Quem não assistiu várias vezes ao sucesso que foi o filme Karatê Kid (1984), que atire a primeira pedra. Atemporal, a história conquistou outras gerações com o remake protagonizado por Jackie Chan e Jaden Smith, em 2010. Na época, muita gente se sentiu motivada a conhecer o universo das artes marciais, incluindo as crianças. O fenômeno se repete agora, com a chegada da série Cobra Kai na Netflix, cuja história conta o que o futuro reservou para os personagens da versão original do filme.
A série, que vem se mantendo entre as mais assistidas pelos brasileiros desde a estreia na plataforma, colocou os benefícios e encantos do karatê na boca do povo novamente. E, em um momento em que as crianças estão muito imersas no mundinho das telas, o interesse pelo esporte provocado pela série anima muitos pais por aí.
A psicóloga e psicanalista Bianca Martins escolheu o karatê para o filho Luca, de 9 anos, por já conhecer o esporte e acreditar nele como um grande contribuinte para o desenvolvimento das crianças. Na infância eu pratiquei Karatê por um breve período, mas os meninos da minha família são praticantes do esporte desde a infância até hoje. Meu irmão é o Sensei do meu filho, diz.
A parte favorita do esporte para Luca é o Kumitê, que é a luta com o oponente, além de encontrar os amigos. Em dois anos de treinamento, ele já recebeu a faixa laranja, conta Bianca orgulhosa.
Ela entende o karatê como uma luta repleta de simbolismos, de cultura e valores importantíssimos para o desenvolvimento individual e social da criança. Há regras, hierarquia, as crianças enfrentam sua agressividade constitutiva e aprendem a lidar com sua força e com a do outro, pontua.
Aprendem sobre respeito, solidariedade e disciplina. Reduz o bullying e amplia a capacidade de defesa pessoal. Além de ajudá-los a aprender a ganhar e a perder, complementa.
Jorge Martins é arquiteto e começou a dar aulas de karatê há quatro anos, apesar de já praticar o esporte desde a infância, há cerca de 32. Sensei de Luca e de outras crianças na faixa etária de 6 a 12 anos, ele ressalta que os esportes são atividades que envolvem a ação do corpo como um todo, tanto a parte física, como a mental. Auxiliam na disciplina, socialização e, muito importante destacar: são divertidos. Crianças precisam se divertir!, salienta.
Apesar do sucesso de filmes e séries voltados para a temática, o Sensei lembra que, na ficção, há muitas questões que não correspondem aos fatos, como por exemplo, o intervalo de tempo em que um praticante aprende determinada técnica ou se torna expert em uma luta. Segundo Jorge, demoram anos, ou até mesmo décadas, para que se consiga atingir um nível satisfatório na arte do combate. Já nos filmes, esse tempo é mostrado de forma bem mais curta. Isso é um problema, pois pode levar o iniciante a ter a ilusão de que os resultados venham rápido, quando, na verdade, é preciso muita dedicação e perseverança para se progredir no caminho.
O professor explica ainda que os mais diversos tipos de pessoas procuram o Karatê, no entanto, existe uma característica em comum a muitos pais que buscam o esporte: eles querem oferecer para os seus filhos bem-estar e alguém que possa ser uma espécie de tutor, ou seja, orientar aquela criança no caminho correto.
A escolha geralmente é feita para que as crianças saiam sabendo não somente lutar, mas que também tornem-se boas pessoas, capazes de enfrentar as dificuldades da vida, fazer amigos e ajudar o outros. Enfim, nosso principal objetivo como professores é contribuir para formação do caráter da criança. Isso é o mais importante, conclui.
O tema da inclusão é sempre urgente e precisa de espaço. Ainda mais em tempos em que a educação inclusiva está correndo risco. É importante dizer que qualquer prática, seja ela voltada mais para a área esportiva ou para a pedagógica, implica em ganhos para todos os envolvidos. Uma criança autista, por exemplo, que pratica qualquer esporte junto a outras crianças, trabalha em si aspectos relacionados a interação social e contribui para que o meio aprenda a lidar com a diversidade ou a diferença, é o que diz é Renata Junger, psicóloga, mestre em psicologia institucional e psicoterapeuta corporal de crianças e adolescentes.
Além disso, a profissional esclarece que o desenvolvimento sócio-afetivo da criança também é um processo corporal. Por isso, tanto o brincar, quanto a prática esportiva, podem contribuir muito para a reparação de angústias e conflitos, e na aquisição de habilidades. A prática esportiva produz efeitos positivos tanto no corpo físico quanto no corpo mental e emocional da criança e dessa forma pode auxiliar no desenvolvimento cognitivo e motor, coloca a psicoteerapeuta.
É importante destacar alguns ganhos: a ampliação da consciência corporal, fundamental no processo de percepção de si e do mundo, e a viabilidade de um espaço de sociabilização como meio da criança construir novos repertórios, finaliza Renata.
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