Publicado em 2 de dezembro de 2025 às 06:00
Preparando-se para o último ano do mandato à frente do Executivo capixaba, Renato Casagrande (PSB) ressalta o expressivo investimento em infraestrutura durante a sua gestão. Com aporte de 20% da receita em investimentos, o governador vislumbra um futuro promissor e um Estado mais competitivo. Além da destinação de recursos próprios para mobilidade e logística, ele enfatiza a relevância dos bilhões de reais aplicados pela iniciativa privada e da articulação com o governo federal para eliminar gargalos logísticos. Nesta entrevista, Casagrande também aponta o turismo como um ativo econômico, aborda a gestão fiscal e fala sobre o futuro político. Confira: >
Renato Casagrande - Para o setor de comércio exterior, vamos dar sequência aos investimentos com recursos próprios. Temos aplicado hoje em torno de 20% da nossa receita em infraestrutura, conectando as regiões do Estado com as áreas portuárias. Temos feito investimentos importantes na Região Metropolitana, como o viaduto Max de Freitas Mauro, na ligação da Darly Santos com a Leste-Oeste. Estamos fazendo um grande investimento ligando o polo empresarial da Serra ao polo empresarial de Aracruz, com a ES 115. >
Estamos construindo o Contorno Norte e o Contorno Sul de Aracruz. Vamos publicar o edital de uma rodovia importante para ligar o polo empresarial de Linhares com o de Aracruz, de Bebedouro até a Lagoa do Limão, numa primeira etapa. Além disso, estamos investindo em aeroportos (Cachoeiro e Linhares). Essa estratégia exige também uma grande articulação com o governo federal. Em outubro de 2025, recebemos o ministro Renan Filho (Transportes) para iniciar as obras da nova fase da duplicação da BR 101. Inauguramos a duplicação de Guarapari até Anchieta; iniciamos as obras da Serra até o pedágio no município, além das obras da entrada de Alfredo Chaves até o Contorno de Iconha. >
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Em janeiro de 2026, vamos publicar o edital da duplicação da BR 262, e o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) está desenvolvendo o projeto da duplicação de João Neiva até Colatina e o aumento de capacidade de Colatina até a divisa com Minas Gerais, em Baixo Guandu. Estamos negociando também, com o ministro Renan, com a Vale e com a VLI, a criação do Contorno de Belo Horizonte, novo ramal da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), e a instalação do trecho Piraquê-Açu, que liga João Neiva até Aracruz, para melhorar e modernizar a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM). Em novembro, o governo federal encaminhou ao Tribunal de Contas da União o processo para licitar a EF 118, que liga a Região Metropolitana e Santa Leopoldina até o Porto do Açu, no Rio de Janeiro, e, posteriormente, do Porto do Açu até Comperj, também naquele Estado. >
Renato Casagrande
Governador do ESEstamos vendo os investimentos também da Vports, as possibilidades de investimentos no Porto Central. Nessa área do comércio internacional, estamos deixando uma plataforma muito bem organizada e montada, com todas as pendências encaminhadas ou em execução para serem solucionadas. >
Anuário A Gazeta - O senhor sempre defendeu a descentralização do desenvolvimento do ES, e o lançamento do Parklog apresenta essa possibilidade. O que o senhor vislumbra para a região e para o Estado com o parque logístico? >
Renato Casagrande - O Parklog é um conjunto de investimentos público e privado, envolvendo dez municípios. O núcleo é Aracruz, impulsionado pelos grandes investimentos portuários privados — Imetame, Vports e Portocel. A região já conta com a Jurong, uma plataforma importante, e recentemente foi inaugurada a fábrica de papel da Suzano. Lá tem a primeira ZPE privada do Brasil, e algumas empresas já estão bem encaminhadas para ocupar espaço nessa Zona de Processamento de Exportação.>
Em paralelo, o Estado executa melhorias, duplicações e implementações de rodovias. A principal é a construção da rodovia ES 115, que liga a Serra a Aracruz.>
O governo do Estado, as prefeituras e as entidades empresariais contrataram ainda um executivo para poder coordenar e acompanhar todos esses investimentos privados e públicos, além de articular a ação entre os diversos atores responsáveis pela implantação do Parklog.>
Renato Casagrande
Governador do ESPretendemos fazer o Parklog também no Sul do Estado. Em Presidente Kennedy, com o avanço do Porto Central, com os investimentos públicos e com a ida de diversas empresas para lá por meio do Fundesul (fundo da prefeitura criado para atrair novos negócios), estamos organizando essa outra plataforma logística. Na região, temos possibilidades de crescimento em Anchieta, com a Samarco, que anunciou forte investimento na retomada de 100% da sua operação; ali também há um porto que pode ser mais bem utilizado.>
