Rochas ornamentais, produção de café e de celulose e turismo. Esses são alguns dos polos que podem alavancar novos investimentos no Espírito Santo nos próximos anos. A avaliação é de In Hsieh, sócio da Chinnovation e da IEST Group, empresas focadas em auxiliar negócios chineses no Brasil e com atuação no Estado.
Os setores citados por In já são bem estruturados na economia capixaba, entretanto, avalia o administrador, têm potencial para despertar interesse do mercado chinês e de outros olhares no comércio exterior, movimentando centenas de milhões de reais em novos negócios — tendo a conexão à inteligência artificial (IA) como o “motor de tudo”.
Em conversa com A Gazeta às vésperas do Pedra Azul Summit 2025, que será realizado de 17 a 19 de outubro, na Região Serrana capixaba, In, que palestra no evento no painel de Inovação e Tecnologia, marcado para o sábado (18), deu detalhes sobre o que está em alta nos setores e como o Espírito Santo pode se beneficiar com sua infraestrutura logística, já que tem padrão internacional em uma base exportadora sólida e um ambiente de negócios estável.
“Fatores que o tornam altamente atrativo para conectar cadeias produtivas locais ao ecossistema chinês de tecnologia e consumo”, avalia.
Nascido em Curitiba (PR) e com descendência chinesa, o convidado da Rede Gazeta traz na bagagem cases de sucesso, como a participação na equipe que deu o pontapé inicial no Submarino, uma das empresas pioneiras no comércio eletrônico nacional, e na inserção da Xiaomi no Brasil. Confira a entrevista abaixo.
Fale um pouco sobre você e sobre seu cargo atual, por favor.
Estou no mercado de internet desde o seu início no Brasil, em 1999. Sou considerado um dos profissionais mais ativos do setor, tanto em projetos e principalmente no apoio ao ecossistema. Além dos meus próprios negócios, produzo conteúdo, particípio e organizo eventos, dou palestras, mentorias, entre outras coisas. Um desafio profissional é encontrar ou desenvolver modelos de negócios sustentáveis e replicáveis. Não é só acertar uma vez, mas conseguir entender a lógica e reproduzir 'N' vezes. Mais da metade dos meus projetos, negócios e investimentos falharam. Cada erro é uma chance de aprendizado. Minha missão de vida é conectar Brasil e China, tanto os países quanto seus povos e empresas.
Como começou no ramo do e-commerce?
Comecei na equipe que fez ostartup do Submarino, em 1999. Um pouco antes, já tinha montado negócios de e-commerce que não deram certo.
Apesar disso, quais são os maiores cases de sucesso que você tem?
Submarino foi um dos maiores em porte e faturamento, mas acabou fechando em decorrência da crise da Americanas. Xiaomi no Brasil não deu tão certo na primeira entrada, mas ela é o maior case que participei globalmente. Sempre falo muito abertamente que mais da metade dos projetos em que me envolvi não deram certos. Porém, viraram aprendizados, e muitos deram origem a outros bem sucedidos.
Então, seu trabalho está ligado a inovações nacionais ou mundialmente conhecidas no e-commerce?
Sim. Ao longo dos últimos anos, participei diretamente de alguns dos movimentos que mais transformaram o comércio eletrônico no Brasil — muitos deles inspirados em modelos vindos da China. Um exemplo foi a introdução do live commerce, o formato de vendas ao vivo que mistura entretenimento, influência e compra instantânea, lançado aqui em parceria com grandes varejistas nacionais.Além disso, a Chinnovation vem desenvolvendo estratégias de inovação para grupos econômicos do Espírito Santo. É um caso emblemático de como empresas tradicionais podem adotar tecnologias e metodologias de crescimento rápido — inspiradas na China — para transformar seus negócios e preparar-se para o futuro digital.
Como é a atuação da Chinnovation? A empresa tem o Espírito Santo como alvo?
