Publicado em 25 de agosto de 2020 às 14:26
O aumento da tensão diplomática com os Estados Unidos e a disposição do governo Donald Trump em facilitar o emprego da bomba atômica levaram os chineses a aumentar seus treinamentos para o caso de um ataque nuclear.>
Desde abril, a Força de Foguetes do Exército de Libertação Popular tem feito exercícios até aqui inéditos, em conjunto com outros ramos das Forças Armadas.>
O jornal honconguês South China Morning Post compilou relatos distribuídos pelos militares chineses em redes sociais das forças e do jornal PLA Daily, o diário do Exército.>
Dois vídeos recentes, postados no fim de semana, chamaram a atenção. Num, quatro brigadas de primeiros-socorros vão ao socorro de soldados numa base a 2.000 km de distância que foi atacada com uma ogiva nuclear à noite.>
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No outro, é descrito o maior exercício já feito sobre o tema, com milhares de soldados e centenas de veículos militares protegidos contra radiação sob o sol escorchante do deserto do Gobi.>
Segundo disse ao jornal o especialista Antony Wong Tong, a operação no Gobi envolveu tanques pesados, indicando também a ideia de um confronto armado dentro do cenário de ataques nucleares.>
Diferentemente dos exercícios aeronavais recentes, destinados a enviar sinais de força e preparação para os Estados Unidos e rivais como Taiwan, essas simulações são vistas por analistas militares chineses como uma preocupação real do Exército de tratar de uma área subestimada.>
Há duas semanas, os EUA posicionaram três bombardeiros furtivos B-2, com capacidade nuclear, na sua base na ilha de Diego Garcia, no oceano Índico.>
Desde 2017, com a chegada de Trump ao poder, os países vivem um crescente conflito. Essa Guerra Fria 2.0 envolve a área econômica, tecnológica, diplomática e militar -os americanos elevaram seus exercícios no contestado mar do Sul da China, levando a uma reposta proporcional de Pequim, que reclama 85% da área para si.>
A ambiguidade deliberada da política nuclear norte-americana é outro fator de estresse. Os EUA flexibilizaram os cenários em que podem empregar armas atômicas ao revisar suas diretrizes, em 2018. A ideia ampliar o leque de situações em que pode ser feito o uso tático, pontual, de armas menos destruidoras.>
Por ordem de Trump, foi desenvolvida uma nova ogiva, a W76-2, de baixa potência em comparação com as armas usualmente usadas. Ela foi colocada em operação em mísseis disparados por submarinos Trident no começo deste ano.>
O problema é que uma explosão nuclear é sempre catastrófica e, pior, pode levar a uma escalada que chegue à troca de fogo com as armas estratégicas -aquelas destinadas a inviabilizar o inimigo e que, considerando o arsenal existente, acabariam com a civilização.>
EUA e Rússia concentram mais de 90% das bombas existentes, e têm 1.750 e 1.570 armas prontas para uso, respectivamente. Já a China vem num distante terceiro lugar, com 320 ogivas.>
Ainda assim, os americanos buscaram incluir Pequim nas travadas negociações do Novo Start (sigla inglesa para Tratado de Redução de Armas Estratégicas), que vence em fevereiro de 2021.>
Não deu certo, mas na semana passada Washington disse que aceitaria renovar o acordo se os russos topassem incluir mísseis de menor alcance na cesta de armas a serem verificadas de lado a lado.>
Nos últimos anos, o governo Trump retirou os EUA de dois acordos importantes de controle de armas e mudou sua doutrina, enquanto o russo Vladimir Putin anunciou o desenvolvimento de uma nova família de ogivas estratégicas.>
A opção americana por armas relativamente menos potentes assustou o Kremlin, que reforçou sua própria doutrina e disse que qualquer míssil disparado de submarino contra si ou aliados seria considerado uma arma nuclear e receberia retaliação atômica.>
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