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É empresária industrial há duas décadas, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes)

Indústria capixaba: diversificação como chave para o futuro

A indústria está em movimento. Estamos cientes dos desafios que existem, mas temos argumentos sólidos o suficiente para dizer, de forma orgulhosa, que somos um motor de desenvolvimento

  • Cris Samorini É empresária industrial há duas décadas, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes)
Publicado em 07/03/2023 às 12h22

indústria do Espírito Santo vive um processo gradual de transformação que merece ser analisado com atenção e, principalmente, parcimônia. Com uma queda acumulada superior a 40% na última década, sobretudo no setor extrativo, a produção capixaba foi pauta de debates recentes sobre desindustrialização e desempenho econômico.

Há muitas camadas a analisar neste tópico, o que exige um olhar aprofundado. Como industrial que acompanha o processo de perto há décadas, me permito adentrar na discussão com um pouco de contexto.

Em primeiro lugar, o debate sobre reindustrialização não está restrito ao Espírito Santo, tampouco ao Brasil: foi tema de debate nos Estados Unidos nas duas últimas eleições, a exemplo da força do mote “Make America Great Again” na região conhecida como rust belt — que perdeu empregos para a indústria chinesa; também pauta discussões na Europa, no Japão e nos vizinhos da América Latina. A terceirização viabilizada pelas cadeias globais, os custos baixos dos novos emergentes e a falta de investimentos em tecnologia são dores comuns às nações que tiveram uma indústria tradicional de destaque.

É fato que o setor industrial já representou quase 40% do PIB brasileiro na década de 1980, mas o processo de mudança que nossa economia vive não é inédito. E está longe de se encerrar. O uso, por vezes, equivocado e contumaz da palavra “desindustrialização” faz parecer que o setor produtivo parou no tempo, continua operando à manivela e dependerá de incentivos do Estado para manter-se competitivo. Não é o que a realidade aponta, pelo menos no Espírito Santo.

De 2010 a 2020, a participação da indústria capixaba de transformação avançou 4,5 pontos percentuais no valor adicionado do setor, ao tempo em que a indústria extrativa — afetada pelo rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho — recuou. De 2006 a 2021, os empregos formais de setores com maior valor agregado aumentaram 18% na indústria capixaba. No campo da arrecadação, em termos reais, o setor avançou de R$ 1,53 bilhão para R$ 2,76 bilhões em um intervalo de quatro anos (2017-2021), representando 17% de todo o ICMS do Espírito Santo de 2021.

Samarco
Crédito: Carlos Alberto Silva

O avanço é explicado pela chegada de novos investimentos e pela modernização da indústria local, que voltou seus olhos para a importância da inovação e da tecnologia. A Bússola do Investimento, produzida pelo Observatório da Indústria da Findes, dá a dimensão do que está por vir: até 2028, o Espírito Santo receberá R$ 36 bilhões em 225 projetos — nove em cada dez estão na indústria. São fábricas com produção de alto valor agregado, a exemplo de Marcopolo (ônibus), Oxford (porcelana), Britânia (eletrodomésticos), Olam (café solúvel) e Suzano (papel tissue).

Até mesmo o setor de rochas ornamentais, antes concentrado em blocos, hoje exporta chapas cortadas e polidas, garantindo um faturamento bilionário para as empresas locais — e representando 80% de todas as exportações de minerais não metálicos do país. Estamos saindo, pouco a pouco, de uma indústria concentrada em commodities para competir globalmente com produtos de vitrine. É um processo que leva tempo, faz pouco barulho, mas pode ser percebido por quem vive e produz no Espírito Santo.

O setor tradicional, representado por Vale e Petrobras, foi essencial para o primeiro ciclo de industrialização do nosso Estado, atraindo grandes projetos a partir dos anos 1970. Atentas aos desafios exponenciados pela agenda ESG, essas indústrias seguirão dando sua contribuição para a geração de empregos e receita para nossa economia, agora, cada vez mais concentradas em diferenciais competitivos, como a fabricação de ferro e aço “verdes”. Nosso otimismo está ancorado em evidências.

Neste ano, por exemplo, a Vale vai ampliar em 75% o número de profissionais diretos e indiretos, seguindo o plano de revitalização das suas plantas industriais. O Espírito Santo será o primeiro do país a fabricar o briquete verde, produto que reduz a emissão de gases do efeito estufa. A Petrobras, por sua vez, vai investir em uma nova plataforma e aumentar em 80% a produção de petróleo e gás no Estado, chegando a 313 mil boe/dia em 2026.

Engana-se quem pensa que o futuro do Espírito Santo vai na direção oposta à indústria. Ela é a grande protagonista neste processo. Somos responsáveis por 232 mil empregos formais, criamos quase 25% dos novos postos de trabalho com carteira assinada do Estado em 2022 e representamos 27,4% do PIB capixaba — o quarto mais industrializado do país, segundo a CNI.

A indústria está em movimento. Estamos cientes dos desafios que existem, mas temos argumentos sólidos o suficiente para dizer, de forma orgulhosa, que somos um motor de desenvolvimento. A retomada da economia e o futuro do Espírito Santo e do Brasil passam por uma indústria forte, tecnológica, inovadora, competitiva e capaz de irradiar oportunidades para todos.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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