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Mais de 100 dias em quarentena: algo não mudou? Confira o relato de 'quarenteners'

Mais de 100 dias em quarentena: algo não mudou? Confira o relato de 'quarenteners'

Mais de cem dias que o capixaba e todo o país se vê em um “novo normal” e nós, da Revista ag, fomos atrás de diferentes histórias pra saber como os ‘quarenteners’ se viraram em todas as fases desse período

Publicado em 18 de julho de 2020 às 07:00

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Personagens da quarentena
Personagens da quarentena abriram as portas e o coração pra Revista ag e nos contaram como estão vivendo essa fase. (Reprodução)

Em março deste ano, tudo mudou. Todas as rotinas foram bruscamente interrompidas e adaptadas ao que estão chamando de “novo normal”. Mas o que todo mundo sabe é que de normal, esse período e todo mundo sofreu transformações, sejam elas grandes ou pequenas. E, nessa reta final, e agora todo mundo se apega à lenta e gradual retomada.

São mais de cem dias e depois de todo esse tempo, o isolamento integral passa a ceder espaço para a redução de danos. Casais se encontram com máscaras e álcool em gel, sessões de cinema tem públicos inteiros dentro de carros e várias outras atividades se reinventam neste período.

Apesar de toda a criatividade voltada para o cuidado, nessa fase, cada vez mais próxima da vacina que promete libertar todos aqueles que contam os dias para o fim da quarentena - é o que esperamos -, a sensação de estar “sozinho no barco” aumenta. Muitos se sentem frustrados ao perceber que nem todos estão tomando as devidas precauções.

E essa é apenas uma das sensações, foram muitas as fases da quarentena e cada um viveu esses blocos como conseguiu e alguns destes ‘quarenteners’ resistentes compartilharam suas histórias com a gente.

Arte como refúgio

Bella Mattar, cantora e compositora
Bella Mattar aproveita o tempo pra compor e descobrir novas receitas. (Letícia Polegário)

Isabella Mattar, mais conhecida como Bella Mattar, é cantora, compositora e universitária. Na quarentena, mais do que nunca, a música tem sido sua válvula de escape. Ela conta que a maior mudança que a quarentena provocou na sua vida, foi a ensinar a desacelerar. “Eu estava numa rotina muito intensa em várias áreas da minha vida. Superativa na faculdade, ao mesmo compondo, indo po estúdio, uma loucura só. E de repente, freei, não no sentido de parar com tudo, mas de fazer em um tempo mais lento e me adequar”, diz.

Bella lembra que, no primeiro mês de quarentena, eu estava decidida a aumentar sua produtividade, mas com o tempo tudo foi mudando e ela precisou se adaptar. “No começo, fiiz vários vídeos pra todas as redes sociais possíveis, passava o dia e a noite trabalhando. Só que as minhas energias foram esgotando, a situação externa também me influenciou muito, então vivi uma fase de improdutividade. Tive também uma fase de ansiedade, de querer que tudo isso passasse logo, de querer trabalhar, voltar à minha rotina. Foram inúmeras fases”, complementa.

De pouco a pouco, ela foi aprendendo a lidar com a “montanha-russa” da produtividade e passou a experimentar novas atividades, típicas de ‘quarentener’. No tempo livre, uma das atividades favoritas de Bella tem sido testar receitas e dançar. Ela conta que teve sucesso em várias tentativas na cozinha. “Estou gostando muito de cozinhar e de comer, consequentemente. Também tenho feito várias dancinhas no TikTok, pode parecer fútil, mas é uma oportunidade de mexer o meu corpo e acabar me exercitado um pouco, o que me deixa mais feliz”, acrescenta.

Bella investe também boa parte do seu tempo na sua arte e está tocando os projetos, no seu tempo, pra depois que tudo isso passar, ela volte à rotina que ama. “Gosto muito de tocar meu violão e de compor músicas pra expressar aquilo que eu não consigo dizer. A música tem sido um grande refúgio pra mim, sempre foi, mas nesse período, em especial, está sendo muito importante”.

Bella salienta ainda a importância da arte neste momento, seja ela em forma de música, filmes, séries ou qualquer outra manifestação. “Acho que todo mundo tem consumido muito e isso tira um pouco a gente desse estresse. Pra mim tem sido incrível tanto quando consumo, quanto como artista, quando eu recebo o carinho, mesmo que virtualmente, isso dá um impulso. Porque quando a gente não tem esse encontro com o público, fica mais difícil, então ter todo esse carinho virtual é muito legal, as lives, festivais onlines, tudo isso tem sido bem especial”, conclui.

Na cozinha

Emanuelly Andrade, confeiteira
Emanuelly Andrade resolveu investir no próprio negócio durante a quarentena. (Arquivo pessoal)

O refúgio de Emanuelly Andrade desde o início da quarentena é a cozinha. A confeiteira conta que aproveitou o tempo em casa pra fazer várias coisas que já planejava há muito tempo, tirou alguns projetos do papel e tem investido o tempo livre em se aperfeiçoar. “Entrei para área de confeitaria e tem dado super certo. Fiz e faço diversos cursos on-line”, diz.

