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Trabalhando mais no home office? Veja dicas para não enlouquecer

Trabalhando mais no home office? Veja dicas para não enlouquecer

Vestir-se como se fosse sair para o escritório e se organizar para não trabalhar o dia inteiro podem ajudar na saúde emocional do empregado

Publicado em 26 de maio de 2020 às 17:54

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Mulher trabalhando em casa; home office
Mulher trabalhando em casa; home office. (Pixabay)

Quem achou que trabalhar em casa em plena pandemia seria moleza se enganou. Para algumas pessoas o home office tem se tornado quase uma tortura. Elas se queixam, principalmente, de estarem se dedicando mais tempo do que antes ao trabalho. A quarentena é praticamente na frente do computador e respondendo mensagem no WhatsApp.

Protegidas em seus lares das ameaças da Covid-19, não estão livre de adoecerem mentalmente. Estão se sentindo esgotadas,  culpadas, estressadas. Simplesmente não “desligam”. Um cenário que pode levá-las a desenvolver até distúrbios, como o Burnout.

Mas é possível tornar essa experiência menos enlouquecedora. Afinal, ela pode se estender por muito mais tempo ou até se tornar permanente. Quem quiser sobreviver ao home office deve seguir algumas dicas dos especialistas.

A psicóloga e psicanalista Cristiane Palma observa que a pandemia é um fator dificultador para quem está se adaptando ao trabalho remoto.

“Essa situação de pandemia pode estar provocando vários transtornos que a pessoa nem pensava em ter antes. Ela pode estar em casa protegida, mas o grande problema é a cabeça. São meses de isolamento, sem namorar, sem ver parentes e amigos. Há o medo de sair de casa e adoecer. Isso pode levar ao desenvolvimento de fobias, depressão, ansiedade, síndrome do pânico, entre outros transtornos psíquicos”, cita.

Tudo isso, diz ela, torna o home office ainda mais desafiador.

“Não é nem por essa confusão. É como a pessoa interpreta as novas cobranças. Ela pode achar que é algo a mais do que ela vai dar conta. Semana após semana, a pandemia não dá sinais de que está terminando, de que as coisas vão voltar ao normal e que ela poderá sair para trabalhar todos os dias. E ela acaba com uma cobrança maior sobre si mesma”.

Dificuldades

Segundo Cristiane, uma das maiores dificuldades do home office está em separar vida profissional e vida pessoal.

“O trabalho continua o mesmo. A relação com o trabalho é que mudou! A pessoa saía de casa, e o cérebro dela entendia que ela estava em outro ambiente. Ela encontrava pessoas, conversava. Tinha aquele agito da empresa. Ao final do expediente, ela voltava para casa e, mesmo que muitas vezes continuasse a trabalhar um pouco mais, o cérebro entendia que ela não estava mais no local de trabalho. Agora não tem isso. Parece que o único descanso é dormir. Vejo as pessoas se queixarem de que estão dormindo muito mais também”, analisa a psicóloga.

Uma saída é preparar o ambiente de casa como se fosse o do trabalho. “É preciso ter esse espaço separado. Deixar a mesa arrumada, organizada como se fosse a do escritório. Vale colar bilhetes na parede em frente ao computador, deixar porta-lápis, agenda, impressora. Isso dará a sensação de estar em outro ambiente que não o de casa”, recomenda.

Para Roberta Kato, da Kato Consultoria e Treinamento, há pessoas que realmente precisam de “gatilhos” mentais para se sentirem mais produtivas. “Existem pessoas que prezam pelo conforto e gostam de trabalhar de roupão. Mas muitas precisam se vestir para o trabalho. Eu, por exemplo, me maquio e coloco salto, mesmo que seja para trabalhar em casa. Façoo home office há anos. Isso me ajuda a separar mentalmente meu tempo de trabalho e lazer quando estou em casa. Mas não é regra, é modelo mental”, comenta.

Kátia Vasconcelos, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-ES), destaca que a pandemia de Covid-19 empurrou milhares de pessoas para o home office sem nenhum tipo de preparo.

