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Publicado em 8 de março de 2025 às 08:20
Quebrar o ciclo de violência doméstica não é fácil. Esse processo não depende apenas da vontade da vítima de se separar do agressor. É preciso considerar fatores como a busca por uma rede de apoio e o rompimento da dependência emocional e financeira.>
Pensando em ajudar mulheres que vivem essa situação, o projeto Pimenteiras Capixabas ofereceu, no ano passado, capacitação para que elas possam empreender com a venda de geleias de pimenta e, assim, gerar renda para conquistar a independência necessária para quebrar o ciclo de agressões. A iniciativa teve o apoio do Núcleo de Extensão (NEX) da faculdade Novo Milênio, em parceria com o Sebrae.>
As participantes são do Movimento Liberta, grupo que funciona em Terra Vermelha, Vila Velha, e apoia mulheres em vulnerabilidade, custeando alimentação, pagamento do aluguel, auxiliando na transferência de escola dos filhos das vítimas e até em passagens para fora do Espírito Santo, quando necessário. No projeto das Pimenteiras Capixabas, essas mulheres encontram no empreendedorismo um caminho que pode ser transformador em suas vidas.>
Foi o que aconteceu com a ex-aluna do projeto Kelly Cristina Ribeiro. Após superar problemas como o abuso psicológico sofrido em um relacionamento, ela afirma que o projeto foi o pontapé inicial para sua coragem de mudar. Por meio dele, redescobriu sua autoestima e ganhou confiança para seguir seus sonhos. Tanto que agora está cursando Enfermagem. "Este projeto foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida", destaca.>
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Kelly descreve o Movimento como uma comunidade solidária, onde todas as participantes trabalham juntas para apoiar umas às outras.>
Kelly Cristina Ribeiro
Ex-aluna do projetoJucileia Santos Ribeiro é boleira e trabalha no Movimento Liberta ajudando mulheres em situação de vulnerabilidade. Ela tem sido responsável por captar as futuras pimenteiras. A voluntária, que já compartilhou sua história com o Todas Elas, decidiu começar a atuar nesse programa após ter sido vítima de violência por anos, cometida por seu ex-marido.>
Jucileia Santos Ribeiro
Voluntária do Movimento LibertaO Pimenteiras Capixabas vai entrar na terceira edição e já está com a próxima turma fechada. Nas duas primeiras edições, o projeto ajudou mais de vinte mulheres vítimas de violência. A iniciativa promove a capacitação para que as participantes produzam as geleias e, também, aprendam as técnicas necessárias para fazer a divulgação e venda do produto. O programa foi pensado especialmente para essas mulheres e considera os desafios que muitas delas enfrentam. >
Nas turmas do ano passado, o projeto foi desenvolvido em quatro aulas e contou até com uma pequena creche, organizada pelas alunas de Pedagogia da faculdade, que cuidaram das crianças para as mães que não tinham rede de apoio pudessem frequentar as aulas. Além de auxílio transporte, a iniciativa também forneceu lanche para as participantes. >
O programa teve início com a construção de hortas sustentáveis, desenvolvidas por alunos dos cursos de Engenharia Civil e Elétrica, que criaram um sistema de irrigação usando matérias de um depósito de sucatas. A partir daí, a horta foi instalada na casa de duas mulheres, que passaram a cultivar as pimentas usadas nas receitas de quatro geleias, ensinadas no curso.>
A primeira etapa do curso foi realizada com o Sebrae, que deu palestras sobre empreendedorismo, ensinou como fazer a apresentação dos produtos e todos os cuidados de higiene e vigilância sanitária necessários para produção das receitas, já considerando que, ao final do curso, a intenção é que o cultivo das pimentas e a produção continuem na casa das participantes. >
Projeto Pimenteiras Capixabas ajudam mulheres vítimas de violência doméstica
Muitas das vítimas de violência doméstica são mães solo e não têm com quem deixar os filhos para trabalhar fora. A dependência financeira é um grande gatilho que pode fazer com que elas voltem a morar com seus agressores, com medo de que as crianças possam passar fome, pela falta de renda.>
Na segunda aula, as pimenteiras colocaram a mão na massa e aprenderam todos os processos na cozinha. Nessa etapa, elas contaram com a ajuda dos alunos do curso de Gastronomia, que criaram quatro receitas diferentes de geleias de pimenta e um pesto – molho feito com ervas – de ora-pro-nóbis, uma planta alimentícia não convencional (panc). >
As amostras foram enviadas para os chefs Juarez Campos, Fabrícia Sarra de Souza e Fernanda Cassa, que avaliaram os produtos e fizeram os ajustes necessários. Além do toque de chef nas receitas, Juarez apadrinhou o projeto, levando outros cozinheiros profissionais, membros da Associação dos Chefes Italianos, para colaborarem com o programa.>
As alunas também participaram de uma oficina de vendas dada pelo Sebrae, com o auxílio dos alunos de Comunicação da Faculdade Novo Milênio. Na aula, aprenderam como fazer a divulgação e propaganda dos produtos nas redes sociais e estratégias para ajudar a impulsionar as vendas e captar clientes.>
Ao final do curso, as pimenteiras receberam um certificado e passaram por um “dia de estrela”, com o apoio das estudantes de Estética. As participantes puderam fazer limpeza de pele, tratamento para os cabelos e outros cuidados para "dar um tapa" no visual. A intenção é empoderar e elevar a autoestima dessas mulheres, que estão reunindo esforços para dar a volta por cima e recomeçar suas vidas. >
Renata Frechiani
Coordenadora do Núcleo de Extensão da Novo MilênioO projeto teve o apoio do projeto Missão Florescer, que atua nas comunidades da Região 5 de Vila Velha (Barra do Jucu, Barramares, Terra Vermelha, Ulisses Guimarães, entre outros bairros) e em algumas áreas de Cariacica. A iniciativa tem o foco de construir ou restaurar a autoestima e confiança de mulheres vítimas de violência, realizando atendimentos terapêuticos em grupo e, quando necessário, de forma individual. Junto com o projeto Pimenteiras, busca fortalecer o psicológico das vítimas para que finalizem o curso com a autoestima restaurada para encarar novos desafios. >
A intenção é que o curso continue acontecendo e seja ampliado para receber mais alunas nas próximas edições. Além disso, o projeto está buscando feiras onde as Pimenteiras possam expor e divulgar os produtos e lucrar ainda mais com as vendas. “Essas mulheres vão ter oportunidade de aprender bastante junto com os alunos. Tudo o que for produzido no projeto vai ser vendido e uma parte da renda vai ser destinada para o Movimento Liberta, e a outra para as alunas” completa a coordenadora. >
Em 2024, o projeto recebeu um reconhecimento estadual ao vencer o Prêmio de Sustentabilidade Farol do Bem, na categoria Ação Social. >
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