É psicóloga, psicanalista, entusiasta da maternidade, paternidade e mestre em Saúde Coletiva. Escreve sobre os bebês, as emoções, os comportamentos, os conflitos e dilemas contemporâneos do tornar-se família

Como conversar sobre a morte com as crianças?

As crianças, de qualquer idade, são os seres humanos mais generosos e empáticos que eu conheço. Eles nos ensinam muito sobre resiliência

Publicado em 31/03/2021 às 02h00
Como falar de morte com a criança
Sempre que possível, que suas crianças participem dos ritos de despedidas se eles quiserem. . Crédito: Shutterstock

Quando a família encontra-se na iminência de perder um ente querido ou essa perda se dá de maneira inesperada, esse evento abala a todos. E as crianças, ao contrário do que muitos pensam, não saem ilesas.

Elas percebem pelos tons das conversas, pelo aspecto desolado dos pais, pela atmosfera de tristeza que paira pela casa. A criança tem o direito de saber a verdade. E cabe aos pais garantir esse direito.

Se alguém está doente, que a criança seja informada.

"Sabe, Joãozinho, o vovô está muito doente. Estamos fazendo todo o possível para que ele se recupere, mas às vezes o nosso corpo não aguenta lutar contra a doença". 

Ou então:

"Maria, estamos muito tristes porque tia Joana não resistiu aos ferimentos de um acidente de carro e infelizmente morreu". 

"Mas mamãe, o que é a morte?"

"Ah, Pedrinho. A morte é quando alguém que amamos deixa de existir em seu corpo físico e passa a viver em nossas memórias e recordações, apenas".

E ainda:

"Papai, o meu irmãozinho não vai vir para casa?"

"Infelizmente seu irmãozinho nasceu muito antes do tempo e não estava pronto para crescer fora do corpo de sua mãe. Os médicos fizeram todo o possível para cuidar dele, mas ele era muito frágil e não resistiu. Agora só nos resta esperar a sua mãe chegar em casa e cuidar dela. Serão dias de muita tristeza, mas nós, como uma família, vamos superar e em breve teremos dias felizes novamente". 

Essas palavras confortam e ao mesmo tempo consolam as crianças.

Eu sei que não é fácil. Eu mesma já acompanhei equipes ao dar essa notícia aos pais de crianças muito pequenas, quando trabalhava em hospitais. E também tive que responder a essas perguntas feitas pelo meu filho pequeno quando perdemos meus pais, há alguns anos.

Mas eu garanto, as crianças, de qualquer idade, são os seres humanos mais generosos e empáticos que eu conheço. Eles nos ensinam muito sobre resiliência.

Portanto, permita, sempre que possível, que suas crianças participem dos ritos de despedidas se eles quiserem. Não force, mas também não omita. A cerimônia de despedida é um momento de congregação familiar muito importante.

Mantenham pela casa lembranças da pessoa que perderam. Fotos, objetos... Não precisa tirar tudo de imediato. Contem histórias sobre a vida do ente querido.

O corpo físico deixa de existir, mas as marcas da existência emocional e psíquica proporcionada pela pessoa que amávamos se mantêm vivas sempre que nos permitirmos lembrar de nosso parente que não se encontra conosco.

Permita-se chorar, sofrer, lamentar a perda. Permita que as crianças também chorem, lamentem e se lembre do parente que morreu.

Viver o luto é uma rica experiência que deve ser vivida, pois nos humaniza. Precisamos instrumentalizar nossos filhos nas vivências dos lutos. Principalmente na atualidade, onde tantas perdas são notificadas dia a dia.

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