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É jornalista e escreve no Jornal GGN

O polemista e os moinhos de vento

O meu artigo sobre a indústria do ES é curto. Baseia-se na Pesquisa Mensal da Indústria (PMI) e limita-se a trabalhar as séries divulgadas, transformando os números em gráficos comparando a indústria dos estados em várias datas. Só isso

  • Luis Nassif É jornalista e escreve no Jornal GGN
Publicado em 23/02/2023 às 18h06
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Atividade industrial. Crédito: Freepik

Amigos meus, capixabas, me enviam artigo de Pablo Lira, publicado na Gazeta, com críticas candentes a um artigo que escrevi, colocando a indústria do Espírito Santo em último lugar entre os 15 estados medidos pela Pesquisa Mensal da Indústria do IBGE. 

O meu artigo é curto. Baseia-se na PMI e limita-se a trabalhar as séries divulgadas, transformando os números em gráficos comparando a indústria dos estados em várias datas. Só isso.

A partir daí, o autor pretende polemizar em cima do nada, para ganhar um pretexto para defender os governadores do estado - que nem sequer são citados no artigo.

Alguns ensinamentos a se tirar dessa curiosa polêmica.

  1. O polemista deve se limitar ao conteúdo do artigo questionado. O autor se recusa a chamar o artigo de artigo, dada a "superficialidade analítica”. Duas coisas: o artigo se propôs apenas a baixar as séries da PMI do IBGE e comparar a situação dos estados em várias datas. Não se propôs a analisar os dados, muito menos a analisar a economia do Espírito Santo, o “lanterninha”. Então, se não se propõe a ser analítico, qual a razão para criticá-lo por não ser analítico?
  2. Diz que o artigo é mera “colagem” de gráficos. Ué!, fui eu quem trabalhou os gráficos, pegou séries longas, selecionou datas e montou os gráficos. Depois, copiei do MEU Excel e colei no MEU artigo. Não colei de terceiros. Aliás, sugiro ao nobre colunista trabalhar as séries do IBGE e transformá-las em gráficos. Melhora bem a leitura.
  3. Diz que não registro as fontes de informação, condição necessária para garantir “transparência e credibilidade ao documento”. Tem razão! Às vezes me esqueço que escrevo para leigos. Analistas minimamente iniciados na ciência das estatísticas saberiam que os dados são provenientes da Pesquisa Mensal da Indústria do IBGE. Você certamente sabia disso, né Lira? Mas outros poderiam não saber.
  4. Diz que a forma como o título está colocado - “A tragédia da indústria do Espírito Santo”, pode “sugerir”, “injustamente”, que a tragédia foi ocasionada pelas lideranças e representantes da indústria local. O artigo é constituído de apenas alguns gráficos e da conclusão de que foi o estado com a maior queda no nível de industrialização. Não falou nem sobre causas nem sobre culpados.  A troco de quê, então, o brilhante colunista tirou essas conclusões? Simplesmente ele inventou essas conclusões para ter um álibi para sair em defesa das lideranças e representantes da indústria local.
  5. Diz ele que a leitura dos gráficos indica que “supostamente” a indústria do Espírito Santo teve desempenho negativo. De onde tirou o “supostamente”? Indica claramente que foi a lanterninha entre a indústria dos 15 estados pesquisados.
  6. Aí ele cita seu compromisso com a “honestidade intelectual, a ciência e a transparência”.  Achei que iria apresentar dados para contestar meus gráficos. Não. Ele simplesmente apresenta argumentos para justificar a lanterninha. Ora, ele poderia ter feito isso tudo sem essa enorme introdução, sem ataques de uma retórica velha e vazia, tal e qual um Dom Quixote lutando contra moinhos de vento retóricos.

OS ARGUMENTOS DE PABLO LIRA

Depois de se apresentar como intimorato defensor de todos os governadores e dos representantes da indústria local, o bravo polemista levanta seus argumentos em defesa do estado. E o que se aprende é que é um estado fortemente dependente de produtos primários, longe da “maior sofisticação e resiliência do seu setor secundário de atividade econômica”. Depois de uma frase retórica como esta, na chamada do artigo, achei que iria mostrar a resiliência e a sofisticação. Que nada! Os fatores que levaram à desindustrialização, segundo ele, foram:

  1. Os campos de petróleo capixabas perderam capacidade produtiva, esvaziando a indústria de petróleo e gás.
  2. Os impactos da tragédia de Mariana e Brumadinho.
  3. A indústria capixaba “é muito conectada com a economia global”. Pode-se ser conectada participando das cadeias de produção globais,. Mas, segundo ele, o destaque são… commodities.

Todos os argumentos mostram uma economia fortemente commoditizada que, em 10 anos, conseguiu atrair apenas 3 empresas de porte, a Weg, Itatiaia e Marcopolo. E, mesmo assim, continuou sendo a lanterninha nos últimos 12 meses, nos últimos 48 meses, nos últimos 60 meses e nos últimos 120 meses.

Tenho grande carinho pelo Espírito Santo. Acompanhei e divulguei os esforços de capixabas ilustres para fomentar a indústria de celulose do estado, pessoas como Dias Leite, Marcos Viana, o grande Carlos Salles, da Xerox. Acompanhei as lutas iniciais de Vitor Buaiz e José Ignácio, a busca da modernização de Luiz Paulo Vellozo Lucas, critiquei a distribuição farta de incentivos por Paulo Hartung, sem uma boa métrica da relação custo-benefício. E prometo, dia desses, uma matéria aprofundada sobre a economia capixaba. Aí, darei motivos e argumentos para que Pablo Lira possa polemizar de verdade.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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