Publicado em 1 de março de 2020 às 16:20
Em um momento muito aplaudido do pronunciamento de abertura do ano legislativo na Argentina, o presidente Alberto Fernández anunciou que enviará ao Congresso um novo projeto de legalização do aborto "dentro de dez dias".>
A fala foi uma das mais ovacionadas durante os quase 80 minutos de discurso do peronista neste domingo (1º), diante de deputados e senadores. Do lado de fora do Congresso, em Buenos Aires, milhares de manifestantes também receberam a notícia com entusiasmo. >
A abertura do ano legislativo é um ritual importante no calendário do país. O presidente de centro-esquerda recém-empossado, acompanhado da vice, Cristina Kirchner, apresentou as prioridades para 2020. Outro tema abordado pelo peronista foi a renegociação da astronômica dívida argentina.>
O chefe de Estado disse que a lei de 1921 que regula o aborto --permitido em casos de estupro ou risco de saúde para as mulheres-- "não é eficaz". O projeto de Fernández autorizará o aborto "no momento inicial" da gravidez, mas ele não especificou qual período é este.>
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"A decisão individual da mulher de dispor livremente de seu corpo deve ser respeitada", completou.>
Em 2018, a Câmara dos Deputados havia aprovado um projeto para a interrupção da gravidez até a 14ª semana de gestação, apenas pela vontade da mulher e em hospitais públicos, mas a medida foi rejeitada no Senado, em parte por influência da Igreja católica sobre os legisladores.>
Cerca de 400 mil abortos clandestinos são realizados todos os anos na Argentina, de acordo com organizações de direitos das mulheres.>
Sobre a reestruturação da dívida externa, o presidente quer um acordo que permita que a Argentina "se coloque de pé e não caia novamente". Mas a tarefa não será fácil, pois a tentativa é de renegociar a dívida de US$ 311 bilhões de dólares com credores diversos, baixando-a para US$ 195 bilhões, o equivalente a 57% do PIB do país.>
Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) deu sinal positivo ao discurso do governo, pedindo aos credores que tenham boa vontade para conversar e que, eventualmente, aceitem reduções do valor das cotas e adiamentos dos pagamentos.>
Em março, o país apresentará uma proposta aos credores, enquanto avança nas negociações com o FMI. "Não há alternativa pior do que a austeridade fiscal nas recessões, pois leva à mais pobreza e desigualdade. Não pagaremos à custa da pobreza e da fome dos argentinos. Essa premissa será a base das ofertas que serão feitas nas próximas semanas", disse Fernández.>
A Argentina está em recessão há quase dois anos, com a taxa de pobreza batendo na casa dos 40% e uma inflação de 53,8% no ano passado.>
Há dois anos, durante o governo de Mauricio Macri, a Argentina pegou um empréstimo de US$ 57 bi com o FMI, dos quais recebeu US$ 44 bi. Fernández, ao assumir, abriu mão do restante.>
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