Publicado em 15 de maio de 2020 às 10:01
Qual foi a última coisa que você fez pela primeira vez? O isolamento social - aliado ao tempo disponível - tem dado a oportunidade das pessoas experimentarem novas atividades. E com os idosos não é diferente. Eles também têm se reinventado nessa quarentena imposta pelo coronavírus. >
Nilda Vasconcellos, 91 anos, há 30 frequenta as aulas de teclado. E, pela primeira vez, teve a oportunidade de fazer o estudo por videochamada. "Achei que não fosse conseguir, mas até que me adaptei bem. Vou tocando e a professora vai me acompanhando. Quando erro ela corrige imediatamente", conta. A aula acontece uma vez por semana e dura 45 minutos. A tecnologia, que poderia ser algo dificultador, é resolvida com ajuda dos netos. São eles que conectam a avó em sua aula on-line. >
A música sempre fez parte da vida de dona Nilda. "Sempre gostei. Meu marido me acompanhava e me incentivava". A atividade tem feito esse período de isolamento social menos angustiante. A professora de piano e teclado, Silvânia Saadi, conta que decidiu optar pelas aulas por videochamada logo no início da quarentena. "Faço aulas assim com meu professor que mora em Portugal. Com o isolamento social decidi aderir com as minhas alunas. Tenho várias que são idosas e, no início, elas ficaram receosas. O primeiro encontro virtual foi para ensinar a mexer no celular, depois vieram as aulas práticas. Tem dado supercerto". Para Silvânia, é fundamental continuar com a atividade. "Além de terem uma ocupação em casa, exercitam a cabeça e os dedos, evitando artrose e artrite". >
Manter a mente e o corpo ativos não é apenas uma forma de passar o tempo durante a quarentena. O psicólogo Gustavo Souza, da Jequitibá Residência Assistida, explica que é essencial que o idoso se mantenha vigoroso durante esse período. "Estudos sobre envelhecimento indicam a importância de se manter ativo mentalmente, de praticar atividades físicas, de cultivar relações prazerosas e de investir em uma boa alimentação. A atividade é essencial para que o idoso se mantenha bem emocionalmente e com a saúde mental preservada. A família deve ajudar nesse processo, resgatando ações como ler o jornal e sugerir jogos, por exemplo". >
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É necessário também estabelecer um hábito. "Uma rotina bem estrutura gera segurança e a sensação de pertencimento, além da compreensão de que está protegido. Isso contribui para o bem-estar. Pequenas mudanças também são importantes porque produz estímulos", diz Gustavo.>
Rotina que Edith Balbinot, 87 anos, tem se adaptado. Morando sozinha em Vitória, ela costumava fazer caminhadas na praia acompanhada de sua cachorrinha. A atividade física continua, só que de uma nova forma. "Troquei o elevador do prédio pelas escadas. Só subo de escada, é a forma que encontrei de me exercitar aos poucos". Ela também passou a fazer encontros com as amigas através das videochamadas. "E aprendi a fazer os pagamentos da minhas contas de forma digital. Não vou mais em banco e acabo me preservando", conta cheia de energia. >
Roni Chaim Mukamal, geriatra da MedSênior, explica que é preciso uma atenção especial ao idoso. "O isolamento social é importante, mas pode ter implicações psicológicas. O recomendado é que eles possam estar ativos e terem atividades, inclusive utilizando recursos tecnológicos como aulas e ginástica online. Se ficarem sozinhos, sem ocupação, podem sofrer distúrbios psiquiátricos". >
O médico diz que, com esse período confinado, a perspectiva do idoso começa a ficar limitada gerando ansiedade. "E também pode ocasionar situações de desânimo, depressão e distúrbio no sono. São sintomas que podem se agravar e gera outros mais graves, que a pessoa fica totalmente entregue achando que a vida não vai sair daquilo. Temos que ouvir o idoso", alerta.>
Ele ressalta ainda que é importante o contato social entre amigos e a família. "Fazer videochamada, ligações telefônicas... Também temos que ficar atentos ao idoso que mora sozinho, eles estão muito vulneráveis e acabam comprometendo o autocuidado". >
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