alonguei demais no texto e não será possível esgotar o assunto neste recorte. Mas deixo aqui o meu relato sobre esses momentos e os efeitos perigosos das redes sociais. Mas não, não vou sair do Instagram. Afinal, é importante para a divulgação do artista, e isso não nos impede de fazer críticas. Agora vai.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.