Atuamos em três frentes principais: estratégia e go-to-market (planejamento para entrar em novos mercados), formação executiva em parceria com a Alibaba Global Initiatives e projetos de conexão empresarial que aproximam grupos econômicos, startups e investidores. O Espírito Santo é um dos pontos estratégicos dessa rede. O Estado combina infraestrutura logística de padrão internacional, base exportadora sólida e um ambiente de negócios estável, fatores que o tornam altamente atrativo para conectar cadeias produtivas locais — como rochas ornamentais, café, aço, celulose e turismo — ao ecossistema chinês de tecnologia e consumo.
Para In, com o crescimento das conexões entre Espírito Santo e o mercado chinês, grandes investimentos podem chegar ao Estado nos próximos anos, principalmente os ligados a parcerias industriais e inovação.
Nesse sentido, como você avalia o momento atual do mercado de inovação no Brasil?
O mercado brasileiro está mais seletivo e exigente, mas também mais maduro. Hoje, não basta ter uma boa ideia — é preciso saber executá-la com velocidade e eficiência. Vemos setores como finanças, agronegócio e varejo digital em fase de consolidação, enquanto outras áreas ainda buscam traduzir inovação em resultados reais. O capital continua disponível, porém com foco em empresas que demonstram unit economics saudáveis, ou seja, equilíbrio entre custo e receita. Nesse cenário, a inteligência artificial aplicada ao dia a dia dos negócios surge como a principal fronteira de crescimento.
E o Espírito Santo nesse contexto? Para onde estamos caminhando?
O Espírito Santo está muito bem posicionado. O Estado tem tudo para se tornar um hub de eficiência e inovação logística do Brasil. Com portos modernos, cadeias exportadoras fortes e uma cultura empresarial sólida, o próximo passo é transformar essa estrutura em vantagem competitiva por meio de tecnologia — inteligência artificial, automação, dados e sustentabilidade. Vejo o Espírito Santo caminhando para formar clusters de inovação, grupos de empresas, universidades e startups que colaboram entre si, especialmente nos setores de rochas ornamentais, café, celulose e turismo.
Então, existem projeções sobre investimentos chineses no Espírito Santo?
Sim. Há um interesse crescente de empresas chinesas em investir em infraestrutura portuária, energia e indústria, com foco em eficiência e sustentabilidade. Alguns projetos estão em análise e, com segurança jurídica e governança adequadas, esses investimentos podem alcançar centenas de milhões de reais nos próximos três a cinco anos. A indústria de rochas ornamentais, por exemplo, desperta grande interesse internacional, especialmente quando associada a tecnologias de automação e rastreabilidade. O café capixaba, com sua qualidade reconhecida, também ganha visibilidade em plataformas digitais e marketplaces internacionais.
Além disso, In destaca que oportunidades para tecnologias voltadas a operações portuárias e logísticas também estão no radar, com investimento em energia inteligente e turismo digital — segmento em que o uso de dados pode elevar o patamar de competitividade das empresas capixabas.
Como está e como pode ser melhorada a relação do Espírito Santo com a China?
A relação é positiva, mas ainda muito concentrada na exportação de commodities. O próximo passo é estruturar uma agenda permanente de cooperação, como um “China Desk Espírito Santo”, que reúna governo, empresas e universidades para desenvolver projetos conjuntos, atrair investimentos e preparar o Estado para competir globalmente. Também é importante investir em laboratórios conjuntos de pesquisa e desenvolvimento e em programas de internacionalização de marcas capixabas, com conteúdo em chinês e estratégias digitais direcionadas ao público asiático.
O Espírito Santo vem se posicionando como hub logístico. Como isso impulsiona a inovação?
Quando a logística é eficiente, ela se torna uma plataforma de inovação. Cada operação — seja um navio que chega ao porto, seja um caminhão que sai de um centro de distribuição — gera dados que podem ser analisados por sistemas inteligentes para reduzir custos e melhorar a eficiência. Isso, naturalmente, atrai startups e empresas de tecnologia, criando um ecossistema virtuoso de inovação.
