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Psicanalista explica como falar com as crianças sobre violência

Psicanalista explica como falar com as crianças sobre violência

Bianca Martins, que é psicóloga, psicanalista e mestre em Saúde Coletiva, dá dicas para reconhecer abusos e fala sobre os sinais que devem ser observados pela família

Publicado em 13 de abril de 2021 às 17:03

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Bianca Martins, psicanalista
"A única forma de assegurar a criança é resguardar sua integridade física e emocional", diz Bianca Martins. (Carlos Alberto Silva)

A morte do menino Henry Borel Medeiros, de 4 anos e 10 meses, com múltiplas lesões no corpo, chocou o país. A criança tinha 23 lesões que não foram consideradas compatíveis com uma queda da cama, como foi sugerido por sua mãe, a professora Monique Medeiros. Ela foi presa na semana passada com o namorado, o vereador Dr. Jairinho, acusados de envolvimento da morte. Após um mês de investigação, a polícia concluiu que o vereador agredia o enteado, e que a mãe da criança sabia disso — pelo menos desde o dia 12 de fevereiro.

O caso reacendeu o debate sobre maus tratos a criança no Brasil. Mas, afinal, quais são os sinais de que uma criança está sendo vítima de agressão?  Como falar com ela sobre violência? A GAZETA conversou com Bianca Martins, que é psicóloga, psicanalista e mestre em Saúde Coletiva. Ela explica que a sociedade ainda acredita que para educar é necessário o uso da violência. "Cabe os pais buscarem conhecimento apropriado para lidar com cada fase do desenvolvimento de seu filho. E instruírem a criança que ninguém tem o direito de incidir violentamente sobre os seus corpos", diz. Confira a entrevista. 

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    Esse deveria ser um assunto cotidiano. Porém, nossa cultura ainda se acredita que para educar uma criança é necessário a violência. Há pais que utilizam até da bíblia para justificar a 'correção'. A única forma de combater a violência contra a criança é não utilizar qualquer meio violento na educação dos pequenos. Tapas, caneladas, beliscões, empurrões, fazem parte do repertório de muitas famílias. Sem contar os gritos e xingamentos. É claro que educar uma criança requer muita disponibilidade, paciência e tolerância. Ela não nasce sabendo se comportar, ela aprende. E os maus comportamentos na infância são muito mais uma tática de se adequarem à vida familiar do que birra ou manhã. Cabe os pais buscarem conhecimento apropriado para lidar com cada fase do desenvolvimento de seu filho. E instruírem a criança que ninguém tem o direito de incidir violentamente sobre os seus corpos.

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    A criança é muito mais inteligente do que muita gente pensa. Ela sabe e esse saber se dá porque não é alienada ao mundo em que vive. É importante dizer que ela tem direitos e um deles é ser protegida. Mas também de informar que no mundo há pessoas que não cumprem a regra de protegê-las e que isso é crime. E que infelizmente elas precisarão aprender como se proteger de situações assim. A criança dá mostras que algo não vai bem e o adulto deve sempre dar crédito ao que ela diz. Amedrontada fica a criança que não tem repertório simbólico para reagir a essas situações e muito menos encontra num adulto a proteção.

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    Digo que é importante responder às perguntas das crianças, sempre que elas forem feitas. É claro que respeitando a idade e a capacidade de compreensão de cada uma. Um criança instruída na medida será sempre mais protegida contra abusos e violências.

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    A proteção da criança é função da família. Todas as pessoas do núcleo familiar são responsáveis pelo seu bem-estar. É um erro achar que a mãe e o pai são os únicos responsáveis. Quando tragédias como a que chocou o Brasil acontecem - como o caso Henry no Rio de Janeiro e o assassinato do menino Paulo Otávio no Espírito Santo - devemos ter em mente que toda sociedade está falhando com as crianças. Eu ouso dizer que há um genocídio da infância no nosso país. Elas estão sendo violadas em seus direitos mais primordiais que é educação e saúde.

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A proteção da criança é função da família. Todos do núcleo familiar são responsáveis pelo seu bem-estar. É um erro achar que a mãe e o pai são os únicos responsáveis

Bianca Martins
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    Os contos de fada são metáforas muito úteis quando a criança tem menos que 5 anos. São uma forma lúdica de ir instaurando o real da experiência humana. As crianças a partir dessa idade já estão alfabetizadas quanto à moral, para essas pode-se a partir do diálogo ampliar as percepções sobre essas experiências.

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    A única forma de assegurar a criança é resguardar sua integridade física e emocional. Cabe à família educar seus filhos na premissa da proteção. Com isso essa criança se tornará alguém não violento.

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    Mudanças de comportamento, recusas, regressão no comportamento. Ouvir a criança é importantíssimo. Ela é um ser ávido por se relacionar com o outro. Se a sua se fecha ou demonstra desconforto é porque algo não vai bem e deve ser imediatamente afastada do convívio até uma melhor averiguação ser feita. 

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    Sim, as crianças em situação de vulnerabilidade estão mais invisíveis ainda. É muito raro que uma criança faça a denúncia pois há um pacto de silêncio com o agressor. Esse normalmente ameaça a fazer mal as outras figuras de cuidado. Por isso, é de extrema importância a abertura das escolas, pois elas funcionam como um lugar de observação e proteção. Normalmente os professores são os primeiros a perceber que algo não vai bem com a criança.

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    Muito me preocupa esse pensamento que a criança não é confiável. O mundo dela é um mundo em constituição. O que me chama atenção é a surdez dos adultos diante do incômodo expressado por uma criança. O ideal é ouvir, acolher, observar e agir. A criança deve se sentir protegida e considerada. Para criança ter sido ouvida pelos pais em qualquer situação que tenha se sentido vulnerável é o que faz com que ela se humaniza e tenha fé na vida.

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