Publicado em 30 de dezembro de 2019 às 12:16
Após protestos na capital da Província de Mendoza, na Argentina, comandados por estudantes urbanos e por camponeses que vieram do interior, o governo derrogou uma lei aprovada na última semana e que, se fosse promulgada, derrubaria a Lei da Água, que, até agora, vem evitando a contaminação causada pelos projetos de mineração.>
O governador, Rodolfo Suárez, desistiu de sua empreitada depois de mais de uma semana de atos ruidosos nas ruas da pacata cidade.>
Mas, mesmo suspendendo temporariamente sua implementação, os manifestantes não deixaram de protestar. Até que, na noite de sexta-feira (27), decidiu que derrubaria de vez a lei.>
Suárez, porém, insiste que é preciso aumentar o número de projetos de mineração na região por conta da economia local, que não vai bem. E que insistirá que uma nova legislação volte a ser redigida, em termos que abarquem as preocupações de ambientalistas. >
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Desde 2007, a Lei da Água regulamenta e garante que exista água de qualidade para a agricultura local, para o consumo dos moradores e para a fabricação do vinho. Hoje, 80% do vinho feito na Argentina vêm de Mendoza.>
O problema é que a Província, semiárida, já não possui a quantidade de água suficiente para atender a todas essas demandas. Uma das razões é que sua principal fonte -o degelo da neve das montanhas locais- vem sendo cada vez menor devido ao aquecimento global.>
A legislação que foi barrada pela força dos protestos colocaria a pequena quantidade de água disponível em risco, liberando o uso de ácido sulfúrico, cianeto e outros químicos tóxicos para ampliar projetos de mineração. >
Assim que os mendocinos venceram essa batalha, um novo levante popular teve início, na Província de Chubut, onde o governo também tenta alterar a legislação local para expandir projetos de mineração.>
Desde quinta-feira (26) há atos e protestos ocorrendo nas cidades de Esquel, Puerto Madryn e Rawson.>
A questão ambiental era um tema quase inexistente na agenda política argentina. Nem peronistas nem anti-peronistas se preocupavam com isso. >
Porém, a sociedade, principalmente os jovens, tem forçado a entrada dos temas ambientais na agenda. Há alguns anos, visitei o Cordão de Famatina, conjunto de montanhas de picos gelados no interior da província de La Rioja. >
Foi comovente ver como a população local bloqueou dia e noite uma estrada para impedir a construção de uma mina a céu aberto que acabaria com o suprimento de água local. >
Outras pequenas cidades do norte não tiveram a mesma sorte e vem tendo de ser praticamente evacuadas por falta de água. >
Em Salta, vastas áreas de florestas antes protegidas por lei foram desmatadas para dar lugar a plantações de soja. Em Neuquén, o fracking contamina a produção de frutas, como as peras e maçãs argentinas, exportadas mundialmente.>
A população de Mendoza deu uma demonstração de que a sociedade está mais atenta e deve exigir das autoridades mais preocupação com o ambiente. Disso depende não só a economia do país, mas a saúde dos argentinos.>
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