Publicado em 15 de agosto de 2020 às 09:01
Hospedar-se em um casarão dos anos 20. Tomar banho em uma cachoeira e com alguns passos chegar ao quarto da pousada. Viver a experiência da plantação do socol. Poder produzir a sua própria geleia com uma expert. Os pontos turísticos sempre fizeram sucesso e vão continuar sendo atrações em qualquer lugar do mundo. Mas, no pós-pandemia, o turismo de experiência ganha ainda mais visibilidade. Nele a ideia é estimular a vivência e o envolvimento com as comunidades locais e o aprendizado de novas atividades, como a produção de artesanato.>
O turismo de experiência vem crescendo nos últimos anos e certamente ganhou força por alguns motivos. Primeiro porque o brasileiro vem se tornando um viajante mais experiente, valorizando viagens para destinos que possam proporcionar sensações, aprendizados e serviços diferenciados. Outro aspecto é que as pessoas estão mais sensibilizadas com a toda a crise, então, serviços turísticos com apelo emocional e experiências diferenciadas tendem a ser mais escolhidos, explica Richard Alves, da Lab Turismo, empresa que atua no desenvolvimento e na implementação de soluções para melhor gestão e inovação de destinos e empresas turísticas.>
Richard Alves
Lab TurismoA tendência é que, nos próximos meses, viajaremos para lugares mais perto de casa, valorizando empreendedores e pousadas locais. Temos uma forte tendência para viagens de carro em distâncias menores nos meses que virão. Isso por conta de fatores como a recuperação lenta da malha aérea no país e no mundo. Outro ponto é que, apesar de todas as afirmações das empresas aéreas quanto à segurança para a saúde nas viagens de avião, muitas pessoas sentem-se mais confiantes, neste momento, em viajar em seu próprio carro. Temos que lembrar também que as restrições de muitos países em receber brasileiros e a alta do dólar também favorecem que as pessoas viajem mais dentro do Brasil, diz Richard.>
Cássia Coppo, da startup Espírito em Rede, aponta que as pessoas levarão em consideração algumas premissas ao viajar. Entre elas estão a busca por passeios e atividades realizadas por grupos pequenos; o deslocamento para viagens curtas, com no máximo 400 km da residência; além da procura por atividades de natureza e espaços ao ar livre, diz.>
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Ela explica que o turismo de experiência é uma nova forma de fazer turismo, onde existe interação real com o espaço visitado. Essa prática turística está relacionada com as aspirações do homem moderno, cada vez mais conectado e em busca de experiências que façam sentido. A ideia é estimular vivências e o engajamento em comunidades locais que geram aprendizados significativos e memoráveis, a famosa mão na massa, conta Cássia.>
Cássia Coppo
Startup Espírito em RedePara Richard, esse tipo de viagem é aquele onde a pessoa tem a oportunidade de vivenciar momentos únicos relacionados com história, cultura, gastronomia e serviços diferenciados de um local. A premissa é que a pessoa não viaja somente para dormir em um quarto de hotel ou alimentar-se como necessidade fisiológica, mas sim para viver momentos de encantamento, ser surpreendida e religar boas memórias afetivas.>
Memórias afetivas: quem se hospeda no Solar do Lagarto, em Muqui, tem essa sensação. A casa com características dos anos 20 tem móveis antigos, toca discos e louças que contam a história da residência. Trabalhamos com o conceito cama e café, que consiste em hospedar pessoas em um espaço que originalmente era apenas residência e que ainda guarda todas as características de uma casa, explica o proprietário Ériton Berçaco.>
Solar do Lagarto em Muqui
São quatro quartos de tamanhos diferentes, e o diferencial é que nas paredes deles e dos ambientes coletivos como hall, sala e biblioteca, há obras do pintor italiano José Monty, feitas à mão nas paredes da casa. É, literalmente, hospedar-se em meio a essas obras de arte. As janelas e portas - também entalhadas à mão, pelo escultor José Derci, em 1927 - reproduzem o desenho de corações, pulmões e costelas, fazendo uma referência direta à profissão do primeiro dono, que foi um dos primeiros médicos de Muqui, conta Ériton.>
Ali a experiência é levada a sério. Os calçados ficam no alpendre e o hóspede pode sentir o contato com o piso todo em peroba amarela e jacarandá. À noite, após acomodar-se no quarto, é possível ouvir um vinil original em um toca discos antigo, ao sabor de queijos e vinhos que o próprio hóspede leva. Há também o café especial da agricultura familiar de Muqui, premiado nacionalmente, com queijo da roça, pães e bolos caseiros. No momento, as reservas estão suspensas, pelo menos, até o final de setembro. Mas muitas pessoas têm nos procurado a fim de conhecer essa casa histórica, tombada como patrimônio histórico estadual, diz Ériton.>
