É psicóloga, psicanalista, entusiasta da maternidade, paternidade e mestre em Saúde Coletiva. Escreve sobre os bebês, as emoções, os comportamentos, os conflitos e dilemas contemporâneos do tornar-se família

A intolerância dos dias atuais

As discussões que antes eram da ordem da vida privada, agora se tornam públicas, violentas e principalmente, sem fronteiras

Publicado em 03/02/2021 às 02h00
Homem impaciente e irritado
Nosso narcisismo, muitas vezes indócil nos faz repelir absolutamente tudo que possa ir na via contrária ao que acreditamos, vivenciamos, desejamos. Crédito: Freepik

Pergunta: "Tenho estado preocupado, pois diariamente percebo o quanto as pessoas, de uma maneira em geral, estão impacientes, com dificuldades de aceitar a opinião dos outros. Estamos mais intolerantes?", Josué

Sua percepção é bastante importante, Josué. Mas eu não creio que as pessoas estejam mais intolerantes e impacientes, do que em outras épocas.

Os seres humanos gostam de ter suas opiniões consideradas. E quando digo consideradas estou sendo branda, na minha observação. Nosso narcisismo, muitas vezes indócil nos faz repelir absolutamente tudo que possa ir na via contrária ao que acreditamos, vivenciamos, desejamos. O que nos é diferente. O que nos é contrário. Somos tão frágeis que nossa tendência é repelir o que não compreendemos, pois na grande maioria das vezes temos o medo, totalmente inconsciente, de sermos devorados pelo que não nos é familiar, ou próprio. Quanto medo os sujeitos humanos têm das emoções das quais não foram alfabetizados.

Desde que o mundo é mundo há desavenças e guerras entre os povos, pelos mais variados motivos. A bola da vez, no nosso país é a política. Mas não se engane, até mesmo questões cotidianas, por exemplo, como amamentar ou não um bebê, ter parto normal ou cirúrgico, permitir que a criança muito pequena compartilhe da cama dos pais, entre infinitas outras questões “domésticas” são temas recorrentes de debates acalorados.

O que percebo é que na atualidade, as discussões que antes eram da ordem da vida privada, ou seja, nos nossos círculos relacionais como família, trabalho e comunidade, agora se tornam públicas, violentas e principalmente, sem fronteiras.

Com a tecnologia uma opinião pode ser compartilhada com pessoas do mundo todo. Perde-se a propriedade de minimamente saber quem é o narrador e com isso, os ataques podem se tornar desmedidos. 

O tribunal da internet é implacável. Condena sem avaliar, brada sem considerar o narrador e o contexto da narrativa. Infelizmente as palavras podem ser tomadas não de acordo com a intensão de quem as produz, mas no mundo silencioso das redes sociais, cada leitor irá tomar a partir de sua própria subjetividade o dito. Daí é a Torre de Babel.

Há um ponto importante que incendia ainda mais a intolerância. Os laços sociais e afetivos estão cada vez mais frágeis. Como nos ensinou o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em sua série sobre a “vida líquida”, nas relações entre os humanos o que importa na atualidade é a satisfação a todo custo, e não a perenidade das relações.

Portanto Josué, há uma escolha a ser feita: ter razão ou serenidade na vida? Porque a verdadeira felicidade é conviver com respeito, mesmo nas adversidades.

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