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Ataque foi premeditado; veja linha do tempo da escalada da tensão entre Rússia e Ucrânia

Ataque foi premeditado; veja linha do tempo da escalada da tensão entre Rússia e Ucrânia

É a mais grave crise militar na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Putin justificou ação militar para proteger separatistas no leste e ameaçou quem tentar interferir

Publicado em 24 de fevereiro de 2022 às 11:23

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As tropas russas lançaram seu   ataque   antecipado à Ucrânia. Grandes   explosões   foram ouvidas antes do   amanhecer em   Kiev, Kharkiv e Odesa,
Fumaça sobe de uma base de defesa aérea, onde equipamentos militares foram atingidos, após um aparente ataque russo em Mariupol, na Ucrânia. (SERGEI GRITS/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO)

Após quatro meses de crise com o Ocidente, a Rússia decidiu atacar a Ucrânia nesta quinta-feira (24). A Rússia disse se tratar de uma “operação militar especial”, mas Kiev chamou de invasão total. Putin justificou ação militar para proteger separatistas no leste e ameaçou quem tentar interferir. ONU pediu que ele recue e Biden disse que guerra será catastrófica. É a mais grave crise militar na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

DEZEMBRO DE 2021

A crise mais recente entre a Rússia e a Ucrânia teve início quando os russos começaram a acumular militares em regiões próximas da fronteira entre os dois países, já no fim de 2021.

Os temores foram alimentados pelos mais de 100 mil soldados russos posicionados ao longo da fronteira ucraniana e por uma série de demandas apresentadas por Moscou em meados de dezembro, tais como: o compromisso de que a Ucrânia nunca se junte à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan); limitações às tropas e armas que podem ser implantadas nos países que aderiram a essa aliança após a queda da União Soviética (URSS); e a retirada da infraestrutura militar instalada nos estados do Leste Europeu após 1997.

Isso demonstra a intenção de retornar às fronteiras existentes na Europa Oriental durante a Guerra Fria, na visão de especialistas.

Os Estados Unidos viram uma ameaça "iminente" da Rússia à Ucrânia, colocaram cerca de 8,5 mil soldados em alerta para serem enviados ao Leste Europeu, deslocaram navios de guerra ao Mar Negro e ordenaram a evacuação dos parentes de seus diplomatas em Kiev, a capital da Ucrânia.

Por outro lado, o governo do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, pediu calma, afirmando que essa crise começou com a invasão russa da península da Crimeia e a ocupação por grupos pró-russos na região de Donbass, no leste da Ucrânia, onde desde 2014 quase 14 mil pessoas morreram.

FEVEREIRO DE 2022

21 de fevereiro

Inicialmente, os russos negaram que tinham pretensões de invadir o país vizinho. No entanto, na segunda-feira, 21 de fevereiro, o presidente Vladimir Putin tomou duas decisões:

  • reconheceu as regiões de Donetsk e Luhansk como repúblicas independentes da Ucrânia; 
  • autorizou o envio de militares russos para 'manter a paz' nas regiões separatistas da Ucrânia.

23 de fevereiro

Na noite desta quarta (23), a ONU realizou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança para debater a crise entre Rússia e Ucrânia. O encontro começou perto de 21h40 em Nova York (23h40 em Brasília), e terminou sem que medidas fossem adotadas -o que de resto era previsível.

O primeiro discurso foi de António Guterres, secretário-geral da ONU. Ele fez um apelo claro ao presidente russo Vladimir Putin: "Se uma operação está sendo preparada, eu só tenho uma coisa a dizer, do fundo do meu coração: impeça suas tropas de atacar a Ucrânia. Dê uma chance a paz. Muitas pessoas já morreram".

A operação estava prestes a estourar. Poucos minutos após a fala de Guterres, Putin anunciou em discurso na TV estatal russa uma operação militar em território ucraniano.

24 de fevereiro

Na madrugada desta quinta-feira, dia 24 de fevereiro, o presidente russo ordenou a invasão do território ucraniano. Tudo começou com um pronunciamento às 5h45 (23h45 da quarta, 23, em Brasília), no qual Putin anunciou uma "operação militar especial" para "proteger a população do Donbass", região do vizinho na qual ele reconheceu áreas rebeldes pró-Rússia na segunda (21).

Ele disse que quer trazer à justiça quem cometeu o que chamou de "genocídio" e "crimes" contra russos nas áreas, além de "desmilitarizar e desnazificar" a Ucrânia.

"As repúblicas do Donbass nos procuraram e pediram ajuda. O objetivo [da "operação militar especial] é proteger o povo do abuso e do genocídio a que ele vem sido submetido pelo regime de Kiev. Para isso, vamos buscar desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia, e levar à justiça aqueles que cometeram numerosos crimes sangrentos contra um povo pacífico, incluindo cidadãos russos", disse Putin.

O Donbass é talvez 80% russófono e tem cerca de 4 milhões de pessoas nas áreas rebeldes. Desses, 800 mil têm passaporte de Moscou. Nessa fala, o presidente russo delineou a justificativa da ação para seu público interno.

A "desnazificação" a que ele se refere ressoa fortemente na Rússia, já que de fato há elementos nas Forças Armadas da Ucrânia com associações neonazistas -como o famoso Batalhão Azov, que usa insígnia da SS nazista. Os alemães lutaram contra os soviéticos pelo controle da Ucrânia na Segunda Guerra Mundial.

