Publicado em 24 de fevereiro de 2022 às 08:29
Enquanto sirenes soavam em Kiev e outras cidades ucranianas, anunciando a ofensiva russa contra o país, Moscou acordou para uma quinta-feira (24) quase normal em sua superfície.>
Houve até aqui um incidente isolado, de uma manifestante chamada Irina que tentou levantar um cartaz contra a guerra junto ao popular monumento ao poeta Alexander Púchkin (1799-1837), na elegante rua Tverskaia. Na Rússia, é proibido fazer atos sem permissão prévia das prefeituras.>
A reportagem andou por lá, pouco ao norte do Kremlin, e também ao sul, passando, passando pelo centro nervoso da cidade, a praça Vermelha. Havia um número algo maior de policiais na região, concentrados discretamente nos cantos do logradouro, mas nada tão chamativo.>
Turistas locais tiravam fotos junto ao mausoléu de Vladimir Lênin, o fundador da União Soviética cujo xará Putin disse ser o criador de uma ficção chamada Estado ucraniano, como sempre. Eram poucos, cortesia da pandemia e do frio de zero grau sob um céu plúmbeo. Era o caso de Ievguêni, morador de Iekaterimburgo (Urais, centro do país), que está visitando parentes. Ele disse ter chegado na véspera e se assustado com "grandes explosões e o céu vermelho". "Só depois lembrei do feriado", disse.>
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De fato, por volta das 20h da quarta (23), Moscou tremeu com grandes explosões e fogos de artifício que coloriram a região central a cidade: era o Dia do Defensor da Pátria, uma das datas militares sagradas para Putin, que remete à vitória soviética contra a Alemanha nazista, pilar ideológico do presidente.>
Basta ler o discurso do presidente anunciando a guerra para ver como ele trabalha o tema, falando em "desnazificar" a Ucrânia. Devido ao passado que associa a resistência aos soviéticos à invasão nazista do país vizinho, de fato vivo sem muitos disfarces em algumas unidades militares de Kiev, é algo que fala ao público russo.>
Lá do lado, no Jardim de Alexandre que margeia a muralha do Kremlin, o premiê paquistanês, Imran Khan, repetiu Jair Bolsonaro e Olaf Scholz na semana passada e depositou uma coroa de flores no Túmulo do Soldado Desconhecido antes de se encontrar com Putin. >
No sempre movimentado metrô de Moscou, não havia nada que indicasse que este é um país em guerra. As pessoas seguiam cabisbaixas, olhando para as telas de seus celulares. Já o mercado financeiro, sabendo do rebote inevitável que virá, o Banco Central tomou algumas medidas, banindo por exemplo as vendas de curto prazo de títulos russos por tempo indeterminado. A Bolsa despencou, levando ao rumor de que o pregão será suspenso.>
As casas de câmbio onipresentes nas ruas já vendiam o dólar a mais de 80 rublos, maior nível da história. A cotação bateu 85 rublos por dólar, e alguns pontos perto de áreas turísticas suspenderam os negócios. Nada parecido com o que acontece no vizinho, claro, onde os saques acima de 100 mil hrivnias (cerca de R$ 17 mil) foram proibidos nos bancos, embora as transações com cartão e online sigam normais. Compra e venda de moeda estrangeira também foram suspensas.>
O país está sob lei marcial, e o metrô de Kiev serviu tanto de abrigo antiaéreo quanto de rota de fuga para muitos moradores da capital.>
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