Anuário A Gazeta - O Parklog Sul será lançado quando?>
Renato Casagrande - A intenção é que se possa concretizar [o ParkLog] até o ano que vem. Com isso, agora, os municípios precisam fazer um Plano Diretor Municipal (PDM). A ideia é organizar a ocupação para proteger tanto as áreas de turismo quanto os locais de desenvolvimento, até porque, com o avanço da duplicação, a BR 101 será um vetor de desenvolvimento da região.>
A rodovia, aliás, está em processo licitatório de trecho no Rio de Janeiro, que vai ligar a divisa do Espírito Santo ao contorno em Campos (RJ) até a capital fluminense. Assim, a conexão do Espírito Santo com o Rio ficará muito mais fácil e fluida, atendendo a esse grande centro consumidor que é o Estado vizinho. >
Anuário A Gazeta - O senhor está convicto de que, mesmo sem acordo com a Vale, o investimento na EF 118 será realizado?>
Renato Casagrande - Estou com essa convicção pela palavra não só do ministro Renan, mas também de outros ministros e do secretário nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Ribeiro. O processo já está no Tribunal de Contas e o edital deve ser lançado ainda no primeiro semestre de 2026. O governo federal tem um plano ambicioso, que é a implantação do corredor ferroviário Sudeste. Na hora em que ligarmos o Espírito Santo ao Rio de Janeiro numa ferrovia moderna, faremos parte desse corredor. >
Anuário A Gazeta - O senhor cita o corredor ferroviário Sudeste, mas também há a ligação com a região Centro-Oeste, uma frente na qual o Espírito Santo está se articulando com Minas Gerais por um novo contorno.>
Renato Casagrande - Pela primeira vez, estamos conseguindo sensibilizar Minas Gerais para essa obra. Como temos diversas saídas ferroviárias — São Paulo, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro —, Minas Gerais está interessado em participar desse investimento, que criará o Contorno de Belo Horizonte. A medida está prevista dentro da renovação do contrato da FCA, como um gatilho. Tenho certeza de que haverá carga. A primeira etapa é fazer o projeto e a licença ambiental. Será mais uma conexão com o Espírito Santo, porque nós conectamos a Estrada de Ferro Vitória a Minas com a FCA, que vai até Goiás, mas especialmente até o Triângulo Mineiro.>
Tem também uma ligação de Sete Lagoas com a região de Pirapora, ramal que também vai ser modernizado e que está crescendo muito no agronegócio. Como nós temos portos eficientes, não tenho dúvidas de que essa ferrovia vai se tornar muito importante, não só para o Espírito Santo, mas também para o Brasil.>
Anuário A Gazeta - Quais as perspectivas do governo em relação às BRs 262 e 259?>
Renato Casagrande - O primeiro edital da BR 262 está programado para janeiro de 2026. A obra será em três etapas, com licitações separadas. A primeira vai ligar Viana — do contorno que nós contratamos — até um pouco acima de Marechal Floriano. O segundo trecho ligará desse ponto até Pedra Azul, e o terceiro vai até a entrada de Conceição do Castelo. >
As vencedoras terão um tempo — acredito que será de um ano — para elaborar o projeto executivo e obter a licença ambiental. Assim, a BR poderá ter obra no final de 2026 ou no início de 2027. O que vai acontecer é que estará previsto na licitação o recapeamento de toda a atual BR, porque o pavimento está ruim. Como é um projeto simplificado, isso pode acontecer ainda em 2026.>
Quem estiver subindo em direção a Domingos Martins, ali em Viana, entrará à esquerda, saindo da rodovia atual, e esse novo traçado encontrará com a 262 lá perto do posto do café. A nova rodovia será duplicada, não será um binário.>
A atual rodovia poderá ser estadualizada no futuro para ser uma via turística, permitindo o acesso a Domingos Martins e Marechal Floriano, se o governo federal não quiser mantê-la. Já dissemos ao Dnit que aceitamos a rodovia; estamos colocando R$ 2,3 bilhões de dinheiro do governo do Estado na 262.>
Renato Casagrande
Governador do ESA BR 259 está em fase de projetos, de duplicação (de João Neiva a Colatina) e de ampliação da capacidade e reabilitação (de Colatina a Baixo Guandu). Também tem três lotes. Deve ficar pronta no ano que vem (até o final de 2026, dependendo do projeto). Teremos que trabalhar com a bancada (deputados federais e senadores) para colocar recurso para poder fazer esse investimento.>
Anuário A Gazeta - Os reflexos da reforma tributária são uma preocupação. O ES está pronto para a nova fase?>