Mesmo com toda a crise acentuada pela pandemia, no meio da quarentena, Emanuelly se encorajou para encarar os desafios de empreender. “Mesmo com tudo o que está acontecendo, resolvi realizar o sonho de trabalhar pra mim mesma. Acho que toda essa situação me fez pensar em não deixar nada pra depois”, afirma.

Ela conta que a produtividade oscila bastante neste período tão tenso. Nem todos os dias rendem como ela gostaria, mas ela tenta não se prender muito a isso e se permitir viver um dia de cada vez até que tudo passe. “Tem dia que trabalho mais, outros bem menos. Um dia compensa o outro e assim sigo”, completa.

Apesar de todos os desafios deste momento, Emanuelly sente que o tempo em casa serviu pra intensificar seus laços com a família. “Consigo dar mais atenção pra minha filha e curtir minha mãe e minha irmã que me ajudam na cozinha e estão sempre por perto também”, acrescenta.

Desenvolvendo novos talentos

Brendon Oliveira, músico
Bdon produziu o próprio EP durante o isolamento. (Andrew Gabriel)

Assim, como Bella Mattar, o músico, cantor e compositor Brendon Souza (Bdon) também teve uma sensação de pausa com a chegada da quarentena. Ele conta que tudo mudou, principalmente a rotina e a forma de trabalhar. “Eu precisei pensar muito se eu deixaria tudo pausado ou se ia me adaptar e continuar trabalhando. Precisei estudar formas pra que eu conseguisse fazer com que desse certo”.

Sobre as fases da quarentena, Brendon consegue identificar quais foram, mas, às vezes elas se misturam. “Não tive muito tempo de negação, aceitei rápido que precisávamos dessa reclusão pra sair logo disso. Mas, depois de um tempo, veio a acomodação e as várias questões psicológicas, envolvendo estresse e ansiedade”. lembra.

“Tiveram vários momentos em que me senti produtivo. Em maio, no meio disso tudo, fui demitido do meu antigo emprego, mas sempre procurei fazer algo pra não ficar parado. De maio a junho, consegui fazer a construção do meu próprio EP”, se orgulha.

Como todo bom ‘quarentener’, Brendon aproveita o tempo em casa pra assistir séries e filmes, além de estar sempre ouvindo músicas, mas também organiza a rotina pra se dedicar aos seus projetos. “No meu tempo livre, eu procuro estudar e me dedicar a alguns softwares de produção que quero evoluir, porque aprendi de forma autodidata”, conta.

Muito satisfeito com tudo o que aprendeu neste período, Brandon deixou um conselho pra quem precisa de um gás nessa fase final da quarentena: “Se você tem vontade de fazer algo, desenvolva, se explore e não desista do que você quer e gosta. Essa quarentena pode nos ajudou a nos encontrar”.

Sem cobranças

Roberta Leitte, teraputa holística
Roberta Leite tenta não se cobrar nessa fase e recomenda que façamos o mesmo. (Arquivo pessoal)

Para a terapeuta energética Roberta Leite, o sentimento de medo era muito forte no início da quarentena, por receio do que poderia acontecer com toda a população, com a minha família que tem um comércio e teria que fechar, Mas mesmo sentindo ansiedade, ela entendia a importância de permanecer em quarentena. “No segundo mês quando via pessoas saindo e quebrando a quarentena, comecei a entrar um pouco em negação, acredito que por receio do isolamento começar a desandar”, lembra.

Ela conta que prefere passar o tempo livre sem cobranças. Como continua trabalhando à distância durante a semana, Roberta aproveita os fins de semana para cozinhar, meditar, participar de algum encontro online que a interesse ou fazer chamada de vídeo com os amigos. “Muitas pessoas começaram a falar desde o início do isolamento: “aproveitem a quarentena para estudar, para ler vários livro...”, mas sinto que isso na verdade é uma cobrança exagerada de produtividade e estimula a nossa sociedade e continuar nesse ritmo ansioso de se comparar e a querer sempre se superar”, desabafa.

“Como não concordo com esse pensamento, eu me respeito. Se tenho um tempo livre e quero apenas descansar, faço isso. Se quero ler um pouco, leio, mas sem cobranças”, complementa.

“Além da quarentena me fazer pensar e olhar mais para o coletivo, sinto que para mim foi o momento de ressignificar ainda mais a importância do “permitir sentir”. Olhei ainda mais a fundo a importância de cuidarmos uns dos outros. Ligar para a família, para os amigos e perguntar se estão bem, precisando de alguma ajuda. Sinto que as pessoas também estão olhando mais para os seus sentimentos e percebendo a importância de expressá-los”, diz Roberta sobre esse período.

A dica que ela dá para os outros ‘quarenteners’ é que todos estejam focados em se cuidar, mesmo em meio a essa fase desafiadora, de muitas mudanças e incertezas. “Procure ajuda para entender sobre os seus sentimentos. Você não é mais fraco ou mais forte do que alguém por isso. Fique bem! Tudo isso vai passar”, finaliza.

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