Nessa coluna, Nanda Perim fala de sua experiência como psicóloga e educadora parental, dando seu parecer sobre questões atuais da educação infantil, trazendo dicas, humor e muita novidade boa!

Saiba como lidar com o retorno das crianças às aulas na pandemia

O retorno das crianças é complicado e bem delicado;  decisão do retorno deve ficar a cargo da ciência

Publicado em 27/08/2020 às 10h00
Atualizado em 28/08/2020 às 14h24
Sala de aula de alunos da educação infantil
Sala de aula de alunos da educação infantil. Crédito: Nicole Honeywill Sincerely /Unsplash

Essa pandemia chegou de surpresa e segue nos surpreendendo, apesar de não ter nenhuma notícia nova. Apesar de nos surpreender com a negligência presidencial, todas as outras consequências dessa doença assustadora já haviam sido previstas por especialistas nas primeiras semanas. No entanto, continuamos surpresos e permaneceremos nos surpreendendo por um simples e único motivo: a ignorância humana não tem limites. A falta de consciência coletiva e cuidado com o outro nunca foi tão clara para nós, e nos surpreende sem muita surpresa ao ver fotos desse final de semana uma multidão lotando o Triângulo das Bermudas, point famosinho da nossa capital.

Não ficamos surpresos por um lado, já que estamos decepcionados com as pessoas desde o começo disso tudo. Com frases como ‘só morre velho’ e ‘o Brasil não pode parar’ perdemos a oportunidade de fazer isolamento social bem feito por poucas semanas e nos ver com perdas bem menores ao longo dessa loucura toda. Desde o começo vemos pessoas saindo normalmente, se recusando a usar máscaras, ou usando no pescoço ou abaixo do nariz como quem não entende o básico sobre o que estamos vivendo.

Saio na rua e vejo ruas, calçadão e praia cheio de aglomerações, e fico pensando a quantidade de pessoas que sofreram dores terríveis por conta dessas decisões. Não colocam máscaras em crianças, usam as próprias de forma inapropriada e agora me vêm com mais essa: querem reabrir as escolas.

Pessoal, quero jogar um papo reto aqui com vocês: e os professores? Quem vai cuidar da saúde deles, fechados em salas de aula com crianças que foram no calçadão lotado com os pais sem máscara? Quem vai proteger professores, assistentes, profissionais da limpeza, em escolas com crianças pequenas que ainda sequer entendem o conceito de ficar com a máscara sem mexer nela toda hora?

A Dany do blog @quartinhodadany também trouxe uma questão bem interessante: qual o propósito de colocar crianças em escolas que não poderão brincar livremente, terão que ficar sem ir aos parquinhos, que terão que se policiar a todo tempo, que estarão lá apenas para os pais irem trabalhar. Será que isso oficializa o papel da escola no nosso país? Escola aqui é apenas um depósito?

Essa questão é delicada, eu sei. Temos realmente uma economia que já apanhou bastante e precisa, devagar, retomar. E para isso os pais precisam voltar pro trabalho. Para isso, precisamos das crianças nas escolas. As mães foram as que mais perderam emprego durante essa crise, 39%. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), realizada pelo IBGE, pelo menos sete milhões de mulheres abandonaram o mercado de trabalho apenas na última quinzena de março de 2020.

Isso porque, numa cultura patriarcal em que a criança é filho da mãe, elas são as que sofrem quando não tem quem mais possa cuidar da criança.

A grande questão é que essa conta não fecha porque não foi bem cuidada, o MEC segue ignorando a questão sem tomar decisões claras, e o auxílio emergencial - que poderia salvar muitas dessas famílias - agora já está beirando chegar ao fim. Como aliar todas essas coisas? Somente um Ministro da Educação que entende de educação em uma reunião com um Ministro da Saúde que entende de saúde para resolver essa questão.

Vale lembrar que, segundo A Gazeta, só no Estado do Espírito Santo temos 526 crianças confirmadas com o vírus, sendo 4 mortes e 5 com suspeita de portar a síndrome rara que pode ter relação com o vírus. E precisamos lembrar que esses números só estão assim ‘baixos’ (aqui estamos falando de uma provável subnotificação dos casos e, também, de poucas mortes comparadas com as mais de 3000 mortes de adultos).por que essas crianças estavam sem escola, teoricamente em isolamento social, e que há grande probabilidade que esse número de crianças infectadas e mortas fossem muito maior caso estivessem frequentando escolas.

E se é difícil para uma escola controlar quando uma criança chega com piolho, que saem praticamente todas com a cabeça coçando, imagina só um vírus, que é absolutamente mais difícil de controlar.

Na Georgia, EUA, seis dias após a reabertura da escola, mais de 820 alunos e 260 funcionários tiveram que fazer isolamento total por causa de aluno infectado. Já na França, uma semana após a reabertura foram fechadas mais de 70 escolas. Na Alemanha, duas escolas que reabriem tiveram que fechar logo após abertura. Enquanto em Israel a reabertura das escolas causou novo surto da doença.

Conclusão? A situação é complicada e bem delicado, não te trago solução nessa coluna. Mas o que tenho para dizer de mais importante é que essa não é uma decisão que cabe a mim nem a você, não é questão de opinião pessoal, precisa ser algo estudado. É necessário analisar esses históricos de países e cidades que reabriram as escolas, analisar as pesquisas científicas que estão sendo feitas sobre o tema, entendo como tem sido em outros países, analisando de forma macro para então ser decidida de forma séria, por cientistas e pesquisadores que entendem muito mais do que a gente.

Para isso, seria muito bom ter nos nossos ministérios da saúde e da educação profissionais sérios que entendam dos temas aos quais seus cargos são voltados, aliados à ciência. Não é o que temos. E ai, qual a solução para essa questão?

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