Renato Casagrande - O Estado está se preparando bem, com investimentos em infraestrutura, articulação com o governo federal, projetos privados e investimentos em turismo. De Itaúnas, que é o último balneário do Norte, até Marobá, em Presidente Kennedy, todos os balneários têm investimentos. Além disso, o Estado vai se manter com a nota A em gestão fiscal e continuará investindo.>
Outros mecanismos têm preparado o Estado. Neste ano, a arrecadação com petróleo caiu R$ 500 milhões. A plataforma Maria Quitéria não começou a sua produção no tempo anunciado. O petróleo é importante economicamente, com uma relevância na receita de 6% a 8%, mas não se pode ficar dependente dele. Então, foi criado o Fundo Soberano, um mecanismo que dá segurança ao Estado, uma poupança intergeracional. Hoje, existem R$ 2,2 bilhões no Fundo Soberano, capitalizados com royalties e participação especial, sendo R$ 1 bilhão de poupança intergeracional. Daqui a cinco ou dez anos, haverá R$ 5 bilhões de poupança intergeracional. Isso é uma proteção para o Estado, que terá recurso para enfrentar uma emergência. >
Renato Casagrande
Governador do ESAnuário A Gazeta - Que entregas o senhor ainda espera fazer em 2026?>
Renato Casagrande - Fico até desesperado com tanta coisa que tem que fazer; 12 meses é pouco tempo. Vamos fechar 2026 implantando 202 escolas com educação em tempo integral. Recebemos, em 2019, 32 nesse modelo e vamos entregar 234 unidades. Teremos mais de 60% das nossas escolas e 40% de alunos estudando em escolas com educação em tempo integral, percentual bem acima dos determinados pelos planos nacional e estadual de Educação (PNE e PEE), que têm como metas 50% das escolas em tempo integral e 25% dos alunos atendidos. >
Vamos deixar o Estado em primeiro lugar na educação do ensino médio. Na educação geral, que junta ensino fundamental dos anos iniciais e finais (incluindo outras redes), vamos ficar em terceiro, quarto lugar no Brasil. Teremos também mais escolas com infraestrutura, todas com ambiente climatizado. O que não estiver implantado, vai estar em implantação. Vamos entregar 500 alunos e alunas para intercâmbio. Neste ano, foram 350; no próximo, serão 500. Teremos em 2026 mais 60 escolas do futuro (ensino tecnológico). >
Na área da saúde, vamos ter duas entregas importantes: o Hospital Geral de Cariacica e o Complexo de Saúde do Norte do Espírito Santo. Vamos ter iniciado ainda a construção do novo Hospital Silvio Avidos, em Colatina. Continuaremos com as obras do Hospital do Câncer, em Cachoeiro de Itapemirim.>
Estamos com grandes investimentos na área do turismo. O Espírito Santo hoje, conforme os últimos dados, é o quarto que mais cresce no turismo no Brasil. Acabamos de contratar o novo centro de convenções no Parque de Exposição de Carapina, na Serra. Realizamos muitos investimentos em infraestrutura turística no interior e na região litorânea. Teremos em 2026 o melhor verão em termos de fluxo turístico da história do Espírito Santo.>
Na área da segurança pública, vamos entregar o melhor resultado da história do Estado. Temos chance de ficar com menos de 800 homicídios. Em 2024, foram 852. Estamos trabalhando para entregar um número menor de homicídios, de crimes contra o patrimônio, de feminicídios, além de uma revolução na área tecnológica.>
Vamos trabalhar muito para entregar o Estado mais transparente do Brasil. Quando retornamos, em 2019, éramos o oitavo lugar. Então, recuperamos a primeira colocação e não perdemos mais. Vamos entregar também muitas obras: o Cais das Artes; recentemente finalizamos o Teatro Carlos Gomes, a escola Aristóbulo Barbosa Leão (ABL). Estamos desenterrando todas as “cabeças de burro” que havia por aí.>
Anuário A Gazeta - O senhor já falou que, para fazer o sucessor, precisaria estar com o governo bem avaliado. Como o senhor enxerga o cenário hoje?>
Renato Casagrande - Pelas pesquisas que recebemos e que são publicadas, nosso governo é bem avaliado. Isso é o primeiro passo. O segundo é fazer política, ter alianças partidárias, definir na hora certa a candidatura. Temos que preservar esse caminho, com governantes com capacidade de fazer parceria com os municípios, de dialogar com todo mundo, de governar com seriedade, com transparência, de manter este Estado organizado, de trabalhar para poder manter uma estabilidade institucional. Essas ações permitem ter legitimidade para conversar e eleger um sucessor que vai dar sequência àquilo que estamos fazendo. Mas essa decisão é só em 2026.>
Anuário A Gazeta - E o senhor será candidato ao Senado Federal?>
Renato Casagrande - Vou decidir em março. Em política, se você decide antes da hora, decide errado; depois da hora, decide errado também. Então, a hora dessa decisão vai ser março. >
Anuário A Gazeta - E um dia vamos vê-lo candidato à Presidência da República?>
Renato Casagrande
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