Pouco após o anúncio da invasão feito por Putin, começaram relatos na imprensa de sons de explosões e artilharia nas cidades ucranianas de Kharkiv e Kiev, entre outras. Centros de comando militar nessas duas cidades foram atacados com mísseis, segundo disse uma fonte do Ministério do Interior a um site ucraniano. O aeroporto da capital foi esvaziado e teve os voos suspensos.

Ucrânia adota Lei Marcial

Pouco após começarem a surgir informações de uma ampla ação russa em diferentes áreas da Ucrânia, o presidente Volodymyr Zenlensky divulgou na manhã desta quinta-feira (24) uma mensagem pedindo calma e informando que está adotando lei marcial (quando regras militares substituem as leis civis comuns de um país).

"A invasão da Ucrânia começou", afirmou o ministro do Interior ucraniano, Denis Monastirski, citando ataques com artilharia e mísseis. "É uma invasão total", disse seu colega chanceler, Dmitro Kuleba, no Twitter.

UKR - RÚSSIA/UCRÂNIA/ATAQUE - INTERNACIONAL - Pessoas observam fragmentos de   equipamento militar na rua após um   aparente ataque russo em Kharkiv, na   Ucrânia, nesta quinta-feira, 24 de   fevereiro de 2022.
Pessoas observam fragmentos de equipamento militar na rua após um aparente ataque russo em Kharkiv, na Ucrânia. (ANDREW MARIENKO/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO)

O país decretou lei marcial e fechou seu espaço aéreo. O presidente Volodimir Zelenski divulgou vídeo afirmando que os russos atacaram pontos de fronteira e infraestrutura militar do país.

"Fiquem calmos", disse, afirmando que o presidente Joe Biden prometeu apoio dos EUA. O presidente americano, que desde janeiro fala em "invasão iminente" dos russos, afirmou que o país "será responsabilizado" pelos ataques. O líder do país que comanda a Otan, a aliança militar ocidental, anunciou sanções econômicas e prometeu outras ainda mais duras em caso de ação armada de Putin.

Zelensky afirmou que armas já estão sendo distribuídas entre os cidadãos ucranianos, e pediu para que as pessoas que se consideram aptas a “defender a Ucrânia” procurem os centros do exército nas cidades.

Há sinais claros de um ataque amplo, mas não se sabe se é uma invasão total nos termos colocados por Kiev e pelo Ocidente. Putin disse estar cumprindo o que havia prometido: enviar tropas para apoiar as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, e negou que irá ocupar território.

UKR - RÚSSIA/UCRÂNIA/ATAQUE - INTERNACIONAL , nesta quinta-feira, 24 de   fevereiro de 2022.
Engarrafamentos são vistos quando as pessoas deixam a cidade de Kiev, na Ucrânia. (EMILIO MORENATTI/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO)

Discurso de Putin foi gravado dois dias antes da guerra, apontam dados

O discurso no qual Vladimir Putin anunciou a guerra contra a Ucrânia foi gravado na segunda-feira (21), o dia em que ele havia dito que iria reconhecer as autoproclamadas repúblicas rebeldes russas no leste do país vizinho.

É o que indicam dados e evidências. Segundo a análise de metadados do arquivo do vídeo de Putin, baixado pelo jornal independente Novaia Gazeta do site do Kremlin, a gravação de 28min03s foi feita às 19h de segunda. Ou seja, antes de ele divulgar em rede nacional sua decisão anterior, sobre as repúblicas.

Não é nem preciso tanta sofisticação. Putin usa o mesmo terno, gravata e camisa, e está sentado na mesma mesa em seu gabinete. Isso sugere que o plano de ataque já estava todo engatilhado, mesmo que o russo tenha falado que estava aberto a soluções diplomáticas –ainda que suas exigências fossem "inegociáveis".

Mesmo a reunião do Conselho de Segurança da Federação Russa, órgão consultivo comandado pelo presidente, que ocorrera naquela tarde foi televisionada nas redes estatais do país como se fosse um evento ao vivo. Mas não era, havia sido gravado.

Por óbvio, alguém poderá argumentar que tudo isso era contingência para a necessidade de algo ser feito. Mas como ações militares do porte em curso agora na Ucrânia são tudo, menos pouco planejadas, os vídeos gravados antes mostram que o lado midiático da ação já estava pronto neste ponto inicial.

CENÁRIO INCERTO

É incerto o que acontece lá: se os russos estão fazendo o que Putin anunciou, "desmilitarizar" a região em torno das ditas repúblicas rebeldes, ou se é o prenúncio de uma ocupação generalizada. Esta é a questão central que preocupa planejadores ocidentais desde a segunda-feira.

Ao anunciar que iria enviar tropas quando a situação exigisse para apoiar o Donbass, Putin não deixou claro se falava das fronteiras atuais, estabelecidas após uma guerra civil que já matou 14 mil desde 2014, ou aquelas anteriores, das antigas províncias ucranianas de Donetsk e Lugansk.O cenário desenhado até aqui é o de incapacitação das Forças Armadas ucranianas.

*Com informações de IGOR GIELOW, da Folhapress, e agências de notícias

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