É psicóloga, psicanalista, entusiasta da maternidade, paternidade e mestre em Saúde Coletiva. Escreve sobre os bebês, as emoções, os comportamentos, os conflitos e dilemas contemporâneos do tornar-se família

Você já tomou sua dose de humildade hoje?

O tema vacina foi unânime nas sessões dos pacientes adultos e pasmem, crianças também. A pergunta que mais ouvi foi: "Devemos acreditar na vacina?"

Publicado em 11/01/2021 às 15h12
Grandes expectativas surgiram com os resultados de fase 3 das vacinas de RNA mensageiro
As vacinas salvam, impedem que adoeçamos e nos dão a possibilidade de viver uma vida sem sequelas. Crédito: Freepik

Na semana passada recebemos com um misto de alívio, tensão e incredulidade a notícia de que, enquanto nação, seremos vacinados em breve. Isso se, os governantes não atrapalharem, devido às vaidades atuantes nas esferas públicas, o processo. O tema foi unânime nas sessões dos pacientes adultos e pasmem, crianças também. A pergunta que mais ouvi foi: "Devemos acreditar na vacina?". A frase me fez refletir sobre sua semântica. Há 3 palavras importantes na oração: devemos, acreditar e vacina.

Primeiro temos a locução verbal – devemos acreditar. O verbo dever, utilizado no tempo verbal presente, em seu estado plural é um bálsamos aos ouvidos coletivos. O interlocutor quando a profere não se encontra em sua condição subjetiva solitária. Ela nos remete ao pacto coletivo: "eu faço, você faz e todos nós nos beneficiamos". Em tempos onde os exercícios das individualidades são exaltados ao nível máximo do egoísmo, ouvir de várias pessoas que tanto ela, quanto eu, precisamos nos submeter a uma ação que visa o bem-estar de todos é sem dúvida um alívio.

O outro verbo da locução é acreditar, secundário quanto ao lugar gramatical na frase. Mas crer é uma necessidade emocional primitiva dos seres humano. Só nós possuímos crenças. Todos nós, em absoluto, cremos em algo. Crer nos dá amparo. É extremamente complicado sermos entre os seres vivos os únicos que possuem consciência da finitude física. Isso mesmo, é duro pra caramba cogitarmos que iremos morrer, um dia. O ano de 2020 esfregou nas faces de nossas existências soberbas, porém frágeis, essa condição, cotidianamente. Todos nós de uma forma ou outra estivemos diante do espelho da morte, sem exceção.

Bianca Martins

Psicanalista

"Mas crer é uma necessidade emocional primitiva dos seres humano. Só nós possuímos crenças. Todos nós, em absoluto, cremos em algo. Crer nos dá amparo"

Por isso, crer em uma vida após a morte, como conforta as religiões, ou no otimismo que promove a passagem do tempo cronológico de um ano a outro, ou até mesmo que teremos um sujeito entre tantos outros que aliviará nossas mazelas, faz parte do inconsciente social desde que o mundo é mundo. Afinal somos arrogantes, e nossa vaidade não nos permite admitir que somos frágeis, demasiadamente frágeis.

VACINAS

E por último a vacina. Se a grande maioria das pessoas está viva hoje é por que no passado, as gerações anteriores creram na efetividade da vacinação como forma de reduzir os adoecimentos nas populações. Você já ouviu falar de pessoas que morreram devido poliomielite, sarampo, rubéola, diferia, tétano, coqueluche, meningite, caxumba, febre-amarela, hepatite? Sabia que elas matavam e sequelavam milhões de pessoas em todo o mundo antes do advento das vacinas? Sabia que as 4 primeiras doenças da lista, encontram-se erradicadas do Brasil graças às campanhas de vacinação? Que é muito difícil ver uma criança com sequela motora de poliomielite. Que famílias nas últimas décadas não enterraram seus filhos pequenos devido ausência de cuidados para essas doenças. Agora se você perguntar a sua avó, certamente houve um tio ou uma prima que morreu na tenra idade por falta de imunização. Esses lutos não pranteamos. O que quero dizer é que as vacinas salvam, as vacinas impedem que adoeçamos, as vacinas nos dão a possibilidade de viver uma vida sem sequelas, as vacinas são os primeiros recursos para a prevenção de doenças.

Mas na minha experiência como ser humano e analista posso afirmar que o que nos salva mesmo é a humildade. Exatamente o que você leu! Estamos diante de uma situação já experienciada por outras gerações. Ao longo dos séculos o conhecimento humano evoluiu justamente como resposta ao nosso desemparo. Notem que após tragédias, guerras, desastres que ceifam muitas vidas a ciência floresce. É a dor da perda que nos faz buscar melhores formas de viver. Quando tomamos a decisão de crer na saúde, estamos pactuando com os cientistas que ao longo dos últimos meses não mediram esforços para encontrar uma solução sanitária para conter a proliferação da Covid-19.

Agora é tempo de fazermos a nossa parte e nos unirmos nessa ação de acreditar na eficiência da vacina. Sim, vacinas são eficientes. As gerações futuras agradecerão os nossos esforços e com isso transmitimos o que nos foi legado pelas gerações passadas, a fé no humano. Você já tomou sua dose de humildade hoje?

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