"Como foi feito de forma emergencial, sem planejamento, não dá para dizer que as pessoas tenham condições ideais para um home office tradicional, como equipamento, qualidade de rede, qualidade ambiental e condições culturais e emocionais. Trabalhar em casa implica uma série de aspectos. E agora, todos nós em casa, estamos tendo que desenvolver múltiplos papéis ao mesmo tempo> de cuidador, de professor... Não estamos apenas em casa desempenhando nosso papel profissional. No mínimo, estamos desempenhando dois papéis. Isso faz com que o tempo fique espremido. E os objetivos, tanto pessoais quanto profissionais, precisam ser entregues".

Para a especialista, trabalhar de casa tem sido um desafio para todos. "Mesmo quem já trabalhava dessa forma precisou incluir outras tarefas domésticas, de cuidado de si próprio e de familiares".

Ferramentas

De acordo com Kátia, é preciso aprender algumas ferramentas para assegurar essa produtividade. "Como o home office exige uma organização, é preciso estar atento aos objetivos do dia, da semana, e estabelecer um plano de ação. Isso acaba ajudando a definir limites de horário e metas".

A produção

Produzir longe dos chefes pode ser estressante também. Sem falar no medo de perder o emprego, diante da crise econômica do país.

“As conversas se dão por meio de mensagens de WhatsApp, que podem ser facilmente mal interpretadas. No tête-à-tête, dá para compreender o que o chefe está falando, enfrentá-lo,se for o caso. Tudo é resolvido. Mas na mensagem, tem uma outra interpretação. No áudio e muito mais na mensagem escrita. A pessoa já está se sentindo incapaz, sobrecarregada. Aí, não consegue responder, se prostra e pode adoecer”, afirma Cristiane.

Isso pode levar o empregado, mesmo em casa, a um quadro de exaustão ligada ao trabalho, a chamada Síndrome de Burnout.

De acordo com a psicóloga, por causa do desconhecimento geral e de preconceitos, o Burnout é um problema difícil de se diagnosticado. “É quando a pessoa chega a um estágio de exaustão completa, física e mental. Ela nem consegue se levantar para ir ao banheiro direito. Tem dor de cabeça, dificuldade de concentração, insônia e sente asco de tudo que esteja relacionado ao trabalho”, descreve ela.

Outro desafio no home office é organizar a rotina para não acabar ficando o dia inteiro em função do trabalho, com o experiente todo fragmentado, respondendo a demandas de manhã, de tarde e de noite.

Por isso, a primeira coisa é identificar se o tempo dedicado às tarefas profissionais está se sobrepondo ao tempo para assuntos pessoais.

“O brasileiro não tem muito essa cultura ainda de home office. Confunde as coisas. Não tem local específico, equipamentos. O aparelho em que vê suas redes sociais é o mesmo que emite o sinal do WhatsApp com mensagem de trabalho. A pessoa ouve o som da mensagem e já tem taquicardia, a respiração já muda. Só de deixar o celular ligado o tempo todo, com notificações a cada minuto, já é um sinal de que ela está lidando errado com seu trabalho. Se precisa colocar o telefone e o notebook para carregar três vezes por dia é porque está trabalhando muito”, pontua a psicóloga.

É importante lembrar, diz ela, que estamos fazendo um trabalho em casa, mas não em toda a casa. "Por menor que seja o espaço físico, por mais concorrência que exista, já que há famílias numerosas e muita gente em casa neste momento, vale pensar em um espaço físico de trabalho para que fique claro que naquele momento você não está disponível para outros assuntos da casa. Um quarto para ocupar, um cantinho da sala ou da mesa de jantar. O mais perigoso é começar o trabalho numa mesa, passar pelo sofá e ir se dispersando. Se sentir no trabalho é fundamental, a forma como se veste é importante. Ficar de pijama o dia inteiro pode contribuir para sua dispersão".

Aspas de citação

O mais perigoso é começar o trabalho numa mesa, passar pelo sofá e ir se dispersando. Se sentir no trabalho é fundamental, a forma como se veste é importante. Ficar de pijama o dia inteiro pode contribuir para sua dispersão

Kátia Vasconcelos
Presidente da ABRH-ES
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Kátia acredita que vestir-se adequadamente,  fazer intervalos para almoço, para café, para uma esticada, são pontos que ajudam nesse processo. "Lembrando que em casa, ao contrário do local de trabalho, muita gente não tem móveis adequado, falando em termos de ergonomia.  Então, tem que cuidar para não ficar muito tempo sentado, usando uma cadeira inadequada, que vai causar dores depois".

