Publicado em 31 de julho de 2020 às 09:32
O ato da lavar as mãos ou usar álcool em gel se tornou hábito para os brasileiros nos últimos meses. A limpeza de objetos ganhou uma atenção ainda maior. Mas se de um lado parte da população lida bem com a situação, de outro, a quarentena se tornou um período ainda mais difícil, principalmente para os portadores do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). >
O TOC é uma das doenças mais comuns que existem e se caracteriza por pensamentos ou comportamentos que o indivíduo percebe que são exagerados e fora da realidade, mas que não consegue evitar.>
A raiz do TOC é o comportamento de ansiedade. Quem tem normalmente é um paciente que antecede características relacionadas aos sintomas dessa inquietação. Por conta dessa ansiedade exacerbada, o TOC vem para diminuir as inquietações. É como se o indivíduo entendesse que ao seguir os rituais ele conseguisse manter a previsibilidade, o que é a grande angústia da pessoa ansiosa. Os rituais vêm para trazer uma ideia de controle, explica a psicóloga comportamental Letícia Santana.>
Durante a quarentena muita gente desenvolveu TOC em relação à limpeza. E a orientação é buscar estratégias para diminuir os níveis de ansiedade. O empresário Gabriel de Mattos Custódio, 32 anos, sempre foi atento com a limpeza, mas conta que na quarentena ficou mais rigoroso. No meu estúdio de beleza sempre higienizo os instrumentos antes de usá-los, mas agora eu higienizo cadeiras, lavatório, máquina de cartão, todas as superfícies e o chão. Além de lavar as mãos, ando com um borrifador de álcool que uso pra limpar tudo, inclusive as embalagens de comida. >
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Gabriel diz que tem TOC com limpeza. Preciso ter certeza de que tudo está limpo o tempo todo. Eu já voltei para casa por ter esquecido meu borrifador com álcool e não poderia encostar em nada. Eu exageromesmo e prefiro assim. Não fico me monitorando, quanto mais limpo, melhor.>
Gabriel de Mattos
EmpresárioA psicóloga e psicanalista Cássia Rodrigues conta que são diversos tipos de compulsão associada à obsessão. "Quando uma pessoa, por exemplo, tem compulsão pela simetria, se ela não fizer os rituais que ela acha que são necessários, a consequência é a obsessão". >
Com o isolamento social algumas pessoas que têm transtorno de higiene, por exemplo, como lavar as mãos a todo instante ou tomar muitos banhos, podem se sentir adequadas em suas compulsões. Cássia explica que quem tem essa patologia, nesse momento, costuma aumentar o transtorno de ansiedade generalizada, o que faz somar o sofrimento que ela tem devido à compulsão e a obsessão. "A pessoa que tem mania de limpar a mão, por exemplo, se ela não lavar vai gerar algo negativo para ela". Letícia acrescenta que a pessoa até se sente adequada, porque entende que está fazendo as coisas certas, como a limpeza e o isolamento. "Mas a ansiedade aumenta quando ela olha ao redor e vê que a sociedade não está no mesmo padrão. Isso traz ansiedade, inquietação e adoecimento". >
Quando perceber que esses cuidados se tornaram excesso? As profissionais dizem que a própria pessoa que tem o transtorno não percebe. "Quem percebe é a família ou pessoas que convivem com ela. E o transtorno vem acompanhado de outros transtornos e comorbidades", alerta Cássia. O tratamento é feito com acompanhamento de psiquiatra, terapia comportamental, uso de ansiolítico e antidepressivo, além de acompanhamento terapêutico. >
É preciso ficar atento aos detalhes. "O ideal é procurar ajuda quando as perdas sociais, financeiras e de saúde começarem a aumentar. Importante ficar atento às falas de quem está por perto. Muitas vezes quem convive percebe e sinaliza que algo estranho está acontecendo", diz Letícia. >
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