Publicado em 18 de dezembro de 2019 às 22:02
A presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, decidiu fazer um discurso fatalista para abrir as seis horas de debate que precederam a votação do impeachment de Donald Trump.>
Ao subir à tribuna nesta quarta-feira (18), a democrata afirmou que o presidente americano havia violado a Constituição do país e deixado os parlamentares sem opção.>
"Se não agirmos agora, estaríamos abandonando nosso dever. É trágico que as ações imprudentes do presidente façam que o impeachment seja necessário. Ele não nos deu escolha.">
Diante de cerca de 180 deputados -150 democratas e 30 republicanos presentes no início da sessão-, Pelosi descreveu Trump como "uma constante ameaça à segurança nacional e à integridade das eleições dos EUA.">
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Foi aplaudida de pé pelos correligionários quando disse que estava ali em defesa da democracia para o povo. Do lado republicano, porém, ninguém se mexeu.>
Era o começo de uma tarde que parecia ensaiada e de resultados previsíveis, mas que não deixou de contar com algumas performances memoráveis.>
A acusação do lado esquerdo do plenário, fisicamente ocupado por democratas, era de que Trump cometeu os crimes de abuso de poder e obstrução dos poderes investigativos do Congresso ao pressionar a Ucrânia a investigar Joe Biden, um de seus principais adversários na disputa de 2020, e ao tentar atrapalhar as investigações depois que o episódio fora descoberto.>
Do lado direito, onde ficam os republicanos, a defesa era de que o presidente não cometeu irregularidades e que o processo de impeachment é uma perseguição sem provas ao chefe da Casa Branca.>
Os argumentos para defender cada tese passavam, por parte da oposição, pela retórica de que ninguém está acima da lei, nem mesmo o presidente. >
Por parte dos aliados de Trump, era comum ouvir que democratas abusam do poder para tentar destituir o republicano, mas também houve um pedido de um minuto de silêncio em homenagem aos eleitores do presidente e citações ao diabo e a Pôncio Pilatos, romano que condenou Jesus à morte, de acordo com o Novo Testamento.>
"Desci dentro do ventre da besta. Testemunhei o terror em seu interior. E me comprometo a me opor às forças insidiosas que ameaçam nossa república", afirmou o republicano Clay Higgins, de Louisiana.>
Foi seguido por Barry Loudermilk, deputado republicano da Geórgia. "Antes de fazerem esta votação hoje, uma semana antes do Natal, quero que tenham em mente o seguinte: quando Jesus foi falsamente acusado de traição, Pôncio Pilatos deu a Jesus a oportunidade de encarar seus acusadores. Durante esse julgamento vergonhoso, Pôncio deu a Jesus mais direitos do que os democratas deram ao presidente neste processo.">
Responsável por redigir as acusações contra Trump, Jerry Nadler, que comanda o Comitê Judiciário da Câmara, respondeu: "Foi dado ao presidente a oportunidade de depor e interrogar as testemunhas, mas ele se recusou." O democrata também interveio quando o republicano Chris Stewart disse que a votação desta quarta nada tinha a ver com a Ucrânia, mas sim com o ódio da oposição a Trump. "Acham que somos estúpidos, que cometemos um erro. Acham que Hillary Clinton deveria ser presidente e querem corrigir isso.">
"Gostaria de lembrar ao cavalheiro que, se o presidente Trump sofrer impeachment e for removido do cargo, o novo presidente será [o vice-presidente] Mike Pence, não Hillary Clinton", disse Nadler.>
Ouviu um "obrigado" entre risos do lado governista.>
Durante toda a tarde, as poltronas de couro marrom da Câmara acomodavam centenas de parlamentares que entravam e saíam do plenário durante os discursos.>
As dezenas que escolhiam ficar e ouvir os oradores revezavam-se entre cochichos com os colegas, leituras de papéis impressos e checadas na tela do celular.>
Nancy Pelosi passou grande parte do tempo sentada na penúltima fileira do lado democrata. De tempos em tempos, levantava-se para conversar com membros de seu partido.>
Uma assessora mostrava seguidas papeladas, que ela checava rapidamente, sem fazer muitos comentários.>
Aliados e mesmo adversários dizem que a presidente da Câmara é especialista em angariar votos e só abriu o inquérito contra Trump, em setembro, quando teve certeza de que teria apoio para aprová-lo.>
Por muito tempo, a cúpula do Partido Democrata -Pelosi inclusive- resistiu em fazer avançar o impeachment no Congresso.>
Sabia que, apesar da aprovação certa na Câmara, o Senado, de maioria republicana, absolveria o presidente.>
A sessão desta quarta começou por volta das 9h (11h de Brasília), com a tentativa frustrada dos republicanos de adiarem a votação -foram 226 votos a 188 contra a medida.>
Antes da chancela às regras do processo, assessores avisavam aos deputados democratas que mais republicanos estavam a caminho do plenário e aconselhavam que eles não deixassem o local.>
Dos 431 deputados da Câmara, 233 são democratas e 197, republicanos. Um se declara independente e há quatro vagas em aberto (um deputado morreu e três renunciaram).>
A maioria simples, de 216 votos se todos os parlamentares estiverem presentes, era suficiente para aprovar o impeachment de Trump nesta quarta, mas não para tirar o presidente da Casa Branca.>
O processo ainda seguirá para o Senado, de maioria republicana, que conduzirá uma espécie de júri para chancelar ou não a acusação dos deputados.>
Ali, são necessários dois terços dos votos para tirar o presidente do cargo -cenário remoto, visto que os republicanos têm 53 dos 100 senadores da Casa.>
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