Limites

É preciso, dizem as especialistas, estabelecer limites. Para você e para a equipe com quem você trabalha.

“Se for possível, alinhe com os envolvidos, como colegas e gestores, seu horário de atuação e informe que após este horário precisa dar atenção a outras questões. E peça que só seja acionado em casos de urgência. Caso alguém ligue, antes de iniciar a conversa, pergunte com educação ‘é urgente ou podemos tratar amanhã no primeiro horário?’", orienta Roberta.

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Se for possível, alinhe com os envolvidos, como colegas e gestores, seu horário de atuação e informe que após este horário precisa dar atenção a outras questões. E peça que só seja acionado em casos de urgência. Caso alguém ligue, antes de iniciar a conversa, pergunte com educação ‘é urgente ou podemos tratar amanhã no primeiro horário?

Roberta Kato
Kato Consultoria
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Em geral, segundo Roberta, não há muita fórmula para um home office ideal.

“Há pessoas que se sentem mais tranquila para fazer as coisas após finalizarem as tarefas. Há aquelas que preferem realizar as coisas pessoais antes, para evitar que isso as tire o foco do trabalho. Eu costumo orientar a colocar sempre uma lista de prioridades, separando o que é importante e urgente, o que é importante e o que pode ser agendado. Faço as do primeiro grupo, pauso uma hora para fazer ligações e outras coisas pessoais. E sigo para o segundo grupo. O importante é não deixar as tarefas de acomularem”, destaca ela.

Segundo Kátia, é provável que após a pandemia, algumas empresas passem a adotar o home office de forma mais estruturada, planejada.  "Essa situação trouxe mudanças que  nos farão aprender novas normas sociais, que serão estendidas para nossa vida pessoal e profissional. O que precisamos entender é que estamos num tempo de mudanças acelerado, onde o tempo de aprendizado é curto, e a necessidade de mudar é urgente", ressalta ela.

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    Pensando "modo trabalho"

    Descubra o que pode servir de “gatilho” para sua mente entender que a hora de trabalhar e a hora de descansar e fazer outras coisas em casa. Algumas pessoas precisam se vestir e até se maquiar como se fossem para o escritório. Para outras, isso é trivial. Há quem só consiga se concentrar se estiver em um local que lembre o escritório, com uma mesa específica, seus objetos de uso profissional. Isso evita distrações e interrupções.Muitas vezes, o que parece ser excesso de trabalho é apenas desorganização

  • 02

    Ligando o "modo descanso"

    Para diferenciar as pausas do trabalho, saia do ambiente onde está o notebook ou computador. Vá para cozinha, varanda, outro lugar que pode ajudar a espairecer. Como não tem mais o deslocamento até a empresa, substitua esse tempo por outra atividade, como um exercício físico, por exemplo

  • 03

    Estabeleça limites

    Se trabalha com equipe, defina com colegas e gestores qual será seu horário de experiente. E peça que só seja acionado fora desse horário para questões urgentes. Seja rigoroso também consigo mesmo para respeitar esse período. Dedique-se com foco total. Mas quando acabar, “desligue” mesmo

  • 04

    Organize a rotina

    Por causa da pandemia, há outras necessidades na rotina. Estabeleça horário para trabalho, para cuidar da casa, para ajudar os filhos nos estudos, para fazer sua refeição com calma e para seu entretenimento. Faça intervalos regulares, dê uma esticada. Cuide do mobiliário, buscando aquilo que seja confortável, adaptado para o trabalho.

  • 05

    Fique atento a sinais de descontrole

    Se está se sentindo mais sobrecarregado do que o normal, mais cansado, analise se não é o caso de pedir ajuda. É possível desenvolver doenças psíquicas ligadas ao trabalho mesmo estando em casa, como a Síndrome de Burnout. Procure psicólogos ou psiquiatras. Há atendimento virtual nesse período de pandemia

  • 06

    Não se isole

    Sentindo falta dos colegas? Veja se em vez de enviar mensagem o assunto pode ser tratado por videoconferência. O contato humano minimiza os desconfortos do isolamento, facilita a comunicação. Vale até criar momentos de confraternização de modo virtual com a equipe, como um happy hour, um aniversário ou outra data importante

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