O que muita gente também tem desejado experimentar é o banho de cachoeira e a hospedagem da Estação Verde e Água, em Domingos Martins. A propriedade foi adquirida há 23 anos, quando a restauração florestal foi prioritária. A pousada existe há dois anos e sete meses e propomos o relaxamento através da interação com a paisagem, onde a floresta, a cachoeira e as piscinas naturais têm papel fundamental, conta o dono, Renato de Jesus.>
Estação Verde Água em Domingos Martins
São 11 suítes, uma delas com um ofurô. O que variam são os mimos. Todas têm frigobar, ar-condicionado e televisão. São ambientes agradáveis, circundados pelas florestas e bosques e pelos sons de pássaros, da cachoeira e das piscinas naturais, diz Renato. Ele conta que o principal foco é possibilitar o convívio do hóspede com a natureza, já que 92% da propriedade são formados por um remanescente da Mata Atlântica e 4% por bosques. Com certeza muitos deles estarão vendo uma floresta viva pela primeira vez. Enfatizamos que toda a floresta existente passou por tratamentos que estão propiciando a restauração ecossistêmica, ficando evidenciado que é possível conviver com ela, e ainda, de forma natural, ganhar dinheiro. O ecossistema que abrange a nossa pousada, com suas interações, é o seu principal fruto.>
A pousada está funcionando seguindo os protocolos estabelecidos pelas autoridades. Nas conversas com os diferentes hóspedes sentimos que a palavra-chave é relaxamento. É para esquecer as agruras do cotidiano urbano, diz Renato.>
Já pensou em fazer geleia? Quem visita a Dona Martha Delícias, em Venda Nova do Imigrante, pode ter essa experiência. A ideia surgiu após um curso onde aprendemos a transformar o que já fazíamos em algo rentável. Vimos uma ótima oportunidade de mostrar para as pessoas como fazemos os nossos produtos e dar a chance de levar um pedacinho da nossa história para casa, conta a proprietária Mariana Zandonadi.>
Geleia Dona Martha em Venda Nova do Imigrante
O visitante agenda dia e horário através de uma plataforma. Tudo começa com um bate-papo sobre o processo da geleia natural. Depois iniciamos a fabricação e cada um pode produzir a sua própria geleia e levar o resultado para casa. Entre os sabores estão morango, manga com maracujá, uva e maracujá.>
O turismo de experiência tem sido fundamental para esses produtos serem cada dia mais conhecidos. A maioria dos visitantes vem de Vitória e Vila Velha. Eles buscam nas montanhas uma forma de relaxar e aprender novas habilidades, diz Mariana.>
E sorvete de palmito, você já tomou? É outra dica de turismo de experiência para se fazer no Espírito Santo. O Sítio dos Palmitos, em Pedra Azul, é que promove essa prática. É uma forma de impulsionar o turismo rural no Estado, diz o proprietário, Maurício Magnago.>
Sítio dos Palmitos em Pedra Azul
O turista tem uma vivência rural e gastronômica, em que experimenta uma interação real com o ambiente e com a rotina de produção familiar. Ele vive as emoções de cada etapa, como conhecer variedades de sementes do alimento, cortar e descascar o palmito, e elaborar os cortes gourmet. A experiência é finalizada com um menu-degustação, o que inclui a sobremesa. Na propriedade há variedades como Pupunha, Juçara, Juçai, Coqueiro Anão, Patioba (Amargo), Baba de Boi e Imperial.>
A empresária Graccielli Lorenção, do Sítio Lorenção, em Venda Nova, conta que os turistas sempre quiseram acompanhar a produção do socol. E nós sempre tivemos vontade de deixá-los verem onde o socol ficar maturando. Criamos a visita na plantação de socol com um custo e horário marcado, diz. As visitas - que estão suspensas por conta da pandemia - acontecem uma vez na semana. >
Sítio Lorenção em Venda Nova do Imigrante
As degustações dos produtos também não estão acontecendo por conta do coronavírus, mas em breve o visitante vai poder saborear o socol, o culatello (em época específica) e as variedades de antepasto. Graccielli conta que a experiência não é ver apenas a produção. É ver também um pé de jabuticaba, o paiol velho, os meus avós que ainda são vivos e um pequeno museu. Isso sempre atraiu os turistas e acho um diferencial do sítio, conta.>
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