Quais startups capixabas estão em alta hoje?
O Estado tem mostrado boas iniciativas em logística, agro, indústria e turismo, com empresas que nascem próximas às cadeias produtivas e aplicam tecnologia para resolver problemas reais — desde rastreabilidade e monitoramento até gestão de performance e experiência do cliente. Ainda há muito espaço em automação industrial, energia limpa, governos digitais e saúde inteligente. São áreas estratégicas que impactam diretamente a competitividade do país e que ainda carecem de soluções escaláveis e acessíveis.
Com o avanço da digitalização, o que diferencia quem tem sucesso?
A capacidade de agir rápido, medir resultados e ajustar com disciplina. As empresas de maior sucesso testam, aprendem e evoluem constantemente. Também constroem uma comunidade em torno da marca, transformando clientes em defensores e não apenas em compradores. E tudo isso só funciona se houver uma operação confiável — produto certo, entrega pontual e uma boa história por trás. Os principais indicadores são os que medem o que realmente importa: venda e fidelização. Não é só sobre tráfego, mas sobre taxa de conversão, recompra, satisfação e eficiência logística. No final, o sucesso de uma inovação digital se mede pela confiança e pela recorrência do cliente.
Para uma startup de e-commerce começando, como planejar logística e operação?
O segredo é começar com estrutura leve e processos bem definidos: entrega rápida, devolução simples e atendimento humanizado. À medida que o negócio cresce, é essencial integrar canais (como marketplaces e loja própria) e usar dados para tomar decisões de estoque e distribuição. O Espírito Santo, com sua localização estratégica e rede portuária eficiente, pode ser uma base ideal para startups que desejam atender o Brasil inteiro com qualidade e custo competitivo.
Quais tecnologias vão definir o futuro do e-commerce nos próximos anos?
A inteligência artificial será o motor de tudo — desde precificação e atendimento até criação de conteúdo. O vídeo e a realidade aumentada transformarão a forma como compramos. E ferramentas financeiras como o Pix e o Open Finance, que permitem pagamentos e reembolsos instantâneos, vão tornar a experiência ainda mais fluida.
Qual é o maior risco e a maior oportunidade para o empreendedor brasileiro hoje?
O maior risco é ficar parado — esperar o cenário ideal para agir. O mercado muda rápido demais para isso. A maior oportunidade, por outro lado, está em criar soluções locais com mentalidade global, especialmente aproveitando a ponte comercial e tecnológica entre Brasil e China.
E qual conselho você daria a um empreendedor capixaba que quer internacionalizar sua startup?
Escolha um produto com identidade e diferencial, que conte uma boa história, e prepare-o para o mundo desde o início. Invista em materiais em inglês e chinês, certificações e canais digitais bem estruturados. Use o Espírito Santo como base logística e vitrine internacional. E, acima de tudo, aja rápido — no cenário global atual, quem aprende e executa primeiro, lidera.
O Pedra Azul Summit 2025
Com apresentação dos jornalistas Geraldo Nascimento, editor-chefe de A Gazeta e Rádio CBN Vitória, e Rafaela Marquezine, apresentadora da TV Gazeta, além de In Hsieh, a 20ª edição do Pedra Azul Summit traz nomes como Gustavo Pimenta, CEO da Vale, e o diretor-presidente da Globo, Paulo Marinho.
O evento ainda conta com a participação de Natuza Nery, jornalista e comentarista da Globo News, e de Carlos Melo, mestre e doutor em Ciência Política, no painel Panorama Político.
Já entre os convidados do painel Panorama Econômico estão Samuel Pessôa, pesquisador do banco BTG Pactual e Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo e atual presidente executivo da Indústria Brasileira de Árvores (IBA).
Na área da Inovação e Tecnologia, Rubens Monteiro, diretor de pesquisa e estratégia, palestra ao lado de In Hsieh pouco antes do encerramento com a palestra do governador Renato Casagrande.
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